Ouro passa marco histórico de 3.000 dólares com subida de 14% em 2025
A política comercial agressiva dos EUA e as compras dos bancos centrais sustentam valorização do ouro nos últimos meses, que elevou a onça do metal para um novo recorde.
O ouro ultrapassou nesta sexta-feira a barreira psicológica de 3.000 dólares por onça pela primeira vez. A valorização de 14,3% (em dólares) desde o arranque do ano consolida uma trajetória ascendente que já dura há 16 meses, com a onça a contabilizar uma valorização acumulada de 84% desde 3 de novembro de 2022, quando negociou no valor mais baixo dos últimos quase cinco anos.
A política comercial agressiva da administração Trump tem funcionado como rastilho da cotação do ouro. Desde janeiro, os EUA impuseram tarifas de 25% sobre aço e alumínio (revogando isenções ao Canadá e Brasil), 10% sobre produtos chineses, e ameaçam estender barreiras a setores como automóveis e chips.
Cada anúncio acentua o temor de uma fragmentação do comércio global e um escalar da guerra comercial, com consequências diretas no mercado aurífero. “Quando o comércio encolhe, o ouro dispara”, refere James Steel, analista do HSBC, em declarações ao Financial Times, sublinhando essa mesma dinâmica durante a pandemia de Covid-19 e a crise financeira mundial.
Para os próximos meses a tendência da cotação do ouro não deverá mudar, dado que as principais casas de investimento têm revisto em alta as suas previsões para o preço do ouro em 2025.
Em janeiro, os ETF auríferos registaram a entrada de mais de 3 mil milhões de dólares, cerca de quatro vezes mais que os fluxos globais registados no mês anterior.
O Goldman Sachs, por exemplo, elevou recentemente a sua projeção para o final do ano de 2.890 dólares para 3.100 dólares por onça. O banco de investimento norte-americano cita a procura sustentada dos bancos centrais como um fator-chave, estimando que esta adicionará 9% ao preço do ouro até ao final do ano.
Já o J.P. Morgan mantém uma perspetiva otimista de longo prazo para o ouro, prevendo que os preços possam situar-se em redor dos 3.000 dólares por onça em 2025, vaticinando uma média trimestral de 2.950 dólares no quarto trimestre.
Numa nota publicada a 17 de fevereiro, os analistas do J.P. Morgan destacam que o ouro tem demonstrado um comportamento resiliente tanto em períodos de queda como de subida das taxas de juro reais nos EUA, desenvolvendo o que os analistas apelidam de um “perfil de sorriso”, relativamente à yield dos títulos do Tesouro americano.
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A equação monetária que joga a favor do ouro
A febre do ouro tem também sido sentida no mercado dos fundos cotados, com os investidores a aumentarem significativamente o investimento em ETF de ouro físico, particularmente junto dos fundos europeus, que em janeiro registaram “a maior entrada mensal desde março de 2022, somando 3,4 mil milhões de dólares em janeiro”, refere o World Gold Council em comunicado.
Em janeiro, os ETF auríferos registaram a entrada de mais de 3 mil milhões de dólares, cerca de quatro vezes mais que os fluxos globais registados no mês anterior e completamente em contraciclo face à saída de 2 mil milhões de dólares contabilizados em janeiro de 2024.
A política da Reserva Federal norte-americana (Fed) é outro elemento que adiciona complexidade à evolução da onça do metal dourada nos mercados internacionais. Embora a taxa de juro nos EUA permaneça no intervalo 4,25%-4,5%, a perspetiva de cortes em 2025 – mesmo que moderados – enfraquece o dólar e reduz o custo de oportunidade de deter ouro (que não paga juros), potenciando com isso a procura e a cotação do metal precioso.
Os bancos centrais ainda não terminaram as suas compras de ouro, sendo provável que a incerteza política acrescida ajude a fomentar um renascimento do ouro em 2025.
Paradoxalmente, as próprias tarifas comerciais funcionam como elementos inflacionistas estruturais. O aumento dos custos de importação para os EUA pressiona naturalmente o índice de preços, criando um cenário onde o ouro brilha como uma cobertura dupla: contra a estagnação económica e a erosão do poder de compra.
Outro elemento que tem puxado pelo preço do ouro tem sido a procura dos bancos centrais. As compras por parte destas instituições ultrapassaram as 1.000 toneladas pelo terceiro ano consecutivo em 2024, de acordo com dados do World Gold Council. O Banco Popular da China, em particular, anunciou novas aquisições de reservas de ouro em novembro, marcando um retorno às compras pela primeira vez desde abril.
“Os bancos centrais ainda não terminaram as suas compras de ouro, sendo provável que a incerteza política acrescida ajude a fomentar um renascimento do ouro em 2025”, refere Gregory Shearer, analista do J.P. Morgan.
É também numa contínua subida da cotação do metal precioso que apontam as previsões do UBS que, recentemente, reviu em alta as projeções da onça para este ano. Numa nota enviada aos seus clientes, Joni Teves, analista do banco suíço, projeta que o pico da cotação do ouro ocorra na segunda metade do ano com um preço potencial de 3.200 dólares, para depois os preços venham a “abrandar gradualmente” e fixem-se em “níveis elevados nos próximos anos.”
O ouro parece estar a caminho de mais um ano de brilho intenso nos mercados financeiros. Com previsões otimistas das principais casas de investimento e uma conjuntura global que favorece ativos de refúgio, o metal precioso continua a atrair a atenção de investidores que procuram segurança e potencial de valorização num cenário económico e geopolítico incerto.
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