Conseguirá Merz evitar o terceiro ano de recessão na Alemanha?
PIB fechou o ano em queda pelo segundo ano consecutivo. Eleições permitiram reduzir a incerteza política, mas previsões apontam para uma tímida recuperação.
A economia alemã fechou 2024 em queda pelo segundo ano consecutivo e ainda não há certezas que este ano consiga voltar a taxas de crescimento positivas. Este promete ser um dos grandes desafios do chanceler eleito, Friedrich Merz, que tem em mãos a tarefa de conseguir levar a cabo uma reforma do travão da dívida para aumentar o investimento.
Os dados divulgados na terça-feira pelo organismo de estatística alemão, Destatis, confirmaram a estimativa preliminar que apontava para uma contração do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,2% na globalidade do ano passado, após um queda de 0,1% em 2023.
No quarto trimestre, a economia encolheu 0,2% quer na comparação homóloga, quer na comparação em cadeia. A informação disponibilizada revela que, na reta final do ano, a queda de 2,2% das exportações de bens e serviços face ao trimestre anterior penalizou o desempenho do PIB, apesar da ligeira recuperação do consumo.
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Com a indústria alemã em queda e o chanceler eleito a apontar para a formação de Governo para a Páscoa, as expectativas sobre a capacidade de evitar o terceiro ano consecutivo de recessão são contidas.
O banco central da Alemanha prevê que apesar das condições económicas serem “persistentemente fracas”, a economia pode recuperar ligeiramente no primeiro trimestre de 2025. No mais recente boletim económico, o Bundesbank assinala que fatores como a elevada incerteza, o aumento dos custos de financiamento e a baixa capacidade de utilização ainda estão a pesar sobre o investimento.
Porém, realça que as exportações podem ter uma evolução menos desfavorável do que no trimestre anterior e que o consumo privado e, acima de tudo, os serviços apoiem a economia.
Certo é que com as eleições de domingo desapareceu alguma da incerteza política que marcou os últimos meses. As negociações para formar uma coligação arrancam agora. O líder da União Democrata-Cristã (CDU) venceu, a Alternativa para a Alemanha (AfD) de extrema-direita ficou em segundo lugar e o Partido Social-Democrata (SPD) em terceiro lugar, o que obriga Friedrich Merz a procurar uma solução para um Governo de coligação, como é habitual na Alemanha.
“A incerteza é reduzida, mas não há um forte impulso na economia alemã. A perspetiva de um novo Governo alemão com uma maioria parlamentar é uma boa notícia. É provável que reduza a grande incerteza política que surgiu após a queda do Governo em novembro“, refere Martin Wolburg, economista sénior da Generali AM, num comentário enviado ao mercado.
O economista alerta, contudo, para o facto de “não se poder esperar demasiado“: “O próximo Governo alemão terá apenas uma pequena maioria parlamentar. E sem uma reforma substancial do travão da dívida à vista, duvidamos que se chegue a acordo sobre uma política favorável às empresas e um impulso fiscal para reanimar a vacilante economia alemã“, argumenta.
Embora o cenário CDU+SPD pareça o mais provável, não alcança a maioria de dois terços necessária para fazer alterações na Constituição. Por isso, Merz precisará de um apoio mais alargado.
O chanceler eleito rejeitou na terça-feira reforma e considerou que era muito cedo para dizer se o Parlamento cessante poderia aprovar um grande aumento na despesa militar. “Está fora de questão que, num futuro próximo, reformaremos o travão da dívida”, disse, acrescentando que “há muito trabalho a ser feito“.
Para a BlackRock, a reforma da regra que limita o aumento anual da dívida a cerca de 0,35% do PIB permitiria aumentar o investimento do Governo, sobretudo em defesa, e ajudar a estimular o crescimento económico. “Os conservadores estão focados em impulsionar o investimento, mas podem querer cortes em benefícios sociais e outros subsídios governamentais aos quais o SPD pode opor-se”, referem os analistas da gestora de ativos.
Já os Verdes provavelmente irão vincular o apoio a compromissos de descarbonização, enquanto o Die Linke também deverá exigir contrapartidas.
“Qualquer aumento na despesa orçamental na Alemanha será focado na defesa, dado o cenário geopolítico. O Presidente Trump deixou claro que na sua visão a Europa precisa gastar mais na própria defesa. A Alemanha atualmente gasta cerca de 1,4% do PIB anualmente em defesa e isso precisaria aumentar para 3,5% se a Alemanha não dependesse da ajuda dos EUA“, Irene Lauro, economista da Schroders num comentário enviado ao mercado.
A economista destaca, porém, que o aumento na despesa militar não daria um impulso à economia interna, uma vez que muitas compras continuariam a ser de empresas estrangeiras, principalmente dos EUA. Ademais, “um problema fundamental para a economia alemã tem sido a falta de investimento, e a Alemanha tem tido um desempenho inferior ao resto da Europa nessa frente desde a pandemia“, alerta.
Para já, as previsões das principais instituições económicas internacionais apontam para uma recuperação tímida este ano. O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um crescimento de 0,3% este ano e de 1,1% em 2026. Já a Comissão Europeia, cujas projeções são de outubro, aponta para uma taxa de 0,7% em 2025 e de 1,3% em 2026. Já a OCDE prevê que a Alemanha terá o menor crescimento económico da União Europeia, ao avançar 0,7% em 2025 e 1,2% em 2026.
“Um novo Governo alemão com uma orientação favorável às empresas pode assegurar um novo impulso muito necessário à enferma economia alemã, sobretudo se se tratar de facto de desregulação e de redução da carga fiscal. Isto também pode revitalizar o consumo alemão e, por conseguinte, o crescimento económico alemão”, indica Christoph Berger, diretor de investimento de ações da Europa da Allianz Global Investors (AllianzGI), num comentário enviado ao mercado.
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