Acidente no Elevador da Glória terá impacto limitado no turismo em Lisboa
Representantes do setor afastam reações com impacto na atividade turística na capital portuguesa depois do trágico acidente no elevador da Glória, não antecipando quebra na procura.

Com vários turistas estrangeiros entre as 16 vítimas mortais, o trágico acidente no elevador da Glória não será suficiente para manchar a imagem da cidade e do país em termos turísticos. Representantes do setor ouvidos pelo ECO concordam que apesar do “fantasma que vai prevalecer nos próximos tempos”, a região da capital “saberá ultrapassar o impacto deste acontecimento” e “conseguirá restaurar a confiança” dos residentes e também dos visitantes internacionais.
“Infelizmente, acidentes, acidentes naturais e outros, em locais e cidades turísticas e outras, acontecem em qualquer parte do mundo. É preciso serenidade para avaliar as causas, agir com rigor e celeridade e comunicar com rigor e transparência”, afirma ao ECO a vice-presidente executiva da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP).
Cristina Siza Vieira reforça que “Portugal é e continua a ser um destino seguro, moderno e com as melhores práticas” e que, por isso, “a confiança dos visitantes em Lisboa e em Portugal não será abalada”. A representante dos hoteleiros realça ainda que “os profissionais do turismo português, e os lisboetas, são pessoas resilientes e acolhedoras que saberão, também agora, responder com responsabilidade e esperança”.
Portugal é e continua a ser um destino seguro, moderno e com as melhores práticas. A confiança dos visitantes em Lisboa e em Portugal não será, por isso, abalada.
“Naturalmente que é uma notícia negativa, não ajudando a cidade”, começa por reagir ao ECO o presidente da Associação Portuguesa de Agências de Viagens e Turismo (APAVT). “Ainda assim, o que aprendemos de situações anteriores é que, uma vez percebido que foi um acidente isolado, o mercado não tem memória e regressa muito rápido“, refere Pedro Costa Ferreira.
O líder desta associação antecipa que “apesar de ser uma notícia muito triste, não vai alterar os números globais da cidade”, que o ano passado atingiu um marco histórico ao superar, pela primeira vez, os 21 milhões de dormidas em alojamentos turísticos, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).
À semelhança do porta-voz da Associação Portuguesa de Agências de Viagens e Turismo, a Entidade Regional de Turismo da Região de Lisboa acredita que a capital “saberá ultrapassar o impacto deste acontecimento“, destacando que o “Elevador da Glória é parte integrante da identidade de Lisboa e um marco emblemático para todos os que a visitam”.
O Elevador da Glória é parte integrante da identidade de Lisboa e um marco emblemático para todos os que a visitam. Acreditamos que Lisboa saberá ultrapassar o impacto deste acontecimento.
Em comunicado, a instituição liderada por Carla Salsinha realça ter “plena confiança” no trabalho das autoridades competentes, destacando “que estão a desenvolver todos os esforços necessários para apurar as causas do acidente e assegurar as condições” de segurança. “Essa ação célere e rigorosa será determinante para restaurar a confiança de residentes e visitantes”, nota ainda a entidade regional.
A Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (Ahresp) destaca que o episódio “não terá consequências de fundo na visitação de Lisboa, desde que a resposta seja firme, transparente e imediata” de apurar as causas do ocorrido para evitar que se repita. “Apenas conhecendo o que falhou será possível implementar as correções necessárias e assegurar que situações semelhantes não se repetem, garantindo que Lisboa continua a ser um lugar seguro”, reitera.
“Este acidente não deve manchar a imagem de Portugal como destino turístico. Se houver rigor na investigação, firmeza nas medidas de correção e transparência na comunicação, Lisboa continuará a afirmar-se como uma capital europeia de referência, onde tradição e modernidade convivem com segurança e qualidade”, refere a associação, em resposta ao ECO.
Quatro portugueses, dois espanhóis, um coreano, um cabo-verdiano, um canadiano, um italiano, um francês, um suíço e um marroquino estão entre os 21 feridos contabilizados até ao momento, estando cinco deles em estado crítico, de acordo com o balanço mais recente. Ainda falta apurar a nacionalidade de quatro feridos, detalhou a diretora do serviço municipal da Proteção Civil.
“No domínio da comunicação, fundamentalmente, para todo o exterior, e sobretudo para aqueles que nos procuram para passar férias, eu diria que Lisboa ficou um bocadinho chamuscada com esta situação“, diz ao ECO Duarte Magalhães, que é pós-graduado em Gestão Autárquica e doutorado em Marketing das Cidades.
Por outro lado, o especialista está convencido de que “com alguma maestria no domínio da comunicação e com o acompanhamento rigoroso de todo o processo e a recuperação em segurança destra atração, que é um espaço de interesse na cidade de Lisboa, as coisas podem normalizar”.
No domínio da comunicação, fundamentalmente, para todo o exterior, e sobretudo para aqueles que nos procuram para passar férias, eu diria que Lisboa ficou um bocadinho chamuscada com esta situação.
“Não vai haver certamente uma quebra de procura. Mas vai haver sempre um fantasma que vai prevalecer nos próximos tempos enquanto as coisas não foram devidamente certificadas“, acrescenta Duarte Magalhães, coautor do livro “City Marketing – My place in XXI”, publicado em 2010.
“Não prevemos qualquer impacto no turismo devido a este acidente. Se rebentam bombas no Egito e, passado 2 meses, os níveis de ocupação estão semelhantes, não será por causa deste acidente que os turistas deixarão de vir ou que conferências e eventos venham a ser cancelados”, ilustra Luís Pedro Carmo Costa, sócio da Neoturis.
Para o consultor, “se queremos falar da imagem do País, então os fogos anuais serão uma muito maior preocupação, nomeadamente para o setor do turismo no Interior de Portugal, que sofrendo de maior sazonalidade, necessita mesmo de um julho e agosto sem incidentes para o seu sucesso – fora as consequências posteriores de uma paisagem completamente queimada ao redor de pontos turísticos”.
Se rebentam bombas no Egito e, passado 2 meses, os níveis de ocupação estão semelhantes, não será por causa deste acidente que os turistas deixarão de vir ou que conferências e eventos venham a ser cancelados.
Questionado pelo ECO sobre os eventuais impactos deste acidente no turismo lisboeta, o presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP), Francisco Calheiros, não quis responder. Já a confederação que lidera emitiu um comunicado a expressar “as mais sinceras condolências às famílias e amigos das vítimas”, frisando a “imensa tristeza e consternação” com que tomou conhecimento do acidente ocorrido no Elevador da Glória.
O acidente no histórico elevador da Glória, que foi funciona desde 1855, está a merecer ampla cobertura nos media internacionais, até porque Lisboa é um dos destinos europeus mais procurados por turistas de todo o mundo.
Por outro lado, a Associação de Dinamização da Baixa Pombalina (ADBP), alertou para a necessidade de uma “atuação conjunta das autoridades” com vista a “restabelecer a confiança” na capital portuguesa, após o acidente no Ascensor da Glória.

“A dimensão desta tragédia e o seu eco tanto na imprensa nacional como internacional exigem uma atuação conjunta das autoridades e das instituições, no sentido de restabelecer a confiança numa Lisboa segura, acolhedora e digna para todos os que aqui vivem e para todos os que a visitam”, afirma a ADBP em comunicado.
No plano político, o primeiro-ministro prometeu celeridade nas averiguações para apurar a causa do acidente do elevador da Glória. “Vamos apurar todas as responsabilidades com sentido de respeito por aqueles que sentiram e sofrem os efeitos deste acidente”, disse Luís Montenegro no final da reunião do Conselho de Ministros.
“Portugal foi abalado por um terrível acidente. Esta é uma das maiores tragédias humanas da nossa história recente”, salientou o chefe do Governo numa declaração ao país feita a partir de São Bento, acrescentando que “o trágico acidente que afetou o país ultrapassa fronteiras e é uma dor que não tem nacionalidade”.
O presidente da Câmara de Lisboa, que participou esta manhã na reunião do Executivo, pediu igualmente “apoio e celeridade na investigação” ao acidente do Elevador da Glória. Carlos Moedas anunciou ainda ter solicitado à Carris a abertura de uma investigação externa independente, além da auditoria interna.
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