Italianos da MFE conquistam apoio de dois fundos acionistas da Impresa

Entre cortes e apostas por parte de dois dos principais acionistas da Impresa, ambos partilham da ideia de que os italianos da MediaForEurope podem ser a tábua de salvação da empresa nacional.

Dois dos principais acionistas da Impresa têm estratégias opostas relativamente à participação na empresa, mas concordam num ponto: a entrada dos italianos da MediaForEurope (MFE) no capital seria benéfica.

Enquanto o GNB Portugal Ações tem reduzido a sua posição na Impresa, o Sixty Degrees Ações Portugal apostou forte no grupo que detém a SIC e o Expresso, numa altura em que a empresa atravessa uma das piores crises financeiras da sua história.

A divergência estratégica dos dois fundos de ações nacionais reflete as incertezas em torno da Impresa, que precisa de uma recapitalização de cerca de 80 milhões de euros para reequilibrar as contas. A empresa registou prejuízos consolidados de 66,2 milhões de euros em 2024, levando os capitais próprios a descerem para apenas 89,7 milhões de euros, representando uma autonomia financeira de apenas 26%.

Já há algum tempo que tínhamos ideia das dificuldades financeiras da empresa e temos vindo a vender a nossa posição que neste momento é muito residual e não tem qualquer expressão para a dimensão do fundo.

Pedro Barata

Gestor do GNB Portugal Ações

Pedro Barata, gestor do GNB Portugal Ações, cortou em 28% a posição que o fundo tem na Impresa entre abril e agosto. No final de agosto, o fundo detinha mais de 1,8 milhões de ações da Impresa, equivalente a 2,2% das ações em free float, com a Impresa a representar apenas 0,3% na carteira do fundo em agosto.

“Já há algum tempo que tínhamos ideia das dificuldades financeiras da empresa e temos vindo a vender a nossa posição que, neste momento, é muito residual e não tem qualquer expressão para a dimensão do fundo”, revela o gestor ao ECO.

Com uma estratégia distinta está o Sixty Degrees Ações Portugal, gerido por Virgílio Garcia, que aumentou em 46% a posição na Impresa entre dezembro e agosto. O fundo detém agora mais de 670 mil ações da empresa, equivalente a 0,8% das ações em free float, e pesando 0,31% na carteira do fundo de ações nacionais em agosto.

Para já, temos intenção de manter a posição até perceber os contornos totais da operação e o potencial de melhoria que possa significar.

Virgílio Garcia

Gestor do Sixty Degrees Ações Portugal

Contudo, não significa que esta tenha sido uma aposta particular da equipa de Virgílio Garcia na empresa de Francisco Pinto Balsemão. O aumento da posição na Impresa espelhou o aumento dos ativos do Sixty Degrees Ações Portugal neste período, que fez com que o gestor procurasse manter a posição relativa da Impresa no fundo – tal como sucedeu com grande parte das outras posições.

“Temos tido subscrições crescentes. Cada vez que isso acontece, fazemos um basket que compra uma réplica da exposição existente. Se tinha 0,3% de Impresa, quando entram 50.000 euros, compro 0,3% x 50.000 euros de Impresa”, esclarece Virgílio Garcia.

Otimismo com a chegada dos italianos

Diogo Avelar, analista de ações da Sixty Degrees, vê a potencial operação como uma evolução natural do setor. “É uma operação natural no meio da consolidação europeia dos media e na ‘batalha’ contra os novos players não tradicionais/plataformas digitais”, explica.

O analista destaca as vantagens que os italianos podem trazer. “A empresa italiana, com larga experiência no setor, tem vindo a procurar ativos pela Europa (penso que Alemanha e Espanha são os targets atuais)” e “trazem não só poder financeiro, mas também conhecimento do setor”.

Também Pedro Barata vê com otimismo a entrada da MFE no capital da Impresa. “A entrada da MFE, a concretizar-se, penso que será benéfica para a Impresa. Numa altura em que a Impresa atravessa dificuldades financeiras, a entrada de um novo acionista com músculo financeiro e capacidade de investimento, deve ser vista de uma forma positiva“, diz.

Contudo, quando questionado sobre os planos para a posição do GNB Portugal Ações na Impresa, o gestor prefere não fazer qualquer comentário, numa altura em que o grupo negocia com os italianos da família Berlusconi. Já Virgílio Garcia, gestor do Sixty Degrees Ações Portugal, adota uma estratégia de espera ativa: “Para já, temos intenção de manter a posição até perceber os contornos totais da operação e o potencial de melhoria que possa significar.”

Para os gestores dos dois fundos, independentemente das suas estratégias divergentes, é claro que a entrada dos italianos representa uma oportunidade de salvação para uma empresa que, sozinha, dificilmente conseguirá ultrapassar a atual crise financeira.

Esta posição reflete a incerteza que paira sobre os termos finais da operação entre a Impreger, a holding que controla 50,31% da Impresa e que é detida maioritariamente pela família Balsemão através da holding Balseger, e a MediaForEurope (MFE), o gigante italiano da família Berlusconi.

Segundo fontes próximas do processo, o negócio poderá significar uma mudança de controlo acionista da Impresa, com a aquisição por parte dos italianos de 75% da Impreger. Caso se confirme, isso implicará a obrigatoriedade de uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre a Impresa SGPS, à luz do Código de Valores Mobiliários.

A MediaForEurope, com receitas consolidadas de 2,95 mil milhões de euros em 2024 e lucros de 137,9 milhões de euros, possui a solidez financeira necessária para resolver os problemas estruturais da Impresa, apontam os especialistas. O grupo italiano demonstrou recentemente a sua ambição europeia ao garantir mais de 75% da alemã ProSiebenSat.1.

Para os gestores dos dois fundos, independentemente das suas estratégias divergentes, é claro que a entrada dos italianos representa uma oportunidade de salvação para uma empresa que, sozinha, dificilmente conseguirá ultrapassar a atual crise financeira. A questão que permanece é saber se os atuais acionistas minoritários sairão beneficiados desta operação que pode redefinir o panorama mediático português.

No entanto, Diogo Avelar sublinha que esta operação não é um fim em si, mas apenas o potencial começo de alguma coisa. “As contas da Impresa ainda têm muito trabalho pela frente. Apesar do mercado português ser pequeno, há espaço para melhoria.”

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Italianos da MFE conquistam apoio de dois fundos acionistas da Impresa

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião