Tecnológica envolvida na Operação Nexus declarada insolvente
Processo de insolvência da tecnológica investigada na operação Nexus foi entregue à administradora Helena Sofia Costa Marques Saraiva. Reunião de credores ficou agendada para dia 29 de outubro.
A tecnológica Decunify, que esteve no centro da Operação Nexus, uma investigação que revelou um alegado esquema para ganhar contratos públicos com várias entidades, entre elas o Banco de Portugal, vai avançar para a insolvência. Os credores da empresa, com sede no Porto e que empregava mais de uma centena de pessoas no final de 2024, dispõem agora de um mês para reclamar os seus créditos, antes da reunião de credores agendada para 29 de outubro.
A sentença de declaração de insolvência da Decunify – Soluções de Comunicações, SA, com sede na Avenida de França, N.º 893, Cedofeita, no Porto, foi proferida pelo Tribunal Judicial da Comarca do Porto, Juízo de Comércio de Vila Nova de Gaia, no dia 28 de agosto, de acordo com a documentação publicada no Citius, depois de a própria empresa ter apresentado o pedido de insolvência no dia 5 de agosto.
Segundo o mesmo documento, os credores dispõem de um prazo de 30 dias para reclamarem os seus créditos junto da administradora da insolvência, Helena Sofia Costa Marques Saraiva, assim como a “existência de quaisquer garantias reais de que beneficiem”. A reunião de credores para apreciação do relatório da administradora ficou marcada para dia 29 de outubro, pelas 09:15.
Entre a longa lista de credores citada no Citius surgem bancos como a Caixa Geral de Depósitos, Banco BPI, BIC, ou Bankinter. Há ainda credores individuais e empresas, como a Ana Aeroportos de Portugal, Bragaparques – Estacionamentos, DPD Portugal, a Fundação Calouste Gulbenkian, ou a Infraestruturas de Portugal, entre muitos outros.

O processo de insolvência da tecnológica surge depois de ter sido divulgado o envolvimento da empresa na Operação Nexus, que investigou um alegado esquema criminoso para obtenção de informação privilegiada em procedimentos de contratação pública e privada e que levou à detenção de seis indivíduos no passado mês de julho, na sequência de mais de uma centena de buscas realizadas pelas autoridades em todo o país. Quatro pertencem à Decunify.
Quase 55 milhões em projetos públicos desde 2020
Segundo a investigação, eram entregues “vantagens patrimoniais e não patrimoniais a funcionários” das entidades contratantes, “em subversão das regras da transparência, igualdade e concorrência do mercado e da boa aplicação de fundos públicos”. Assim, foi possível garantir “adjudicações no valor de, pelo menos, 20 milhões de euros”, de acordo com a PJ.
Apenas entre 2020 e 2025, a Decunify ganhou a adjudicação de 514 contratos públicos no valor de 54,9 milhões de euros, segundo os dados divulgados no Portal Base, onde são publicados os contratos públicos.
Destes contratos, 49, no valor de 2,5 milhões de euros, foram faturados no ano de 2025. 2022 foi o ano em que a tecnológica conseguiu o valor agregado de contratos mais valioso: 29,55 milhões de euros.
Os últimos resultados apresentados pela tecnológica dão conta de um resultado líquido de 1,01 milhões de euros em 2024, face aos 952 mil euros reportados um ano antes. Já o volume de negócios situou-se nos 26,6 milhões de euros, menos 14% que os 30,4 milhões registados em 2023.
A empresa, que empregava 111 colaboradores no final de 2024, fechou o ano passado com um ativo de 20,81 milhões de euros e um capital próprio de 4,50 milhões de euros, e um fundo de maneio de 2,12 milhões. Já a dívida superava os 13,2 milhões de euros.
Segundo o documento divulgado no Citius, constam como administradores da empresa Manuel Alberto Sequeira da Silva, Manuel Laurindo de Oliveira, Carlos Miguel da Silva Camelo e Luís Filipe da Fonseca Pereira dos Reis.
A Decunify apresenta-se, no seu site, como “uma empresa do Grupo Decsis“, que “serve os clientes mais exigentes com projetos à medida, utilizando tecnologias e serviços inovadores”.
“Desde a fase de projeto e implementação, à operação e manutenção, complementando com serviços técnicos qualificados e ferramentas avançadas garantimos um serviço completo para otimizar o seu negócio”, explica, acrescentando que mantém “sólidas parcerias com fabricantes nacionais e internacionais”.
Na lista de clientes identificada pela Decunify na sua página da Internet surgem entidades como o Banco de Portugal, o INEM, a Sonae, Brisa, Continental ou a Navigator.
Já o Grupo Decsis diz ter iniciado a atividade em julho de 1994, tendo “vindo a crescer de forma sustentada, diversificando o seu portefólio de serviços e inovando continuamente para responder às exigências de um mercado em constante evolução. “Ao longo do seu percurso, a DECSIS alcançou marcos importantes, entre os quais se destacam o projeto e construção do seu próprio data center“, informa no respetivo portal.
Caberá agora à administradora da insolvência preparar o plano de insolvência a levar aos credores. “Pode ser aprovado Plano de Insolvência, com vista ao pagamento dos créditos sobre a insolvência, a liquidação da massa e a sua repartição pelos titulares daqueles créditos e pelo devedor”, refere o documento publicado no Citius.
O ECO tentou contactar telefonicamente a empresa, sem sucesso.
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