Salários em risco de abrandar com cenário de instabilidade
The Lisbon MBA ouviu 81 dos seus ex-alunos e, destes, mais de metade antecipam um abrandamento dos salários este ano. Maioria descarta, ainda assim, risco de recessão.
Os salários dos trabalhadores portugueses poderão abrandar este ano, em resultado da instabilidade vivida tanto no cenário internacional como no panorama interno português. É isso que antecipam mais de metade dos líderes empresariais inquiridos pelo The Lisbon MBA, num barómetro realizado para o ECO.
Entre as 81 respostas recolhidas pelo referido programa, 53% (43 respostas) indicam que o crescimento salarial vai provavelmente desacelerar este ano, tendo em conta a instabilidade internacional e a incerteza vivida a nível nacional.
Importa notar que as questões foram colocadas numa altura em que o presidente norte-americano, Donald Trump, estava focado na “guerra” de tarifas, nomeadamente com a União Europeia. E em que Portugal se preparava para ir novamente às urnas, na sequência do chumbo de uma moção de confiança ao Governo de Luís Montenegro, eleição essa que manteve o mesmo primeiro-ministro no poder.

Em reação a estes resultados, Bruno de Carvalho Matos, ex-aluno do The Lisbon MBA, salienta que esta expectativa de desaceleração dos salários “pode estar relacionada com a perceção de fragilidade no mercado de trabalho, restrições na margem de manobra das empresas para aumentos salariais e a necessidade de controlo de custos num contexto de inflação persistente e de margens empresariais pressionadas”.
Esta expectativa de desaceleração dos salários “pode estar relacionada com a perceção de fragilidade no mercado de trabalho, restrições na margem de manobra das empresas para aumentos salariais e a necessidade de controlo de custos.
“Embora o salário mínimo nacional tenha aumentado para 870 euros em 2025, essa evolução poderá não ser suficiente para garantir aumentos salariais generalizados no setor privado. A contenção dos salários poderá ter efeitos indiretos sobre o consumo privado, a confiança dos consumidores e, em última instância, sobre o dinamismo da economia“, salienta o mesmo.
Ainda assim, é de destacar que 27% (22 respostas) dos inquiridos preveem que os salários estabilizarão ou poderão mesmo aumentar, como mostra o gráfico acima.
“Poderá refletir a existência de pressões salariais em determinados setores ou regiões, especialmente em atividades com escassez de mão-de-obra qualificada ou sujeitas à concorrência internacional”, argumenta Bruno de Carvalho Matos.
Além disso, 14% (11 respostas) dos inquiridos diz-se incerto ou considera prematuro emitir previsões, “refletindo as dificuldades em antecipar a evolução do mercado laboral num quadro económico volátil”.
Maioria não antecipa recessão este ano
Por outro lado, o The Lisbon MBA questionou estes 81 ex-alunos sobre a perceção do risco de uma recessão em Portugal, e 43% (35 respostas) consideram que esse cenário é improvável.
Ainda assim, quase 31% (25 respostas) indicam que ainda é demasiado cedo para perceber o que irá acontecer. E 19,75% (16 respostas) admitem que a recessão é provável.

“Este equilíbrio entre confiança e apreensão reflete bem a complexidade do momento atual, caracterizado por pressões tanto internas como externas: crescimento económico moderado, inflação ainda elevada, taxas de juro relativamente altas, e instabilidade geopolítica a nível europeu e global“, sublinha o ex-aluno Bruno de Carvalho Matos.
Já quanto ao desempenho do setor onde se inserem, a maioria dos inquiridos (34 respostas, o equivalente a quase 42%) projetem que a atividade económica estabilizará face ao ano passado. E 27,16% (22 respostas) admitem mesmo um crescimento, como mostra o gráfico abaixo.

“Os dados do inquérito revelam um cenário de resiliência moderada e de ajustamento gradual por parte das empresas portuguesas, num contexto que continua marcado pela incerteza global e por desafios estruturais internos. As empresas demonstram uma atitude equilibrada entre prudência e ambição, optando por estratégias de contenção e estabilidade, mas mantendo alguma margem para iniciativas de crescimento e inovação”, observa, em reação, o referido ex-aluno.
Este inquérito foi realizado pelo The Lisbon MBA junto da sua comunidade académica, sendo que a maioria dos inquiridos está, neste momento, a trabalhar em Portugal por conta de outrem.
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