Centeno defende novo corte das taxas de juro em abril

O governador do Banco de Portugal destaca que a política de cortes das taxas de juro do BCE deve ser mantida e defende que na reunião de abril o Conselho do BCE volte a fazer mais um corte.

Mário Centeno, governador do Banco de Portugal e membro do Conselho de Governadores do Banco Central Europeu (BCE), destacou em entrevista à Econostream a necessidade de manter a trajetória das taxas de juro delineada nas projeções económicas da instituição.

“Não há razão para o BCE se desviar da trajetória das taxas de juro incorporada nas projeções”, afirmou Centeno, sublinhando que “as projeções mais recentes não nos dizem para fazer uma pausa em abril.” O Conselho do BCE irá reunir-te a 16 e 17 de abril em Frankfurt para mais uma reunião de política monetária.

O governador do Banco de Portugal considera também que o cenário de referência do BCE para uma convergência da taxa de inflação para os 2% é coerente com a trajetória das taxas de juro esperada pelos mercados, referindo que “o cenário de referência incorpora uma trajetória de redução das taxas de juro que ainda não está concluída.”

Centeno enfatizou que a economia europeia permanece frágil, o que justifica os cortes recentes nas taxas diretoras do BCE. “Dada a fragilidade da economia e o nível estimado da taxa neutra, são de esperar novas reduções das taxas”, vaticina o governador do Banco de Portugal, argumentando que a taxa neutra pode não ser suficiente para sustentar a inflação na meta de 2%. “Não estou certo de que a neutralidade seja suficiente para manter a inflação a 2%, devido à atual fragilidade da economia e às ameaças que enfrenta.”

Este posicionamento reflete uma preocupação com o impacto limitado das medidas atuais no estímulo económico e na estabilização dos preços. Apesar disso, Centeno reiterou que os cortes são parte de uma estratégia mais ampla para garantir que a inflação se estabilize no médio prazo, em linha com os objetivos do BCE.

Apesar de terem uma visão alinhada sobre o papel do BCE, Mário Centeno mostra-se mais assertivo na defesa de mais cortes nas taxas de juro para enfrentar o fraco desempenho da economia da Zona Euro, enquanto Lagarde mantém uma postura maus cautelosa, reforçando a ideia de que o BCE deverá agir com base nos dados, sem compromissos sobre os juros futuros.

Outro ponto abordado por Centeno foi o impacto negativo das políticas económicas dos EUA na economia europeia. “O impacto das políticas dos EUA é negativo para o crescimento e eventualmente também para a inflação”, afirmou.

Este comentário está alinhado com as preocupações expressas por Christine Lagarde, presidente do BCE, no seu discurso no Parlamento Europeu de 20 de março. Lagarde destacou que as mudanças nas políticas comerciais norte-americanas aumentaram significativamente a incerteza global, afetando o crescimento e os preços na Zona Euro.

Mas embora Centeno e Lagarde concordem com a necessidade de vigilância e adaptação às condições económicas globais, as “nuances” nas suas abordagens são evidentes.

Se Centeno se mostra mais assertivo ao defender cortes adicionais nas taxas como resposta à fraqueza económica persistente, Lagarde continua a adotar um tom mais cauteloso, sublinhando que o BCE seguirá uma abordagem dependente dos dados e sem pré-compromissos sobre o caminho futuro das taxas de juro.

Lagarde também enfatizou a importância da integração comercial e da cooperação internacional como resposta às tensões comerciais globais. “A resposta ao atual desvio nas políticas comerciais dos EUA deve ser mais integração comercial, não menos”, afirmou no Parlamento Europeu. Este foco na integração contrasta com a visão mais técnica e orientada para as taxas de Centeno.

Com projeções económicas que apontam para um crescimento modesto na zona euro nos próximos anos – 0,9% em 2025, 1,2% em 2026 e 1,3% em 2027 –, o BCE enfrenta um dilema entre agir rapidamente ou esperar pela confirmação dos efeitos das medidas já implementadas.

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