Luís Sítima: “O maior desafio de liderança é ser pai”
Juntou a área financeira aos RH e criou um novo conceito de consultoria. Luís Sítima é hoje CEO da Odgers e contou, no último episódio do podcast "E Se Corre Bem?", como construiu o seu percurso.
Luís Sítima, CEO e sócio da Odgers, é o 51º convidado do podcast “E Se Corre Bem?”. Apesar de ter começado o seu percurso na área financeira, o caminho profissional do CEO consolidou-se na área dos Recursos Humanos (RH). Para Luís Sítima, as duas áreas são inseparáveis, já que considera ambas fundamentais para o sucesso de uma organização.
“Eu sempre fui muito bom aluno e sempre gostei de estudar. Estava nos Salesianos e depois, quando fui para a Católica, deixei de ser o aluno certinho, mas continuei a ter boas notas. No terceiro ano de faculdade, foi quando percebi que tinha de me dedicar àquilo. E aí eu comecei a olhar para as várias cadeiras e apaixonei-me pela parte financeira. Ao mesmo tempo, também gostava muito de marketing. Curiosamente, a única cadeira da qual eu não gostava era a de Recursos Humanos“, começou por dizer Luís Sítima.
Quando saiu da faculdade, recebeu uma proposta para trabalhar num banco, mas o que realmente queria era seguir consultoria: “Tentei entrar na McKinsey, mas não consegui. E na altura houve uma professora que me disse que havia uma empresa de consultoria e Recursos Humanos a ser relançada em Portugal. E eu fui lá e tive uma entrevista. O Managing Partner da empresa tinha sido administrador da banca e tinha acabado de chegar dessa área, então isso cativou-me e eu decidi ir. E foi aqui que nasceu o ´bichinho´ pelos Recursos Humanos”.
Ainda assim, este “despertar” para uma área que até àquele momento não o motivava, deveu-se muito ao facto de toda a equipa da empresa “não ter nada a ver com Recursos Humanos”, o que lhes permitiu dar uma visão diferente aos RH. “Tínhamos uma visão de negócio. Os Recursos Humanos estão lá para sermos felizes e estarmos todos bem uns com os outros, mas há outras formas de sermos felizes e de estarmos bem uns com os outros sem ser trabalharmos para uma empresa. A empresa tem um propósito de lucro e, por isso, é importante falarmos em negócio e alinharmos as pessoas e o negócio. Essa visão financeira ajuda bastante“, explicou.
Contudo, apesar de afirmar que “o papel dos RH é ajudar a resolver os principais problemas da organização e, para isso, tem de se falar de negócio”, Luís Sítima reconhece que ainda “há muitos gestores que olham para os RH como uma ciência oculta”. E exemplificou: “Se alguém me pedir para escolher um CEO, eu faço um perfil. Muitas vezes dizem-me que pode ser um ex CFO; pode ser alguém que venha do marketing; da parte comercial; mas raramente me dizem para ser alguém que venha dos RH. E a verdade é que, se nós olharmos para pessoas de RH, dificilmente chegam a CEO. Isto porque consideram que chegam ao nível de topo de carreira quando chegam a diretor de RH”.
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Luís Sitima, CEO e sócio da Odgers, no 51º episódio do podcast do ECO "E se corre bem?" Hugo Amaral/ECO -
"Apaixonei-me pela parte financeira. Ao mesmo tempo, também gostava muito de marketing. Curiosamente, a única cadeira da qual eu não gostava era a de Recursos Humanos" Hugo Amaral/ECO -
"Aprendi que nós podemos ser líderes num contexto, mas podemos não ser noutros. E fala-se pouco disso. Não existe o líder para sempre em tudo" Hugo Amaral/ECO -
"Espero que os decisores dificilmente sejam substituídos pela Inteligência Artificial. Mas acho que a questão já nem é só a substituição, mas sim sermos capazes de a usar" Hugo Amaral/ECO
Mas então o que é necessário para alguém se tornar CEO e líder? Pela sua experiência enquanto CEO da Odgers, Luís Sítima não hesitou em responder que o contexto de cada organização influencia o tipo de liderança necessária. “Chegamos a um ponto em que não se trata de escolher uma má pessoa para o cargo, até porque as pessoas que chegam a este nível não têm más competências. Trata-se, sim, de encontrar pessoas que se encaixam ou não. Por exemplo, se eu pusesse o Mandela, que toda a gente considera como um grande líder, a liderar a Apple, não funcionaria. Portanto, os líderes fazem-se em função do desafio, do propósito e dos objetivos da organização. E para se conseguir isso, ajuda muito a experiência interdisciplinar, ter passado por várias realidades, no fundo, ter mundo“, disse.
No caso concreto de Luís Sítima, “ter mundo” passou por estar muitas temporadas fora do país, a conhecer outras realidades e a aproveitar o que aprendeu lá fora para crescer “cá dentro”: “A única forma de realmente ´abrirmos a cabeça´ é vermos outras realidades, aprendermos, termos parcerias e rodearmo-nos de outras pessoas porque isso traz-nos muita perspetiva. A mudança só acontece quando mudamos de perspetiva. E o que nos faz mudar de perspetiva? Obviamente, a necessidade de mudar, ou então alguém nos trazer novas visões. Quando falamos de um CEO, é importante que ele tenha essas diferentes visões, que vá buscá-las e que as aceite porque isso vai fazer com que ele faça toda a diferença na organização”.
Para chegar à posição que hoje ocupa, Luís Sítima partilhou que quis estudar muito sobre liderança e chegou a uma conclusão: “Li e investiguei muito sobre liderança. E aprendi que nós podemos ser líderes num contexto, mas podemos não ser noutros. E fala-se pouco disso. Não existe o líder para sempre em tudo. Na minha organização, muitas vezes acontece de termos projetos de consultoria que eu não estou a liderar. Por exemplo, se for algo relacionado com tecnologia, eu tenho de pôr outras pessoas a liderar. E acho que é mesmo importante deixar-se ser liderado em determinados contextos”.
Mas esta capacidade de deixar que os outros liderem, principalmente na área tecnológica, traz alguns desafios. Principalmente com a chegada da IA, Luís Sítima alerta para a necessidade constante de adaptação e resiliência. “Espero que os decisores dificilmente sejam substituídos pela Inteligência Artificial. Mas acho que a questão já nem é só a substituição, mas sim sermos capazes de a usar. Porque acho que um CEO, um diretor de RH, deve saber usá-la bem”, afirmou.
Apesar dos desafios constantes, o CEO considera que o cenário de liderança em Portugal “está a melhorar”. “Eu acho que temos bons líderes em Portugal”, reconheceu, justificando a sua opinião com a capacidade de desenrasque “típica do português”. Mas, quando questionado sobre os maiores desafios que um líder pode ter, a resposta acabou por revelar também o seu lado mais pessoal: “O maior desafio de liderança é ser pai. As empresas vão e vem, mas o pai fica sempre. Tenho dois filhos e espero que sejam o meu maior sucesso”.
Este podcast está disponível no Spotify e na Apple Podcasts. Uma iniciativa do ECO, na qual Diogo Agostinho, COO do ECO, procura trazer histórias que inspirem pessoas a arriscar, a terem a coragem de tomar decisões e acreditarem nas suas capacidades. Com o apoio da Nissan e dos Vinhos de Setúbal.
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