Vêm aí mais 1.500 negócios na gestão de ativos em quatro anos (mas acabam com 20% do mercado)
Consolidação está a unir cada vez mais concorrentes da gestão de ativos e património. Oliver Wyman e Morgan Stanley antecipam mais transações de M&A, mas um corte significativo no número de 'players'.
Há cada vez mais casamentos entre gestoras de ativos e fortunas. O setor vive um “novo normal”, com mais de 200 negócios relevantes por ano desde 2022, o que significa o dobro da década passada – e mais virão, antecipam a Oliver Wyman e o Morgan Stanley. É uma era de consolidação, que vai continuar, pelo menos, até 2029 com mais de 1.500 transações entre empresas de gestão de ativos e património, estimam a consultora e o banco de investimento, num relatório enviado ao ECO.
Para serem bem-sucedidas neste “novo normal”, é necessário que as empresas considerem movimentos de fusões e aquisições (M&A) como “alavanca central das suas estratégias de crescimento”. No entanto, como é habitual nestes processos, o mercado também está a encurtar. A previsão é que estes negócios resultem na redução de até 20% no número de gestores a nível global, com mais de mil milhões de dólares (855 milhões de euros) sob gestão, nos próximos cinco anos.
Os gestores de ativos de média dimensão, que têm entre 500 mil milhões e dois biliões de dólares (427 mil milhões a 1,7 biliões) sob gestão, são os mais expostos, porque apresentam uma rentabilidade inferior (margens operacionais de cerca de 26%) em comparação com a dos maiores (cerca de 44%) e dos mais pequenos (cerca de 36%). A sua rentabilidade caiu cerca de quatro pontos percentuais desde 2019, enquanto as empresas menores e maiores permaneceram relativamente estáveis.
“É uma estimativa global, mas esperamos um impacto semelhante na Europa, com menos 20% de gestores de ativos e de patrimónios. Na verdade, a maioria das transações emblemáticas recentes ocorreu – ou está a ocorrer – na Europa, como por exemplo AXA-BNP e Natixis-Generali, e prevemos que surjam mais”, explica um dos autores do estudo, Kamil Kaczmarski, em declarações ao ECO.
Essencialmente, existem três categorias de fusões e aquisições a emergir, apesar da diversidade, e todas têm por base os chamados “três C”: sinergias de Custos, novos segmentos de Clientes ou geografias, outras Capacidades e acesso a Capital inicial e permanente. A saber: transações intra-setoriais (dentro do mesmo vertical, portanto gestores de ativos que compram outros gestores de ativos), intersetoriais (que se expandem ao longo da cadeia de valor para fornecer serviços extra e aumentar o portefólio e experiência do cliente) e com investidores financeiros (financial sponsors, como sociedades de private equity).
À medida que os clientes de gestão de ativos se consolidam ou fazem parcerias estratégicas, e os da gestão de património aumentam expectativas e profissionalizam as suas relações (com multi-family offices ou single-family offices), as oportunidades de crescimento tornam-se mais escassas. Esperamos que a combinação destes fatores impulsione a consolidação.
Kamil Kaczmarski, sócio de Seguros e Gestão de Ativos na Oliver Wyman, considera que a atividade de M&A aumentará “nos próximos meses” e antecipa que “persista de forma mais estrutural nos próximos cinco anos”, em linha com o relatório Thinning The Herd: The Race For Relevance Fueling M&A (“Reduzir o rebanho – A corrida pela relevância estimulando as fusões e aquisições”).
Questionado sobre a crescente concorrência de ‘tecnológicas’ na indústria de private banking e gestão de fortunas, como a Revolut ou a TradeRepublic, Kamil Kaczmarski refere apenas que “os gestores de patrimónios afiliados a bancos privados estão a assistir ao crescimento da distribuição digital”. “E a explorar opções estratégicas para ganhar exposição, seja através de aquisições, seja por meio de parcerias ou de exposição indireta, como por exemplo, através de relações de custódia”, constata o partner do escritório de Frankfurt.
A gestão de património e de ativos foi, durante muito tempo, das áreas mais fragmentadas dentro dos serviços financeiros. Apesar das economias de escala, as empresas do setor não sentiam necessidade de consolidar, porque uma equipa coesa e clientes fiéis bastavam para alcançar a rentabilidade. “Havia crescimento orgânico suficiente para todos”, como lembra a análise, na qual participou também o consultor luso-alemão João Miguel Rodrigues. Situação que se alterou por completo no pós-pandemia.
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