Investidores em estado de alerta após ataque dos EUA ao Irão
As bolsa entraram em estado de alerta após o ataque dos EUA ao Irão e preparam-se para uma semana de forte volatilidade, com receios de que o preço do petróleo dispare para perto dos 100 dólares.
Contrariando as expectativas mais pessimistas, os mercados acionistas do Golfo estão a demonstrar uma capacidade de absorção surpreendente face à escalada militar, após o recente ataque dos EUA a três centrais nucleares iranianas, naquilo que Donald Trump apelidou de “um sucesso militar espetacular”, sublinhando que este ataque às “principais instalações de enriquecimento nuclear do Irão foram completa e totalmente destruídas”.
Apesar de terem aberto este domingo em queda, os principais índices acionistas do Médio Oriente encontram-se já a negociar em terreno positivo e com relativa normalidade. O índice de referência da Arábia Saudita (TASI) encontra-se a subir 0,5%, impulsionado pelo desempenho do Saudi National Bank, o maior banco do país, que chegou a negociar com ganhos de 0,7% após ter estado a perder quase 0,4%.
A mesma tendência está a ser registada nos outros principais índices da região, que se encontram a recuperar de parte das perdas matinais, com destaque para as atuais subidas de 1,65% do principal índice egípcio (EGX30) e de 1,55% do índice do Dubai (DFMG), que está também a ser acompanhada pelos ganhos de 0,12% do índice do Qatar (QSI).
Esta reação relativamente contida dos mercados regionais do Golfo (que negoceiam ao domingo) contrasta com o cenário de pânico que antecipavam muitos analistas, sugerindo que os investidores podem estar a apostar num cenário de contenção do conflito, apesar da intensificação das hostilidades.
No mercado dos criptoativos, que funciona ininterruptamente, a reação foi mais pronunciada e reveladora do sentimento dos investidores de retalho. O ethereum, a segunda maior criptomoeda por capitalização e considerado pelos analistas como o novo indicador do sentimento dos pequenos investidores, está a negociar com uma queda superior a 7% este domingo, acumulando perdas de 13% desde o ataque de 13 de junho de Israel a Teerão, segundo dados da plataforma Coinbase.
Apesar da intensificação do conflito, fontes diplomáticas árabes revelaram que os EUA utilizaram canais regionais para transmitir ao Irão que os ataques terminaram e que é altura de regressar às negociações.
A principal preocupação dos mercados centra-se no impacto potencial desta escalada militar nos preços do petróleo e, consequentemente, na inflação global. “Muito dependerá de como o Irão responder nas próximas horas e dias, mas isto pode colocar-nos num caminho em direção aos 100 dólares por barril se o Irão responder como já ameaçou anteriormente”, refere Saul Kavonic, analista sénior de energia da MST Marquee, citado pela Reuters.
O Estreito de Ormuz, que separa Omã do Irão, constitui a principal rota de exportação para produtores como a Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Iraque e Kuwait. Qualquer tentativa iraniana de bloquear esta passagem estratégica, por onde circula cerca de um quarto do petróleo mundial, poderia provocar um choque energético com ramificações globais.
Os economistas do Citigroup já alertaram que, preços do petróleo significativamente mais elevados “seriam um choque negativo para a economia global, baixando o crescimento e aumentando a inflação, criando desafios para os bancos centrais que já estão a tentar navegar por entre os riscos da guerra comercial”. Este cenário colocaria os bancos centrais numa posição particularmente delicada, forçando-os a escolher entre combater a inflação com subidas de juros ou apoiar o crescimento económico.

Irão Promete “consequências eternas”
A resposta iraniana não se fez esperar, com Teerão a prometer “consequências eternas” e a reservar-se “todas as opções para se defender”. Poucas horas após os ataques dos EUA, o Irão lançou mísseis em direção a Israel, fazendo soar as sirenes em todo o país, incluindo Tel Aviv e Jerusalém. As autoridades israelitas deram o sinal de segurança cerca de 40 minutos depois, indicando que o ataque havia terminado.
Numa demonstração da complexidade diplomática regional, vários países árabes condenaram publicamente a ação americana. Foi o caso da Arábia Saudita, que compete com o Irão há décadas pela hegemonia regional, denunciou a violação da soberania iraniana e apelou à desescalada.
Omã, que tem estado a mediar as conversações nucleares entre os EUA e o Irão, também condenou aquilo a que chamou de “agressão ilegal” por parte dos EUA. O Iraque seguiu a mesma via, criticando igualmente a escalada militar. Todos estes países mantêm relações diplomáticas tanto com Teerão como com Washington e albergam alguma presença militar americana que poderia ser alvo de retaliações iranianas.
Apesar da intensificação do conflito, fontes diplomáticas árabes revelaram que os EUA utilizaram canais regionais para transmitir ao Irão que os ataques terminaram e que é altura de regressar às negociações. Esta mensagem ecoou os apelos de Trump para a paz na sequência dos bombardeamentos. “Esperamos que já não precisemos dos seus serviços”, disse Trump sobre as forças militares americanas num discurso da Casa Branca no sábado à noite, mas notando, através da conta da presidência dos EUA na rede social X que “qualquer retaliação do Irão contra os EUA será enfrentada com uma força muito maior do que a que foi testemunhada esta noite”.
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Segundo o The Wall Street Journal, um funcionário americano confirmou que a administração Trump contactou o Irão para deixar claro que o ataque foi uma operação pontual, não o início de uma guerra de mudança de regime. Esta clarificação foi bem recebida pelos governos regionais, preocupados com os riscos de uma transição caótica num país de cerca de 90 milhões de pessoas nas suas fronteiras.
Em declarações à Reuters, Jamie Cox, sócio-gerente do Harris Financial Group, acredita que os preços do petróleo poderão estabilizar em poucos dias, uma vez que os ataques podem levar o Irão a procurar um acordo de paz com Israel e os EUA. “Com esta demonstração de força e aniquilação total das suas capacidades nucleares, perderam toda a sua influência e provavelmente carregarão no botão de escape para um acordo de paz”, defendeu.
Os mercados preparam-se agora para uma semana de elevada volatilidade, enquanto aguardam pela resposta definitiva de Teerão e avaliam se esta escalada militar marca o início de um conflito regional mais amplo ou o prelúdio para uma solução diplomática duradoura.
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