Espanha quer “desconexão total” de tecnologia militar israelita
A Defesa espanhola ordenou a revogação de um contrato, com um valor de cerca de 285 milhões de euros e que foi adjudicado à empresa Pap-Tecnos, a filial espanhola de uma empresa israelita.
Espanha quer uma “desconexão total” da tecnologia militar israelita, após o Ministério da Defesa espanhol ter suspendido a licença de uma empresa israelita para produzir 168 mísseis antitanque no país, afirmou o Governo.
A afirmação foi feita pela ministra porta-voz do Governo, Pilar Alegria, na conferência de imprensa realizada no final do Conselho de Ministros, em que referiu que o Governo está a estudar a forma de reorientar esse programa de mísseis destinado a equipar o Exército, na sequência da revogação da licença.
A ministra remeteu para as declarações da secretária de Estado da Defesa, Amparo Valcarce, que anunciou o processo de desconexão tecnológica de Espanha com Israel para não depender “de forma alguma” desse país, e que se iniciou com a revogação dessa licença de produção de armamento em território espanhol.
“O objetivo aqui é claro, como a própria secretária de Estado explicou, que é uma desconexão total da tecnologia israelita”, sublinhou a porta-voz do Governo.
A Defesa espanhola ordenou a revogação deste contrato, anunciado a 3 de outubro de 2023, com um valor de cerca de 285 milhões de euros e que foi adjudicado à empresa Pap-Tecnos, a filial espanhola da empresa israelita Rafael Advanced Defence System, confirmaram à agência de notícias EFE fontes do ministério.
Na altura, a Defesa alegou que a obsolescência dos sistemas até agora utilizados tornava necessária a sua substituição por outros mais modernos, como os que já estão ao serviço de muitos dos Exércitos dos países aliados, e que a empresa israelita era a única tecnicamente capaz de desenvolver estes mísseis de quinta geração.
A adjudicação – que nunca chegou a ser formalizada – previa que o Ministério da Defesa espanhol pagasse cerca de 285 milhões de euros em cinco anos para equipar com estes novos mísseis as unidades do Exército e da Marinha que já operavam com a versão anterior, os mísseis SPIKE LR.
Israel declarou a 7 de outubro de 2023 uma guerra na Faixa de Gaza para “erradicar” o movimento islamita palestiniano Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando cerca de 1.200 pessoas, na maioria civis, e sequestrando 251.
A guerra naquele território palestiniano fez, até agora, mais de 54.500 mortos, na maioria civis, e mais de 124.500 feridos, além de cerca de 11.000 desaparecidos, presumivelmente soterrados nos escombros, e mais alguns milhares que morreram de doenças, infeções e fome, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.
A situação da população daquele enclave devastado pelos bombardeamentos e ofensivas terrestres israelitas agravou-se mais ainda pelo facto de a partir de 2 de março, e durante quase três meses, Israel ter impedido a entrada em Gaza de alimentos, água, medicamentos e combustível, que estão agora a entrar a conta-gotas e a ser distribuídos em pontos considerados “seguros” pelo Exército, que já várias vezes abriu fogo sobre civis palestinianos que tentavam obter comida, fazendo centenas de vítimas.
A ONU declarou a Faixa de Gaza como estando mergulhada numa grave crise humanitária, com mais de 2,1 milhões de pessoas numa “situação de fome catastrófica”, a fazer “o mais elevado número de vítimas alguma vez registado” pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo.
Já no final de 2024, uma comissão especial da ONU acusou Israel de genocídio naquele território palestiniano e de estar a utilizar a fome como arma de guerra – acusação logo refutada pelo Governo israelita, mas sem apresentar quaisquer argumentos.
Após um cessar-fogo de dois meses, o Exército israelita retomou a ofensiva na Faixa de Gaza a 18 de março e apoderou-se de vastas áreas do território, tendo o Governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu anunciado, no início de maio, um plano para “conquistar” Gaza, que Israel ocupou entre 1967 e 2005.
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