Exclusivo Vodafone pressiona Europa a ser competitiva com menos burocracia e mais 5G: “Não podemos continuar a assistir impávidos”
Grupo de telecomunicações considera que a UE é uma “importadora líquida” de inovação, critica as políticas que retiram espectro às empresas e apela a incentivos fiscais ao investimento privado.
A Vodafone considera que a União Europeia (UE) está a ficar para trás na digitalização, estendendo o tapete às duas maiores economias do mundo, e é uma “importadora líquida” de inovação, mas ainda vai a tempo de aumentar a competitividade se reformar as políticas públicas. A operadora de telecomunicações apresentou esta terça-feira uma série de alertas e propostas para evitar a hecatombe tecnológica com incentivos fiscais ao investimento, menor burocracia e implementação do 5G puro.
“Não podemos continuar a assistir impávidos. Muitas vezes, a liderança política requer tomar decisões difíceis. Mas abrir caminho para que sejam realizados investimentos privados num setor que tem potencial para gerar tanto crescimento deveria ser uma decisão relativamente simples”, defende a telecom britânica num paper consultado pelo ECO.
A Vodafone teme que a Europa se acomode às conquistas do passado, que a tornaram num dos melhores sítios para viver e trabalhar, e está preocupada com “a falha profunda” que é esquecer as infraestruturas de conectividade na sua lista de prioridades estratégicas. Numa campanha de sensibilização aos governos, em tom de ‘puxão de orelhas’, o grupo do qual faz parte a Vodafone Portugal apela à revisão da lei das comunicações eletrónicas e à criação de um ambiente propício ao investimento no digital.
Na visão da Vodafone, o Estado deve intervir quando existem falhas de mercado. “Nenhuma economia progride verdadeiramente sem redes de comunicações rápidas e fiáveis assentes em tecnologias do passado. No entanto, uma grande parte dos Estados-membros não possui ainda tecnologia 5G SA [Stand Alone] e, entre 2005 e 2022, o investimento em TIC na Europa foi inferior ao dos EUA em 1.160 mil milhões de euros, tornando a Europa uma importadora líquida de inovações digitais”, adverte a empresa.
A Europa tem desequilíbrios específicos que o 5G SA pode endereçar, nomeadamente a nível da coesão territorial e do combate à desertificação do interior, que é particularmente acentuada nos países do sul e leste da Europa, designadamente em Portugal. Nas zonas rurais reside 20% da população que contribui com apenas 14% do PIB.
Para a Vodafone, estas tecnologias de vanguarda e os serviços digitais baseados em infraestruturas modernas são “a base da economia futura”, de uma maior competitividade das empresas e do progresso das regiões menos desenvolvidas sob pena de o crescimento, a soberania e as condições de vida da UE ficarem comprometidos ou mesmo em risco. “É necessário agir rapidamente para recuperar o atraso e evitar ficar ainda mais para trás – não apenas economicamente, mas também social e geopoliticamente”, insiste.
A multinacional lamenta ainda que a regulação das comunicações eletrónicas na Europa tenha 20 anos, portanto ainda está pensada para chamadas de voz e requer atualização urgente já com a inteligência artificial incluída na equação. E mostra-se esperançosa no Regulamento das Redes Digitais (Digital Networks Act), cuja consulta pública terminou há cerca de duas semanas e é visto como “uma oportunidade crítica para a modernização”.
Quais as soluções propostas pela Vodafone?
- Em primeiro lugar, os governos devem apoiar o investimento, antecipando a procura: devem preocupar-se mais com a geração 5G SA do que com o atraso do 5G NSA [Non Stand Alone]. A Coreia, a China e os Estados Unidos estão a avançar com a infraestrutura 5G SA, dando às suas empresas espaço para inovar, o que tem permitido a essas economias construir uma enorme vantagem estratégica. A componente geopolítica não pode ser ignorada, tal como observado pela Bússola da Competitividade da Comissão Europeia que apela a “construir a infraestrutura do futuro para preservar a influência global da UE”.
- Em segundo, devem fazer todos os esforços para remover barreiras ao desenvolvimento. Na maioria dos casos, a questão central não é a disponibilização de recursos financeiros, mas a eliminação de obstáculos desnecessários que continuam a dificultar o investimento do setor privado, desde a escassez artificial de espectro até à imposição de operadores de pequena escala ou processos excessivamente burocráticos. Em alguns casos, considerando o potencial de crescimento que pode ser desbloqueado, incentivos fiscais bem estruturados podem ser bastante benéficos e promover colaborações mais estratégicas com setores industriais dispostos a realizar investimentos significativos.
- Em terceiro, devem adotar uma abordagem que promova a concorrência no investimento. Para isso é necessário modernizar três políticas fundamentais: espectro, escala e “para os mesmos serviços, as mesmas regras”. A política de espectro deve garantir a previsibilidade e a segurança do investimento por um período mais longo e fomentar o desenvolvimento. Os operadores precisam também de poder ganhar escala para operar redes muito mais eficientes a um custo unitário mais baixo, de modo a libertar recursos para a modernização e melhoria da cobertura das redes. A aplicação em toda a Europa do princípio “para os mesmos serviços, as mesmas regras” favorece o mercado único digital e permite aos operadores rentabilizarem a infraestrutura em condições equitativas de inovação, diversidade e concorrência com outras empresas que oferecem serviços semelhantes.
A Europa está a ficar para trás na corrida pela liderança digital em quase todos os parâmetros, incluindo na adoção de cloud, IA, IoT e 5G SA. Enquanto os Estados Unidos e a China avançam com as redes de próxima geração, apenas 2% dos europeus usufruem atualmente de acesso contínuo ao 5G SA, a tecnologia móvel mais poderosa.
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