Indústria das duas rodas ‘acelera’ inovação com casacos, mochilas e punhos

Setor que exporta 745 milhões de euros não abdica do título de campeão europeu na produção de bicicletas e aposta em produtos inovadores.

Um casaco que reluz, uma mochila que sinaliza mudança de direção e punhos de bicicleta que alertam para riscos. Estas são algumas das inovações da indústria das duas rodas que vale cerca de mil milhões de euros e emprega oito mil pessoas.

A indústria está a aproveitar as verbas da Agenda Mobilizadora para a Inovação Empresarial do Setor das Duas Rodas (AM2R), que reúne 47 entidades e tem uma verba de 214 milhões de euros, para inovar e destacar-se dos concorrentes ora não fosse Portugal o maior produtor de bicicletas da União Europeia.

“A agenda AM2R é crucial e indispensável para o crescimento futuro do setor das duas rodas“, afirma o presidente da Polisport Plásticos, empresa que lidera a AM2R. “O setor das duas rodas teve um desenvolvimento muito grande em Portugal nos últimos anos”, diz Pedro Araújo, que é também vice-presidente da Abimota.

A agenda AM2R é uma forma de conseguirmos manter a posição de liderança que temos em termos europeus, obriga-nos a apostar em novas tecnologias e a apresentar novos produtos que nos possibilitem fazer frente aos nossos concorrentes europeus.

Pedro Araújo

Vice-presidente da Abimota

“É uma forma de conseguirmos manter a posição de liderança que temos em termos europeus, obriga-nos a apostar em novas tecnologias e a apresentar novos produtos que nos possibilitem fazer frente aos nossos concorrentes europeus”, diz o líder da Polisport que está presente em 70 países e exporta 98% da sua produção.

O secretário-geral da Abimota corrobora a ideia de Pedro Araújo e realça que a “agenda é importantíssima para o setor porque está a permitir desenvolver um conjunto alargado de produtos e a fazer com que a Europa possa responder quase na globalidade à construção de uma bicicleta“, diz ao ECO Gil Nadais, destacando que o objetivo é não estar tão dependente da Ásia.

O setor das duas rodas em Portugal vale cerca de mil milhões de euros, conta com cerca de 80 empresas e emprega 8.000 postos de trabalho diretos e 30 mil indiretos, contabiliza Gil Nadais.

O ano passado, Portugal exportou bicicletas e componentes no valor de cerca de 745,3 milhões de euros, um valor ligeiramente inferior a 2023 (760 milhões de euros). O setor exporta essencialmente para a Europa, com especial predominância para a Alemanha, França e Espanha.

Do casaco que reluz aos punhos que alertam para riscos

As soluções que estão a ser desenvolvidos e que fazem parte da Agenda Mobilizadora para a Inovação Empresarial do Setor das Duas Rodas pretendem aumentar a produtividade, a competitividade e a resiliência do setor em Portugal, reduzindo a dependência face ao mercado asiático. Ao nível da internacionalização, o projeto, que visa introduzir no mercado 55 novos produtos, processos e serviços (PPS) prevê uma taxa de exportações média das empresas do consórcio de 73%, em 2027.

Parte destas tecnologias estão a nascer no Centro de Nanotecnologia e Materiais Técnicos, Funcionais e Inteligentes (Centi), em Vila Nova de Famalicão, que ganhou o ano passado um novo edifício de 5,4 milhões de euros para dar resposta à crescente atividade científica e tecnológica.

O casaco, que incorpora fitas refletoras e fios eletroluminescentes, tem como principal objetivo aumentar a visibilidade dos amantes de duas rodas. A pensar na visibilidade e segurança dos ciclistas ou utilizadores de trotinetes, o produto pode ser usado em ambientes urbanos, à noite ou em locais com pouca luminosidade, explica o Centro de investigação em Famalicão em comunicado.

Um casaco que reluz e a mochila que sinaliza mudança de direçãoCenti

Já a mochila e uma bolsa complementar, produzida a partir de resíduos têxteis e compósitos, contêm eletrónica e sensorização. A título de exemplo, permitem a um ciclista indicar a intenção de mudança de direção e alertam em caso de travagem brusca ou proximidade de outros veículos. Estes avisos são emitidos através de iluminação ativa na bolsa e da vibração dos punhos da bicicleta/trotinete, que comunicam e interligam diretamente com a bolsa, explica o Centi.

No sentido de maximizar a proteção dos utilizadores das duas rodas, estão também a ser desenvolvidos punhos de bicicleta/trotinete ergonómicos e funcionais. Conectados com a bolsa e incorporando tecnologia diferenciadora (sensores e atuadores), estes punhos sinalizam, também, diversas situações, nomeadamente mudança de direção, proximidade de outros veículos, travagem brusca e/ou queda. Através de vibração (feedback háptico), o utilizador é alertado para situações de risco.

Punhos de bicicleta que alertam para riscos: a indústria nacional alarga a oferta de produtos para mobilidade.Centi

Associada ao casaco, punhos e bolsa, os investigadores criaram, também, uma aplicação móvel capaz de comunicar e reforçar os avisos gerados pelos diferentes produtos. Os respetivos protótipos encontram-se em fase de otimização, estando previstos, para breve, testes em ambiente real.

Sistemas de iluminação que informam sobre obras, acidentes e até intempéries

Os investigadores estão, também, a desenvolver novos sistemas de iluminação, sinalização e sensorização que, acoplados em infraestruturas como módulos de apoio em ciclovias, vão informar os utilizadores de duas rodas de diversos acontecimentos na via, nomeadamente obras, acidentes, vias fechadas, intempéries, o fluxo existente e ainda a direção e velocidade dos ciclistas/trotinetes.

Diminuir o risco de colisão e aumentar a segurança dos utilizadores são os principais objetivos. Estes sistemas estarão, inclusivamente, habilitados a monitorizar, em tempo real, a qualidade do ar, libertando informações através de sinalização presencial, alertando os utilizadores para possíveis problemas.

Sistemas de iluminação, sinalização e sensorização estão em investigação.Centi

Com recurso a uma aplicação móvel, o ciclista não só compreenderá as adversidades existentes na estrada, como poderá traçar o seu percurso e aceitar as sugestões de rotas alternativas fornecidas pela aplicação.

Uma das principais inovações tecnológicas em desenvolvimento pelo Centi, em parceria com a EDMtech, empresa de desenvolvimento tecnológico, passa pela criação de um sistema de carregamento de baterias por indução, pensado para instalação em postos de carregamento de bicicletas elétricas.

Este sistema inovador poderá, no futuro, ser aplicado tanto em contexto doméstico, com uma aplicação simples e universal para simplificar a vida do utilizador, como em infraestruturas públicas, nomeadamente no âmbito de sistemas de bike-sharing (partilha pública de bicicletas).

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Indústria das duas rodas ‘acelera’ inovação com casacos, mochilas e punhos

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião