Lecornu apela à calma em clima de caos político em França com Europa assustada

  • Lusa
  • 16:02

O recém-reconduzido primeiro-ministro francês reconheceu hoje que não havia "muitos candidatos" ao cargo e admitiu que poderá não permanecer muito tempo na função

O recém-reconduzido primeiro-ministro francês reconheceu hoje que não havia “muitos candidatos” ao cargo e admitiu que poderá não permanecer muito tempo na função, face às profundas divisões políticas no país, situação que “assusta a Europa”, segundo a imprensa europeia.

Sébastien Lecornu, nomeado novamente pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, na noite de sexta-feira, após uma semana de caos político, apelou à calma e ao apoio dos partidos para viabilizar um orçamento para a segunda maior economia da União Europeia (UE) antes dos prazos que se aproximam.

Mais a mais, a imprensa europeia de hoje mostrou-se “consternada” com a “crise política interminável” que continua com a “escolha altamente controversa” de Macron, de reconduzir Lecornu como chefe do Governo

Nesse sentido destaca que a Europa está “preocupada com as repercussões económicas e financeiras de uma crise política sem fim à vista”, frisando que a recondução de Lecornu é vista como a última oportunidade de Macron para dar novo fôlego ao seu segundo mandato, que termina em 2027.

Aliás, o campo centrista do Presidente não tem maioria na Assembleia Nacional e enfrenta críticas crescentes, inclusive dentro do próprio partido.

Mas rivais de todo o espetro político, da extrema-direita à extrema-esquerda, criticaram a decisão de Macron de reconduzir Lecornu, o quarto primeiro-ministro da França em menos de um ano, numa altura em que o país enfrenta desafios económicos crescentes e um forte aumento da dívida, e a crise política agrava as dificuldades, gerando preocupação na União Europeia.

Lecornu, que se demitiu segunda-feira após apenas um mês no cargo, afirmou que aceitou regressar devido à necessidade urgente de encontrar soluções financeiras para França. No entanto, avisou que só permanecerá enquanto “as condições forem cumpridas” e admitiu a possibilidade de ser derrubado por uma moção de censura no parlamento fragmentado.

O primeiro-ministro não avançou datas para a formação de um novo Governo nem nomes para o compor, mas garantiu que não incluirá potenciais candidatos às presidenciais de 2027. Também não respondeu às exigências da oposição para revogar a polémica lei que aumentou a idade da reforma.

Ao longo do último ano, os sucessivos governos minoritários de Macron colapsaram rapidamente, mergulhando o país numa paralisia política num momento em que enfrenta uma crise da dívida que preocupa os mercados e os parceiros europeus, bem como uma taxa de pobreza em crescimento.

O diário britânico Financial Times realça que a renomeação de Lecornu é feita sob a ameaça de uma moção de censura mesmo antes do anúncio da composição do novo Governo, pelo que este “abalo” marca “o fim do ‘Macronismo'”.

“Após uma semana de caos […], tornou-se cada vez mais claro que a experiência de quase uma década de França com a política centrista rebelde de Macron está a chegar ao fim”, escreve o jornal, numa altura em que a popularidade do Presidente está em mínimos históricos.

Domina “um sentimento de fim de época”, nota o jornal espanhol El País, que descreve “um líder completamente isolado, odiado por uma fação do seu próprio partido e preso numa espiral delirante de declínio”.

“O brilhante tecnocrata, o reformista sem partido, o filósofo e banqueiro que se tornou presidente está ultrapassado. Resiste, agarra-se ao poder. Nada mais”, observou.

A decisão “sem precedentes” de Macron surge num momento em que a crise política em França se agrava, lamenta o jornal britânico The Guardian, sublinhando a “pressão” sobre Lecornu para formar rapidamente um Governo, pois o prazo é curto: o projeto de Orçamento para 2026 tem de ser apresentado na segunda-feira.

Essa é a data-limite para que o parlamento disponha dos 70 dias previstos na Constituição para analisar o documento antes de 31 de dezembro. Mas, antes de ser entregue aos deputados, o texto tem de passar pelo Conselho de Ministros.

O semanário alemão Der Spiegel ironiza com a “má comédia” de Macron, comparando a situação a uma peça de teatro de ‘boulevard’: “O amante secreto, que tinha sido escoltado até à saída, regressa pela janela do quarto.” Mas alerta sobretudo para “uma espiral descendente perigosa”.

“Há semanas que o drama político francês preocupa os parceiros da União Europeia e os credores do país”, recorda a publicação. “O país parece ingovernável, a dívida pública cresce sem controlo e a economia sofre.”

A França, segunda maior economia da zona euro, apresenta uma dívida pública de 3,4 biliões de euros (115,6% do PIB) e um crescimento enfraquecido pela retração do investimento.

Na terça-feira, a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, sublinhou que todas as instâncias europeias estão a acompanhar “com atenção” a evolução da situação política francesa, expressando “fortes esperanças de que sejam encontrados caminhos para cumprir os compromissos orçamentais internacionais”.

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