Fuga de sucata. Industriais portugueses do alumínio querem taxar exportações

Exportações de sucata da UE cresceram quase 50%, nos últimos 5 anos, enquanto a geração doméstica de sucata pós-consumo aumentou apenas 19%. APAL quer travar fuga de sucata com taxas de 20% a 40%.

Os industriais portugueses defendem a criação de uma taxa sobre a exportação de sucata de alumínio por parte da União Europeia, que pode variar entre 20% e 40%, para reter a sucata na Europa. A Associação Portuguesa do Alumínio (APAL) alerta que “a ausência de ação imediata colocará em risco a indústria de reciclagem europeia, acentuando a dependência externa e dificultando o cumprimento das metas climáticas e de economia circular da União Europeia”.

O apelo é dirigido à Presidência do Conselho Europeu, ao Governo português e aos deputados nacionais no Parlamento Europeu. E surge num contexto em que as exportações europeias atingiram valores recorde de 1,3 milhões de toneladas em 2024, com destino sobretudo à Índia, Malásia, Indonésia, China e, mais recentemente, aos Estados Unidos, contabiliza a associação.

Em comunicado, a APAL cita os dados analisados pela HARBOR Aluminum Intelligence Unit, que dão conta que nos últimos cinco anos as exportações de sucata da União Europeia cresceram quase 50%, enquanto a geração doméstica de sucata pós-consumo aumentou apenas 19%.

“A recomendação da HARBOR Aluminum aponta para a adoção de uma taxa uniforme entre 20% e 40%, suficiente para reduzir fluxos de exportação e reter sucata na Europa, garantindo a viabilidade da indústria e o cumprimento das metas de circularidade”, refere a associação no mesmo comunicado.

Sem esta ação decisiva [de criar uma taxa sobre as exportações de sucata], a sobrevivência da indústria de reciclagem europeia e portuguesa está em risco.

José Dias

Presidente da APAL

“Sem esta ação decisiva, a sobrevivência da indústria de reciclagem europeia e portuguesa está em risco”, afirma José Dias, presidente da direção da APAL, apelando ao apoio político para uma medida considerada vital para o futuro do setor.

Segundo a APAL, apesar de o tecido empresarial português do alumínio ser constituído maioritariamente por pequenas e médias empresas (PME), muitas destas empresas já atingiram escala internacional: exportam, em média, 35% da sua produção.

A associação destaca que esta “fuga de sucata” resulta de uma procura crescente na Ásia – com a Índia a reforçar a sua posição como principal destino, sustentada pelo rápido crescimento do setor automóvel, e a China a alargar as especificações de importação de sucata desde 2024. Uma situação que se agrava “com os efeitos da Secção 232 nos Estados Unidos que, ao isentar a sucata de tarifas, aumentou a atratividade da exportação europeia para aquele mercado“.

“Esta dinâmica internacional tem comprimido as margens da indústria europeia de alumínio reciclado, já que a sucata representa entre 75% e 85% dos custos de produção“, explica o mesmo comunicado, acrescentando que em Portugal funciona toda a cadeia de gestão sustentável e economia circular deste metal.

A APAL destaca que, apesar de o alumínio ser 100% reciclável, “o setor debate-se atualmente com escassez de sucata para suprir as suas necessidades” e “o aumento das exportações ameaça diretamente os investimentos europeus em novas capacidades de reciclagem e em tecnologias de triagem avançada, que enfrentam agora o risco de subutilização por falta de matéria-prima”.

“A introdução de uma taxa de exportação aplicável a todos os destinos não constitui uma medida protecionista, mas sim uma forma de corrigir desequilíbrios de mercado provocados por práticas comerciais desleais e de salvaguardar a estratégia industrial e climática europeia”, remata o comunicado.

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