“É preciso menos burocracia e mais fluidez no mercado de trabalho”, afirma Paulo Macedo

O líder da Caixa Geral de Depósitos defende um país mais ágil e competitivo, com menos entraves, menos burocrático e um mercado de trabalho mais fluido capaz de atrair investimento e pagar melhor.

Paulo Macedo considera que Portugal tem condições para crescer mais, mas é preciso atrair capital através da resolução de um conjunto de temas que perduram na economia nacional há vários anos, e que se revelam numa barreira ao desenvolvimento do país.

“É preciso ter menos burocracia, mais fluidez no mercado de trabalho e um ambiente fiscal mais razoável”, afirmou o líder da Caixa Geral de Depósitos no decorrer do “Portugal Capital Markets Day” promovido pela Euronext Lisboa, realizado esta quarta-feira em Lisboa, não deixando de elogiar a visibilidade criada pela fixação da taxa de IRC para os próximos três anos.

Paulo Macedo defendeu ainda mais investimento em requalificação profissional – não apenas de trabalhadores, mas também de gestores de topo – e a promoção do ecossistema de startups.

Perante uma plateia de investidores nacionais e estrangeiros, o gestor citou um estudo da consultora McKinsey que aponta para uma duplicação do PIB nacional nos próximos 15 anos, caso sejam ativadas as alavancas certas. Entre essas alavancas, Paulo Macedo destacou a necessidade de criar mais empresas industriais de maior dimensão capazes de competir internacionalmente e pagar melhores salários, e de desenvolver novos setores de atividade.

“Portugal precisa de capital e tem boas oportunidades para a aplicação desse capital”, afirmou o banqueiro. O líder do maior banco do país defendeu o desenvolvimento do mercado de capitais como alternativa ao financiamento bancário, sublinhando que “as empresas portuguesas financiam-se principalmente através do setor bancário”, traçando um retrato positivo do sistema financeiro nacional, classificando-o como “sólido”.

Para Paulo Macedo, o crescimento da economia não depende apenas de estabilidade política e financeira, mas sobretudo da capacidade de remover entraves estruturais que travam o dinamismo económico.

“Todos os principais bancos são rentáveis. A Caixa mais do que os outros, claro, mas seria de esperar”, disse, provocando risos na audiência. O gestor salientou ainda que o setor tem capital, liquidez e ratings de grau de investimento – todos com notações A ou AA.

Com margens inferiores em função da política monetária do Banco Central Europeu (BCE), que entre junho de 2024 e junho deste ano reduziu a taxa de depósitos em 200 pontos base, Paulo Macedo destacou que o sistema bancário procura volumes mais elevados e, portanto, mais negócio, notando que “o sistema financeiro quer ser parceiro, quer conceder crédito”.

Ainda assim, apontou constrangimentos regulatórios do BCE como um fator a ter em conta, criticando a diferença de regras face aos EUA, onde a rendibilidade dos bancos é “muito superior”.

Portugal fora do “Club Med”

No decorrer da sua intervenção, o CEO da Caixa destacou também a evolução da perceção externa sobre Portugal, recorrendo a um gráfico publicado há mês e meio no Financial Times sobre países com dificuldades orçamentais e fragmentação política, como é o caso de França. “O que é importante para Portugal é que não está lá”, disse Paulo Macedo, referindo-se à ausência do país na lista. “Há cinco ou quatro anos, ninguém pensaria que Portugal não estaria no Club Med”, disse.

O gestor sublinhou a importância da estabilidade política e orçamental, num contexto europeu marcado por pressões na despesa pública e baixa produtividade face aos EUA. Citando o relatório Draghi, observou que a Europa continua com um “forte défice em termos de inovação”, apelando a que “as empresas e o ambiente empresarial português tirem conclusões”.

Entre as vantagens competitivas do país, Paulo Macedo apontou os custos de energia mais baixos que noutros mercados, uma força de trabalho relativamente barata e competitiva, a qualidade de vida elevada e infraestruturas digitais de qualidade.

O gestor destacou também a localização estratégica de Portugal, longe das zonas de tensão no comércio internacional, num momento em que a produção está concentrada na Ásia e as tarifas comerciais atingem máximos históricos nos EUA.​

Para o líder da Caixa Geral de Depósitos, o crescimento futuro não depende apenas de estabilidade política e financeira, mas sobretudo da capacidade de remover entraves estruturais que travam o dinamismo económico. Menos burocracia, mais flexibilidade laboral e um Estado que estimule o capital e a inovação são as condições essenciais para elevar salários, reter talento e colocar o país a crescer acima da média da União Europeia.

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