Distribuição farmacêutica contribui com 302 milhões para a economia

Impacto económico deve-se sobretudo às vendas por grosso, serviços de transporte e consultoria. Peso dos fármacos cresce mais que receitas.

As empresas de distribuição farmacêutica têm um impacto na economia portuguesa no valor de 302 milhões de euros, o equivalente a 0,11% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, de acordo com uma análise da Deloitte divulgada esta quarta-feira na 3ª edição do Congresso Nacional da Distribuição Farmacêutica.

A contribuição do setor da distribuição farmacêutica para o PIB, que teve um crescimento de aproximadamente 31% desde 2020, inclui 192 milhões de euros de efeitos diretos, resultante dos gastos operacionais (combustível, material de escritório…) e investimentos em aquisição de frota, infraestruturas, entre outras. Já o impacto económico indireto é de 110 milhões de euros.

A maior fatia deste bolo corresponde às vendas por grosso (exceto veículos automóveis e motociclos) de 111 milhões de euros, seguindo-se serviços de transporte terrestre e por condutas (pipelines) com 39 milhões de euros e outros serviços de consultoria, científicos, técnicos e similares (33 milhões de euros).

O setor da distribuição de medicamentos emprega 2.056 pessoas em Portugal, entrega cerca de 360 milhões de embalagens de fármacos por ano através de aproximadamente 400 fornecedores. As vendas dos distribuidores – que atingiram os 2.762 milhões de euros em 2024 — têm estado a aumentar, pelo menos, desde a última década, mas face a 2023 cresceram apenas 5%.

Os custos dos medicamentos cresceram 758 milhões de euros desde 2016, o que representa um aumento de 42%, evoluindo a um ritmo mais acelerado que as vendas dos distribuidores.

O acréscimo “acompanha a recuperação substancial do mercado após os anos de crise, bem como a expansão do volume de medicamentos vendidos no canal farmacêutico”. No entanto, o estudo da Deloitte alerta que a exportação de fármacos é “altamente regulada” e com “processos de aprovação rigorosos”, como se confirma pelo facto de, em 2024, o Infarmed ter indeferido quase dez mil (9.559) pedidos de intenção de exportação, o que corresponde a mais de um terço (35%) dos pedidos a nível nacional.

Há outros desafios no horizonte: os custos das mercadorias vendidas e matérias consumidas (vulgo custo dos medicamentos), cujo peso na estrutura de custos dos distribuidores farmacêuticos é atualmente de 93%. A percentagem reflete “a necessidade de aquisição, armazenamento e manutenção de stocks mínimos para garantir a sustentabilidade e contínuo abastecimento das farmácias”, significa um “crescimento desproporcional face às receitas” e acentua as ameaças à sustentabilidade da indústria.

O presidente da Associação de Distribuidores Farmacêuticos (Adifa), Nuno Flora, aproveitou a intervenção no congresso – e a presença de um membro do Governo na audiência – para fazer pedidos: avançar com a atualização automática e anual de preços (à taxa de inflação) dos medicamentos, “para evitar erosão financeira”, e diferenciar a distribuição farmacêutica na lei.

A ministra da Saúde ouviu-o e garantiu que está a haver essa reflexão da inflação nos preços, mas deixou um alerta: “Talvez tenhamos que ganhar todos um pouco menos pela saúde de todos. Dentro do nosso perímetro orçamental, porque também queremos ver o PIB a crescer. A questão é como lá chegamos.” Ana Paula Martins afirmou ainda que é preciso mudar o estatuto de dispensa nos hospitais para alguns medicamentos, que permite aos utentes recolherem a medicação em farmácias ou centros de saúde mais próximos das suas casas.

Talvez tenhamos que ganhar todos um pouco menos pela saúde de todos. Dentro do nosso perímetro orçamental, porque também queremos ver o PIB a crescer. A questão é como lá chegamos.

Ana Paula Martins

Ministra da Saúde

É devido aos preços que, apesar do aumento de receitas, a margem EBITDA dos distribuidores tem registado uma descida gradual, de 2,8% em 2016 para 1,9% em 2024. O EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) situa-se nos 52 milhões de euros, portanto também abaixo (-5%) do lucro operacional de 2016.

Para o futuro, os consultores deixam uma série de linhas orientadoras com o objetivo de aumentar o serviço de utilidade ao utente e de melhorar a sustentabilidade económica do setor. As recomendações estratégicas, entregues à Associação de Distribuidores Farmacêuticos (Adifa), abrangem expansão, aumento do volume de negócios, eficiência operacional e digitalização.

  • Ampliar oferta tecnológica e logística às farmácias
  • Potenciar e reforçar o portefólio de genéricos
  • Desenvolver modelos digitais last mile (última milha)
  • Expandir presença no canal hospitalar
  • Antecipar e digitalizar a gestão da escassez
  • Promover equilíbrio nas políticas de remuneração
  • Automatizar processos com a indústria e farmácias
  • Explorar novas tecnologias, como inteligência artificial, para otimizar rotas e processos
  • Investir em ESG

Em Portugal, este mercado dos medicamentos divide-se entre farmacêuticas, produtos para a saúde e bem-estar do consumidor (consumer healthcare) e veterinária. No ano passado, o mercado da distribuição farmacêutica – medicamentos com e sem receita médica – atingiu os 2,9 mil milhões de euros, sendo que tem estado em crescimento desde 2016, quando totalizou 2.085 milhões de euros.

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