Guterres exige fim de mentiras e obstáculos na ajuda a Gaza

  • Lusa
  • 17:15

"Gaza está coberta de escombros, de corpos e de exemplos do que podem ser graves violações do direito internacional", afirma o secretário-geral da ONU.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, exigiu esta quinta-feira o fim das “mentiras”, “desculpas” e “obstáculos” na entrega de ajuda humanitária à Faixa de Gaza, território sujeito a um “catálogo interminável de horrores”.

Gaza está coberta de escombros, de corpos e de exemplos do que podem ser graves violações do direito internacional”, afirmou Guterres aos jornalistas, antes de discursar numa reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre o Haiti. “A fome da população civil nunca deve ser utilizada como método de guerra. Os civis devem ser protegidos. O acesso humanitário deve ser irrestrito. Chega de desculpas. Chega de obstáculos. Chega de mentiras”, exigiu o líder da ONU.

Na semana passada, e pela primeira vez no Médio Oriente, a ONU declarou um cenário de fome em parte do território da Faixa de Gaza e disse que a situação podia ter sido evitada se não fosse “a obstrução sistemática de Israel”. O IPC (sigla em inglês), um organismo da ONU com sede em Roma que monitoriza a segurança alimentar a nível mundial, confirmou que uma situação de fome estava em curso em Gaza.

Contudo, Israel e Estados Unidos rejeitam as conclusões deste relatório, com membros do Governo israelita a defender que o documento foi “fabricado” de forma a “demonizar” Telavive.

Nas declarações aos jornalistas, Guterres criticou ainda os passos iniciais de Israel para tomar militarmente a Cidade de Gaza, classificando a situação como uma nova e perigosa fase no conflito e avaliando que a expansão das operações militares terá consequências devastadoras.

“Centenas de milhares de civis – já exaustos e traumatizados – seriam forçados a fugir mais uma vez, colocando as suas famílias em perigos ainda maiores. Isto precisa acabar”, insistiu. O ex-primeiro-ministro português condenou também o ataque israelita desta semana contra o Hospital Nasser, em Khan Yunis, que matou vários civis, incluindo profissionais de saúde e jornalistas, reforçando que tudo isto acontece “com todo o planeta a assistir”.

“É preciso haver responsabilização”, frisou. “As pessoas estão a morrer de fome. As famílias estão a ser dilaceradas pelo deslocamento e pelo desespero. As grávidas enfrentam riscos inimagináveis. E os sistemas que sustentam a vida foram sistematicamente desmantelados. Estes são os factos no terreno. E são o resultado de decisões deliberadas que desafiam a humanidade básica”, disse.

Dirigindo-se diretamente a Israel, o líder da ONU reforçou que, enquanto potência ocupante, Telavive tem obrigações claras, incluindo o dever de concordar e de facilitar um acesso humanitário muito maior, assim como de proteger os civis e as infraestruturas civis. Desde o início deste conflito, em outubro de 2023, 366 funcionários da ONU foram mortos em Gaza.

Com um grande risco pessoal, os trabalhadores humanitários continuam a atuar no enclave palestiniano, mas os seus esforços estão a ser bloqueados, atrasados e negados diariamente, lamentou António Guterres, referindo-se aos obstáculos que Telavive impõe às missões de ajuda humanitária que esperam por dias nas fronteiras de Gaza sem obter uma autorização de passagem de Israel.

A solução, reiterou Guterres, está num cessar-fogo imediato, na libertação incondicional de todos os reféns mantidos pelo grupo islamita palestiniano Hamas e na entrada irrestrita de ajuda humanitária em Gaza. A guerra em curso em Gaza foi desencadeada pelos ataques liderados pelo grupo extremista palestiniano Hamas em 7 de outubro de 2023 no sul de Israel, que causaram cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns.

A retaliação de Israel já provocou mais de 62 mil mortos, a destruição de quase todas as infraestruturas de Gaza e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas. Israel também impôs um bloqueio à entrega de ajuda humanitária no enclave, onde mais de 300 pessoas já morreram de desnutrição e fome, a maioria crianças.

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