Portugal recebe nota positiva do Japão e abre portas a novos investidores em dívida pública
A Japan Credit Rating Agency elevou o rating de Portugal para "A+", despertando o apetite por títulos de dívida pública junto de investidores asiáticos, perante a menor participação do BCE no mercado.
A Japan Credit Rating Agency (JCR) elevou esta quarta-feira o rating de risco soberano de Portugal de “A” para “A+”, mantendo a perspetiva “Estável” para a economia.
A decisão, assinada pelos analistas Kiichi Sugiura e Sakura Yamamoto a que o ECO teve acesso, é sustentada por Portugal apresentar uma “base económica diversificada”, registar um “progresso nas reformas estruturais” e estar a assistir-se a uma “trajetória consistente de consolidação orçamental”, fatores que, segundo o relatório, “aumentam a resiliência a choques externos”.
Esta é a primeira vez desde 2012 que a agência de notação creditícia japonesa mexe no rating de Portugal, e surge depois de poucos dias da DBRS ter elevado o rating da República para “A” e cerca de três meses após o roadshow do IGCP ao continente asiático para atrair novos investidores, com vista a compensar a retirada gradual do Banco Central Europeu (BCE) do mercado de dívida.
Fundada em 1985, a Japan Credit Rating Agency é uma das principais agências de classificação de risco do Japão e, de acordo com o relatório publicado esta quarta-feira, a subida do rating da República por parte dos seus analistas assenta em quatro eixos:
- Redução da dívida pública, que baixou de 97,9% do PIB em 2023 para 95,3% no final do ano passado, com perspetivas de descida “gradual, mas firme” mesmo após cortes orçamentais. “O excedente primário mantém-se desde 2015, e o saldo orçamental global ficou ligeiramente positivo no ano passado”, sublinha ainda o relatório da agência de notação de risco japonesa.
- Solidez do sistema financeiro, com os analistas a consideram que “o sistema financeiro está a tornar-se mais estável”, destacando que o rácio Tier1 dos bancos subiu para 17,7% em setembro de 2024, enquanto a taxa de crédito malparado (NPL) recuou para 2,6%. “O aumento das receitas com juros líquidos está a fortalecer a base de capital” dos bancos, destacam os analistas.
- Crescimento da economia acima dos pares europeus, com os analistas da JCR a notarem que a economia tem “recuperado de forma constante após a pandemia de Covid-19, continuando a crescer mais rapidamente do que a média da União Europeia”, ressalvando um crescimento de 1,9% do PIB em 2024, puxado pela procura interna. Os analistas da agência japonesa projetam ainda uma aceleração no médio prazo, sustentada pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e transição energética. “O país tem um PIB per capita superior a 49 mil dólares, um dos mais altos na categoria de rating ‘A’”, realça o documento.
- Estabilidade política pós-eleitoral no plano da orientação das contas públicas, com a JCR a frisar que o “governo minoritário de coligação de direita”, formado após as legislativas de março de 2024, manteve “aderência firme” às regras orçamentais e económicas da União Europeia, assegurando continuidade nas reformas.
A melhoria do rating da República surge num momento estratégico para o IGCP. Desde setembro do ano passado que a agência responsável pela gestão da dívida pública intensificou esforços para diversificar a base de investidores.
Esse esforço foi feito com particular atenção para captar o interesse de fundos asiáticos — nomeadamente japoneses — para compensar a redução de compras de dívida pelo BCE em função de um processo de desalavancagem do balanço do banco central.
“O tamanho do Japão é tão grande que facilmente absorve a parte que o BCE deixará de ter”, afirmou Miguel Martín, presidente do IGCP, na Comissão de Orçamento e Finanças de 13 de setembro. Resta saber se o rating “A+” abrirá as portas a mais investidores asiáticos. A aposta, agora, é que a nota da JCR sirva de selo de qualidade junto dos grandes fundos de Tóquio e de outros países asiáticos, como Singapura.
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