Petróleo em queda livre após “Guerra dos 12 Dias”
Os receios em torno do ouro negro desmoronaram-se, com o Brent a anular a subida relâmpago da semana anterior, ao registar a maior queda semanal desde 2023, num mercado refém de promessas de paz.
O barril de Brent está a protagonizar uma correção histórica nos mercados internacionais. Depois de na semana passada a cotação do ouro negro ter disparado cerca de 16%, esta semana o Brent prepara-se para fechar com uma queda semanal de 12%, que se traduzirá na correção semanal mais acentuada desde março de 2023.
Esta montanha-russa da cotação do Brent que teve como ponto de ebulição o início dos bombardeamentos israelitas sobre Teerão a 13 de junho ilustra como os fatores geopolíticos podem rapidamente inflacionar e depois esvaziar os preços do crude.
A volatilidade dominou o mercado petrolífero durante a chamada “Guerra dos 12 dias” entre Israel e Irão, apanhando investidores, consumidores e analistas de surpresa, transformando o que inicialmente parecia ser uma crise energética global numa lição sobre como os prémios de risco geopolítico podem evaporar-se quase instantaneamente quando os receios de interrupções no fornecimento revelam-se infundados.
powered by Advanced iFrame free. Get the Pro version on CodeCanyon.
Nota: Se está a aceder através das apps, carregue aqui para abrir o gráfico.
O ataque israelita, denominado “Operação Leão em Ascensão”, envolveu cerca de 200 aviões e teve como alvos a capital Teerão, as centrais de enriquecimento de urânio de Fordo e Natanz, o aeroporto de Mehrabad e diversas bases militares. Contudo, quando se tornou claro que nem Israel, nem o Irão, nem os EUA atacaram infraestruturas relacionadas com o petróleo, e que Teerão optou por não tentar bloquear o estratégico Estreito de Ormuz, por onde transita cerca de 20% do petróleo mundial, os mercados reagiram com uma correção implacável.
Posteriormente, a queda do preço do petróleo foi consolidada quando o fumo da guerra dissipou-se com o anúncio do cessar-fogo entre Israel e o Irão pelo presidente norte-americano Donald Trump na quarta-feira. Com este anúncio, o prémio de risco geopolítico acumulado desde o primeiro ataque israelita ao Irão, que se traduziu em cerca de 10 dólares por barril, desapareceu por completo.
A volatilidade extrema que dominou os mercados petrolíferos nas últimas duas semanas ilustra de forma crua como os fatores geopolíticos podem rapidamente inflacionar e depois esvaziar os preços do crude. Basta lembrar que há apenas uma semana, as previsões das principais casas de investimento pintavam cenários dramaticamente diferentes. O J.P. Morgan chegou a elevar a probabilidade do seu “cenário mais adverso” de 7% para 17%, estimando que os preços do crude podiam explodir até aos 130 dólares caso o Estreito de Ormuz fosse encerrado.
O Barclays estimava que, se as exportações iranianas fossem reduzidas para metade, o crude poderia escalar para os 85 dólares por barril, ultrapassando potencialmente os 100 dólares num cenário de conflito mais alargado.
Mais conservador, o Goldman Sachs mantinha a sua projeção base de queda do Brent para os 60 dólares no quarto trimestre, assumindo ausência de interrupções no fornecimento, mas reconhecia que num cenário de redução da oferta iraniana o preço podia disparar “ligeiramente acima dos 90 dólares”.
Os analistas do Goldman Sachs chegaram inclusive a estimar que o preço do Brent poderia atingir brevemente 110 dólares por barril se o fluxo através do Estreito de Ormuz fosse reduzido pela metade durante um mês.
Segundo os analistas do Goldman Sachs, os mercados incorporam atualmente uma probabilidade de 60% de que o Brent se mantenha na casa dos 60 dólares nos próximos três meses e apenas 28% de probabilidade de exceder os 70 dólares.
Durante os dias mais tensos do conflito, dois superpetroleiros, o Coswisdom Lake e o South Loyalty, chegaram mesmo a dar meia-volta no Estreito de Ormuz, ilustrando os receios reais de uma interrupção no fornecimento. Muitos investidores temiam que o Irão pudesse fechar o Estreito de Ormuz, uma via fluvial crítica para abastecimento mundial de petróleo.
Mas com a dissipação das tensões geopolíticas, os mercados de futuros e opções ajustaram rapidamente as suas expectativas. Segundo os analistas do Goldman Sachs, os mercados incorporam atualmente uma probabilidade de 60% de que o Brent se mantenha na casa dos 60 dólares nos próximos três meses e apenas 28% de probabilidade de exceder os 70 dólares.
Para dezembro, o resultado mais provável é também que os preços se mantenham nos 60 dólares, embora com apenas 35% de probabilidade, com mais de 20% de hipóteses tanto de cair para os 50 dólares como de subir para os 70 dólares.
Particularmente relevante é a redução dramática da probabilidade de uma grande disrupção que possa empurrar os preços acima dos 90 dólares por barril. Esta probabilidade recuou de um pico de cerca de 15% para níveis muito baixos de início de junho, situando-se agora abaixo dos 4%, segundo o mercado de opções.
Produtores de petróleo ganham protagonismo
Com a cotação do Brent a recuar até aos níveis que transacionava antes de 13 de junho, todas as atenções voltam-se agora para a reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). Marcada para 6 de julho, esta reunião da OPEP tem como ponto de discussão os níveis de produção de petróleo para agosto, numa altura em que têm acelerado o regresso da oferta ao mercado mais rapidamente do que inicialmente estava planeado.
Para o tecido empresarial português, que há uma semana se preparava para o impacto de uma nova crise nos combustíveis, a correção nos preços representa um alívio importante.
A volatilidade das últimas duas semanas serve como lembrete de que os mercados energéticos permanecem vulneráveis a choques geopolíticos, mas também demonstra como rapidamente os prémios de risco podem evaporar-se quando os receios de interrupções no fornecimento revelam-se infundados.
Para já, os 67,73 dólares a que o Brent está a negociar atualmente nos mercados internacionais oferece uma folga nos orçamentos de empresas e famílias que se espelha por uma correção de 4 cêntimos por litro no diesel e de 3 cêntimos na gasolina já na próxima semana, depois de terem disparado no arranque desta semana.
No entanto, a reunião da OPEP e a evolução das tensões comerciais entre EUA e China determinarão o rumo dos preços nas próximas semanas.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Petróleo em queda livre após “Guerra dos 12 Dias”
{{ noCommentsLabel }}