Lockheed Martin desvaloriza componente geopolítica para vender F-35 a Portugal
A Lockheed Martin quer ter uma "relação de longo prazo" com a indústria nacional, mas tudo está dependente da compra dos F-35 pelo Estado português.
Na hora de vender caças, a americana Lockheed Martin não receia a concorrência europeia e em Portugal acena com parcerias com a indústria nacional como argumento para a compra dos F-35 para renovar a frota dos nossos F-16 em ‘fim de vida’. Mas a aposta, dizem, está dependente da compra dos caças americanos.
“Adoro concorrência e ganhamos sempre”, atira Gregory G. Day, director do F-35 International Business Development, esta sexta-feira num encontro com jornalistas, quando questionado se não receava a concorrência da indústria de defesa europeia.
Numa semana, foi a segunda companhia a vir a Portugal para promover as virtudes dos seus caças — na quinta-feira foi a vez da sueca Saab promover os seus Gripen — num momento em que Portugal procura uma solução para renovar a sua frota de aviões de combate F-16.
A opção pelos caças furtivos F-35 agrada à Força Aérea Nacional, como admitia em maio do ano passado, em declarações à CNN Portugal, o CEMFA Cartaxo Alves. Para isso, haveria que desembolsar, a 20 anos, 5,5 mil milhões de euros pelas 27 aeronaves.
Gregory G. Day não confirma esses valores, nem adianta numa estimativa de custo — este é um tema que tem de ser negociado entre o governo português e americano — mas admite que a empresa já teve contactos com a Força Aérea, mas não com o Governo português.
O responsável também afasta receios do atual momento geopolítico entre os Estados Unidos e a Europa afetar o programa dos F-35, destacando o envolvimento das nações europeias — como o Reino Unido, Dinamarca, Itália ou Noruega — no desenvolvimento deste programa. “Este é um programa europeu desde o primeiro dia”, reforça, e destacando o facto de estas aeronaves estarem, neste momento, a proteger os céus europeus. Até 2030, mais de 700 F-35 estarão a voar no Velho continente, com nações como a Alemanha, Bélgica ou Polónia a ter este equipamento.
Mais, refere, a produção dos F-35 envolvem 900 parceiros industriais e 25% dos caças são construídos com peças made in Europa, com Itália a receber uma das três unidades de produção.
“Relação de longo prazo” com indústria nacional
É neste ecossistema que a Lockheed Martin quer envolver a indústria de defesa — e não só — nacional, tendo em junho fechado um memorando de entendimento (MoU) com o AED Cluster, o agrupamento de empresas da indústria de defesa ou aeroespacial nacional.
“As conversas estão a decorrer até termos amadurecido para uma assinatura, em parte porque temos de garantir que estamos totalmente alinhados com o Governo [português] para assegurar que esses são os projetos que eles também valorizam”, diz Gregory G. Day.
“Estamos inflexíveis em trabalhar o nosso memorando de entendimento com o AED para, efetivamente, envolver a indústria portuguesa”, reforça.
O responsável pelo negócio F-35 não detalha com que empresas se têm vindo a sentar à mesa, mas garante que não só estão à procura de “uma relação de longo prazo”, como para o contributo que a indústria nacional poderá dar a toda a atividade da Lockheed Martin.
“Estamos a olhar de forma transversal para todo o portefólio para fazer as parcerias certas, se o limitasse ao F-35 seria colocar-nos algemas no que podemos entregar à indústria portuguesa e à nossa empresa e não é assim que abordamos este tema. Olhamos para as quatro áreas de negócio” da companhia, que atua tanto na área de defesa área, como no desenvolvimento de mísseis ou aeroespacial, diz quando questionado pelo ECO.
Mas tudo depende se Portugal comprar os aviões? “São coincidentes. É essa a intenção”, afirma ao ECO.

Ambiente geopolítico poderá influenciar decisão?
Apesar da ligação europeia ao programa e deste ser “à prova de qualquer Administração”, o atual momento político e entre Estados Unidos e Europa pode jogar contra a Lockheed Martin.
Em março o ministro da Defesa, admitia que esse era também um ponto de ponderação. “Os F-16 estão em fim de ciclo e teremos que pensar na sua substituição. Mas, nas nossas escolhas, não podemos ficar alheados da envolvente geopolítica. A recente posição dos Estados Unidos, no contexto da NATO e no plano geoestratégico internacional, tem que nos fazer pensar as melhores opções, porque a previsibilidade dos nossos aliados é um bem maior a ter em conta”, afirmava em entrevista ao Público.
O que diz a Lockheed Martim sobre isso? “Os méritos do F-35 destacam-se por si só. Se alguém tomar uma decisão com uma base política não tenho uma opinião da Lockheed Martim sobre isso”, diz Gregory G. Day, ao ECO. “Pessoas que avaliaram este projeto em várias contingências e diferentes Administrações escolheram o F-35. Se fosse hoje à nossa fábrica veria aviões com diferentes bandeiras e essas nações vão lá várias vezes por ano para ratificar a direção do programa”, continua.
“Independentemente, do Governo português escolher ou não o F-35, seja qual for a razão, tentamos hoje apresentar as razões pelas quais será benéfico, mas caberá ao vosso Governo tomar a decisão no seu próprio tempo“, diz.
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