Montenegro diz que barracas têm ressurgido mais em autarquias socialistas e comunistas
Em reação, o líder do PS acusa Montenegro de "grande desumanidade" nestas declarações e Paulo Raimundo lembra os "11.500 agregados familiares" que vivem em Lisboa em "condições indignas”.
O líder do PSD afirmou esta terça-feira que as barracas e bairros de lata têm ressurgido sobretudo em autarquias socialistas e comunistas, defendendo que os presidentes de câmara sociais-democratas “não ficam a olhar” para este problema.
Luís Montenegro falava num almoço com todos os autarcas do distrito de Lisboa, a que só faltaram os independentes Isaltino Morais (Oeiras) e Sérgio Galvão (Torres Vedras) e no qual se centrou, sobretudo, nos problemas da habitação e segurança na Área Metropolitana de Lisboa.
“Estas candidaturas que nós aqui temos não são dos que ficam a olhar e observar o renascimento de núcleos de barracas. Não há que ter problemas de falar nas palavras como elas são: de barracas, de bairros de lata”, afirmou.
O também primeiro-ministro salientou que este tipo de habitação tinha sido “erradicada por um governo com a mesma inspiração ideológica”, referindo-se aos executivos liderados por Cavaco Silva.
“Voltaram devagarinho, aqui e ali, nesta margem e naquela do lado lá, a ressurgir, sobretudo – tem que se dizer também – em câmaras governadas pelo Partido Socialista e pelo Partido Comunista. É muito curioso observar que este novo movimento de ressurgimento de bairros de lata e de barracas aconteceu em municípios geridos pelo Partido Socialista e pelo Partido Comunista”, acusou.
Líder do PS acusa Montenegro de “grande desumanidade”
José Luís Carneiro acusou o primeiro-ministro de “grande desumanidade” nas declarações sobre o maior ressurgimento de barracas em autarquias socialistas e comunistas, questionando se sabe que estas estão a nascer maioritariamente dentro dos terrenos do Estado.
“Entendi ser uma declaração, como aliás já é costume, de uma grande desumanidade, porque o doutor Luís Montenegro devia saber que as pessoas que saíram de Lisboa, muitas delas por falta de resposta habitacional, por falta de condições de vida, aumentou o número de sem-abrigo e muitos procuraram nas periferias de Lisboa a resposta, que é uma resposta com muita indignidade”, respondeu José Luís Carneiro aos jornalistas no final da primeira ação de campanha no dia, em Faro.
Na opinião do secretário-geral do PS, esta situação deveria “interpelar o primeiro-ministro do país para responder aos cidadãos sobre aquilo que está a fazer para responder à habitação”.
“Já agora faço uma pergunta que gostava que o doutor Luís Montenegro pudesse responder: o doutor Luís Montenegro, por acaso, tem consciência de que uma parte onde mais barracas estão a nascer é dentro dos terrenos do Estado e do Instituto de Habitação”, questionou.
Segundo Carneiro, se o primeiro-ministro não tem conhecimento desta situação “deve visitar e deve perguntar” o que está o Ministério das Infraestruturas “a fazer para responder a um problema grave do ponto de vista social”.
Raimundo lembra os “11.500 agregados familiares” que vivem em Lisboa em “condições indignas”
Também em reação, o secretário-geral do PCP acusou o primeiro-ministro de “afronta” e de “aproveitar drama de milhares de famílias” para fazer campanha, frisando que há milhares de barracas que são da “direta responsabilidade do Governo”. Em declarações aos jornalistas antes de um comício na Praça da Corujeira, no Porto, Paulo Raimundo disse que o primeiro-ministro “vive numa bolha”.
“Custa-me dizer isto, mas é como disse: é cada tiro, cada melro”, respondeu Raimundo, considerando que, nas declarações que fez sobre as barracas, Luís Montenegro esqueceu-se de “dois pormenores”.
“O primeiro pormenor é que há duas mil barracas, duas mil habitações degradadas em território do Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU), em Almada. Ora, se eu não estou a ver mal, o IHRU é uma responsabilidade direta do Governo”, frisou. Por outro lado, o secretário-geral do PCP frisou que, se há autarquia onde, “infelizmente”, há um número significativo de pessoas a “viver em condições indignas” é Lisboa, câmara atualmente presidida por Carlos Moedas, autarca do PSD, onde “11.500 agregados familiares vivem em condições indignas”.
“Portanto, já não há palavras para descrever a afronta. O primeiro-ministro, cada vez que fala na habitação, é tiros nos pés”, defendeu, acusando Luís Montenegro de “viver no mundo onde as rendas de 2.300 euros são rendas moderadas”.
“Mas o país não é isso. Ele que se preocupe em resolver o problema da habitação em todo o território. Não venha agora aproveitar o drama de milhares de famílias para fazer campanha eleitoral para as autarquias”, pediu. Questionado sobre como viu as críticas diretas do primeiro-ministro às autarquias do PS e da CDU, Paulo Raimundo frisou que, se há coisa que não faz é “defender a Câmara Municipal de Almada”, atualmente gerida pelo PS, mas reiterou que há duas mil habitações clandestinas naquele concelho em terrenos do IHRU.
“Portanto, de quem é a responsabilidade? Não é do Governo? Estes anos parados do IHRU, sem resposta ao problema da habitação social, sem resposta à renda acessível nem às rendas moderadas do Governo, isto é responsabilidade de quem? Das autarquias?”, perguntou. Paulo Raimundo salientou que “nem é da responsabilidade das autarquias do PS, nem da CDU, nem mesmo do PSD, diga-se de passagem”.
“É responsabilidade do Governo e pronto… O primeiro-ministro continua a não dar uma para a caixa”, acusou.
(artigo atualizado às 19h57)
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