Incertezas globais levam ‘febre’ do ouro a romper barreira dos 4.000 dólares. ‘Rally’ ainda não vai esfriar

Goldman Sachs já vê a onça nos 4.900 dólares no final do próximo ano. Analistas avisam, no entanto, que as causas das subidas - incertezas globais - nos devem "deixar nervosos".

Um shutdown federal, a prolongada incerteza geopolítica com guerras no Médio Oriente e na Europa, receios sobre o impacto económico da guerra comercial, a perspetiva de cortes de taxas de juro pela Reserva Federal e um dólar enfraquecido. A lista de causas para a mais recente ‘febre’ do ouro nos mercados é longa e tem suportado o preço de um ativo visto como reserva de valor em tempos de instabilidade. E vai continuar a fazê-lo, segundo analistas.

Esta quarta-feira o preço do ouro ultrapassou os 4.000 dólares por onça pela primeira vez e às 11h08 negoceia nos 4.045,76 dólares. No acumulado do ano ganha 54%, após um aumento de 27% em 2024. É um dos ativos com melhor desempenho em 2025, superando os ganhos nos mercados acionários globais e na bitcoin e as perdas do dólar americano e do petróleo bruto.

“O ouro registou um rally histórico, duplicando em menos de dois anos, impulsionado pelas compras dos bancos centrais, que diversificam as suas reservas para além do dólar americano, pela política comercial agressiva do presidente Donald Trump e pelos conflitos no Médio Oriente e na Ucrânia“, referiu Ewa Manthey, commodities strategist do banco neerlandês ING.

Os bancos centrais a nível global estão a caminho de comprar 1.000 toneladas métricas de ouro em 2025, o que seria o quarto ano de compras massivas, à medida que diversificam as reservas de ativos denominados em dólares para ouro, disse a consultoria Metals Focus.

“Algo de negativo está a acontecer”

Os investidores estão a adicionar ETFs de ouro a um ritmo acelerado, explicou Ewa Manthey, do ING, sublinhando que na semana passada, os fundos negociados em bolsa ligados ao ouro expandiram-se novamente, levando o total de participações em ETFs de ouro ao nível mais alto desde setembro de 2022. “Ainda há espaço para novas adições, dado que o total atual permanece aquém do pico atingido em 2020. Mais entradas poderiam empurrar o ouro ainda mais para cima“.

A paralisação [federal] nos EUA atrasou dados importantes sobre a criação de emprego, “obscurecendo ainda mais as perspetivas económicas já incertas”, explicou. “Ainda assim, os mercados estão a prever um corte de um quarto de ponto neste mês [nas taxas de juro pela Reserva Federal], o que beneficiaria ainda mais o ouro, uma vez que é um ativo que não paga juros, e a incerteza política e as crescentes apostas na flexibilização do Federal Reserve estão a manter forte a procura por refúgios seguros”.

Para Rhona O’Connell, analista da Stone X, “os fatores contextuais são praticamente os mesmos de antes, em termos de incerteza geopolítica, com o agravante da paralisação do governo federal”. Sublinhou, citada pela Reuters, que “este último fator não está, contudo, a impedir a subida das cotações, mas, mesmo assim, haverá uma certa mitigação do risco por meio do ouro”.

Embora cada passo em alta tenha aumentado a perspetiva de um fim do rally, com indicadores a mostrarem que o mercado está cada vez mais sobrecomprado, o atingir dos 4.000 dólares pode abrir caminho para que o metal prolongue a sua tendência de alta até 2026.

Esta segunda-feira, o banco de investimento Goldman Sachs subiu a sua previsão para o preço do ouro em dezembro de 2026 para 4.900 dólares por onça.

“A atitude de momento parece ser que a subida continue, que de momento não haja queda”, disse David Wilson, analista do BNP Paribas, à Reuters. “Que série de eventos tem de acontecer para que o mundo respire fundo e pense: afinal, não é assim tão mau? Poderemos ver uma mudança na política dos EUA em matéria de tarifas, comércio e imigração?” questionou. “Neste momento, é difícil ver que eventos poderiam mudar repentinamente o sentimento em relação às perspetivas globais“.

O tom de preocupação é partilhado por Dan Smith, diretor-geral da Commodity Market Analytics: “O rally é inacreditável, indicando que algo de negativo está a acontecer e que devemos ficar nervosos“.

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