Rebenta a bolha? Resultados da Nvidia testam apetite dos investidores por IA
Líder incontestada dos chips, a Nvidia vai divulgar resultados trimestrais. Espera-se um crescimento de 53% das receitas, mas será suficiente para justificar 4 biliões de dólares em valor de mercado?
Os resultados trimestrais que a Nvidia irá apresentar esta quarta-feira, após o fecho das bolsas em Wall Street, darão novas pistas aos investidores sobre a procura por processadores para inteligência artificial (IA) e o grau de dinamismo existente nesta área. A principal tendência tecnológica dos últimos dois anos deu à fabricante de placas gráficas o estatuto de cotada mais valiosa do mundo, superando os quatro biliões de dólares e acumulando ganhos de 30% desde o início do ano.
A expectativa é muito elevada. Os investidores anseiam por retornos, depois das centenas de milhares de milhões de dólares que estão a ser investidos em produtos, serviços e infraestrutura de IA. O consenso dos analistas compilado pela Refinitiv aponta para receitas de 46 mil milhões de dólares no trimestre fiscal concluído em julho, apesar de a empresa ter estado impedida de vender para a China — o que, a confirmar-se, significa um crescimento de 53% face ao trimestre anterior. Ainda assim, abaixo do aumento de 69% registado no primeiro trimestre.
Os resultados da Nvidia voltarão, por isso, a ser um teste ao mercado. Por um lado, a empresa terá de provar se se justifica uma avaliação desta natureza, que lhe confere um peso superior a 7% no índice financeiro S&P 500. Por outro, é a confiança no próprio setor que também está em causa. Se porventura as expectativas forem frustradas, os títulos da Nvidia poderão levar um abanão, arrastando outros ativos de risco, sobretudo as tecnológicas. Na terça-feira, o mercado de opções apontava para uma oscilação de 260 mil milhões de dólares na capitalização bolsista da empresa, para cima ou para baixo, depois da apresentação dos dados trimestrais, noticiou a agência Reuters.
Nota: Se está a aceder através das apps, carregue aqui para ver o gráfico.
Nervos à flor da pele
O sentimento é relativamente frágil. Na semana passada, as ações tecnológicas sofreram quedas após a divulgação de um relatório de um projeto do MIT que conclui que 95% das organizações que implementaram soluções de IA generativa não obtiveram qualquer retorno. “Apenas 5% dos projetos-piloto de IA integrados estão a gerar milhões em valor, enquanto a grande maioria permanece estagnada, sem qualquer impacto mensurável nos resultados”, lê-se no estudo, intitulado “The GenAI Divide: State of AI in Business 2025“.
Além disso, o próprio CEO da OpenAI, a empresa que desencadeou esta nova era da IA com o lançamento do ChatGPT em 2025, veio dizer publicamente que tem dúvidas de que estas avaliações se justifiquem, classificando como sendo uma “loucura” o que algumas startups de IA com “três pessoas e uma ideia” estejam a receber de financiamento com avaliações tão altas. “Isso não é um comportamento racional”, referiu Altman numa entrevista com a The Verge há uns dias.
“Acredito que alguns investidores vão provavelmente perder muito dinheiro, e não quero minimizar isso, é uma chatice. Haverá períodos de euforia irracional. Mas, no conjunto, o valor [da IA] para a sociedade será enorme”, disse ainda o CEO da OpenAI. O alerta de que poderemos estar perante uma bolha penalizou, naturalmente, o sentimento nos mercados financeiros.
Tudo isto é absolutamente determinante para a Nvidia, que fabrica as placas gráficas de topo a nível mundial usadas pelos computadores que treinam e permitem funcionar estes algoritmos. Outrora conhecida pelos videojogos, e depois pelas criptomoedas, a empresa tem agora novos produtos na linha, como os processadores H100 e H200, e a novíssima gama de chips Blackwell, que comportam 208 mil milhões de transístores. Esta capacidade de inovação sem paralelo, num setor altamente especializado em que enfrenta pouca concorrência, deverá continuar a alimentar o apetite dos compradores.

China ensombra perspetivas
Apesar deste bom capítulo na história da empresa, a Nvidia tem um calcanhar de Aquiles chamado China. Em abril, a Administração Trump impediu a fabricante de chips de exportar para a China os processadores gráficos H20, uma versão menos musculada do seu principal produto, que tinha sido desenhada de propósito para aquele mercado. A decisão foi entretanto revertida e, no início deste mês, o Departamento do Comércio voltou a autorizar a venda de processadores H20 para o mercado chinês. Não é certo é que a China os queira comprar agora.
Nas últimas semanas, a imprensa internacional deu conta dos esforços de vários reguladores chineses para limitarem as aquisições de chips H20 pelas empresas. A decisão, conta o Financial Times, foi tomada à luz de declarações do secretário do Comércio dos EUA que foram vistas como “insultuosas” pelo regime de Pequim. “Nós não lhes vendemos o nosso melhor produto, nem o segundo melhor produto, nem sequer o terceiro melhor. Queremos vender aos chineses o suficiente para os seus programadores ficarem viciados na tecnologia americana, é esse o pensamento”, afirmou Howard Lutnick.
Apesar das visitas à China do CEO da Nvidia, Jensen Huang, como parte dos esforços para retomar o negócio da Nvidia nesse mercado, as autoridades chinesas estarão determinadas em apostar agora na tecnologia desenvolvida por empresas como Huawei e Cambricon. Aliás, o próximo modelo da DeepSeek, a empresa chinesa de IA que ganhou fama mundial após lançar um modelo avançado de IA treinado com baixo custo, já estará a ser desenvolvido recorrendo a processadores da Huawei.
Ninguém sabe ao certo qual o limite da atual vaga da IA. O certo é que, pelo menos por agora, nenhuma das principais gigantes da tecnologia está a pensar em puxar do travão no investimento. Dados citados pelo FT estimam que Microsoft, Google, Meta e Amazon deverão aplicar 350 mil milhões de dólares em infraestrutura para IA, nomeadamente em data centers. São precisamente os principais clientes da Nvidia, naquele que é, atualmente, o principal mercado para a empresa.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Rebenta a bolha? Resultados da Nvidia testam apetite dos investidores por IA
{{ noCommentsLabel }}