Hefesto prepara-se para recuperar mais 15 milhões da dívida da Inapa ao BCP
Administrador de insolvência da Inapa, declarada insolvente em julho do ano passado, vai apresentar uma proposta para distribuir 29,6 milhões pelos credores. Ficam por pagar mais de 73 milhões.
- O administrador judicial da Inapa apresentou uma proposta de distribuição de 29,6 milhões de euros entre os credores, que totalizam mais de 103 milhões de euros em dívidas, resultando de vendas de ativos que geraram 47,3 milhões de euros.
- A empresa de titularização de crédito Hefesto prepara-se para recuperar cerca de 15 milhões de euros da dívida da Inapa, que se declarou insolvente em julho de 2024, após a recusa de um apoio financeiro de 12 milhões de euros pela Parpública.
- A Hefesto comprou recentemente ao BCP a dívida da falida Inapa, banco que já dava o crédito à Inapa como malparado mesmo antes de a distribuidora de papel ter pedido falência.
A empresa de titularização de crédito Hefesto, que comprou ao BCP a dívida da falida Inapa, prepara-se para recuperar mais 15 milhões de euros deste crédito na empresa. O grupo, que avançou com o pedido de insolvência após lhe ver negada uma injeção de 12 milhões de euros por parte da Parpública para suprir uma quebra de liquidez na Alemanha em julho de 2024, tem disponíveis 29,6 milhões de euros para distribuir pelos credores, a quem deve mais de 103 milhões.
Depois de ter apresentado a sua proposta para distribuir pelos credores da Inapa Portugal os fundos disponíveis, o administrador judicial Bruno da Costa Pereira, que ficou com os dois processos, mostra agora aos credores da Inapa o que sobrou para dividir por quem emprestou dinheiro à distribuidora de papel, que formalizou o seu pedido de insolvência no dia 29 de julho de 2024 e foi declarada insolvente pelo Tribunal de Sintra no início de agosto do mesmo ano.
Com 103,2 milhões de euros reconhecidos de dívidas, o administrador judicial Bruno da Costa Pereira apresentou um mapa de rateio parcial com uma proposta de distribuição de 29,6 milhões de euros. Contas feitas, a venda da Inapa Packaging por 20 milhões de euros e da Inapa France por 25 milhões de euros, assim como a liquidação de marcas e participações sociais, permitiram à empresa gerar 47,3 milhões de euros. Contudo, após o pagamento de despesas e o reembolso de créditos garantidos, ficam menos de 30 milhões para ratear pelos 57 credores reconhecidos.
Este valor é o saldo que ficou disponível, descontadas todas as despesas da massa insolvente e dois milhões para provisão para despesas da massa insolvente, custas processuais e remuneração variável. Destes dois milhões, o que sobrar no final do processo, será objeto de um novo rateio a favor dos credores.
Há ainda a descontar 12,4 milhões que já foram rateados a favor dos credores garantidos, pagos ao Hefesto e ao Novobanco, por serem beneficiários de penhor sobre participações da Inapa France, conforme mostra o mapa de rateio.
Assim, além dos 6,75 milhões que já tinha recebido relativos a créditos garantidos, o Hefesto, que comprou a dívida da Inapa ao BCP, deverá recuperar mais 14,97 milhões de euros de um crédito reconhecido de 52 milhões, ficando mais de 37 milhões em dívida. O banco liderado por Miguel Maya, que já dava o crédito à Inapa como malparado mesmo antes de a distribuidora de papel ter pedido falência, vendeu esta dívida, juntamente com outras dívidas tóxicas, incluindo da promotora do Autódromo do Algarve, a Parkalgar, ao consórcio da Arrow e CRC, em setembro do ano passado, conforme noticiou em exclusivo o ECO.
No caso do Novobanco, coube-lhe 5,6 milhões nestes pagamentos anteriores de créditos garantidos. No âmbito deste rateio, o Novobanco, com um crédito reconhecido de 12,3 milhões na Inapa, deverá receber mais 3,5 milhões.
Já a CGD, a quem a Inapa deve 8,3 milhões, deve embolsar 2,4 milhões.
A Papyrus GMBH, a empresa detida pelo grupo na Alemanha, que esteve na origem da falha de liquidez que precipitou o grupo para a falência, também surge na lista de credores da Inapa IPG. Segundo esta proposta, apresenta um crédito reconhecido de nove milhões, devendo receber 2,6 milhões, nesta distribuição de capital.
Recorde-se que a apresentação da Inapa Deutschland à insolvência no dia 22 de julho, após não ter encontrado uma solução para resolver uma carência de liquidez, no montante de 12 milhões de euros, “teve impactos imediatos na Inapa IPG, tendo o Conselho de Administração da Inapa IPG concluído pela consequente e iminente insolvência da Inapa IPG”, conforme explicou a empresa, aquando do pedido de falência do grupo.
Numa audição no Parlamento, no início deste ano, o ex-presidente da Parpública, José Realinho de Matos, defendeu a posição da empresa pública, que controlava cerca de 45% do capital da Inapa, de não injetar dinheiro na Inapa, adiantando que o problema era muito maior que “os famosos 12 milhões” para fazer face à quebra de liquidez de emergência na Alemanha.
O responsável destacou que o conjunto de aquisições realizadas pela Inapa nos últimos anos, nomeadamente da alemã Papyrus Deutschland, criou uma “situação impossível” para a empresa, que foi confrontada ainda com as fortes quebras da venda do mercado de papel e aumento das matérias-primas.
Por seu lado, Frederico Lupi, antigo CEO da companhia, reconheceu, em janeiro, que “a Inapa sempre teve uma situação financeira de subcapitalização” e os esforços da administração, desde 2019, focaram-se em sensibilizar os acionistas para a necessidade de reforçar os capitais próprios da empresa. O gestor, que manteve sempre um tom crítico em relação à atuação da Parpública, atirando responsabilidades ao maior acionista, adiantou, na mesma ocasião, que a gestão apresentou sete pedidos de financiamento à Parpública, mas foram todos rejeitados.
Arrastada pela falência do grupo, a Inapa Portugal foi comprada pela holding familiar de Carlos Martins, fundador da Martifer, após ter falhado uma tentativa de PER. A proposta de 600 mil euros, dos quais 390 mil euros dizem respeito à distribuidora de papel, inclui ainda a aquisição do negócio da Comunicação Visual, assim como de 100% do capital da Inapa Packaging. Esta foi a solução encontrada para salvar o negócio da distribuidora de papel no país e manter a totalidade dos postos de trabalho.
(Notícia atualizada com valores já recebidos por Hefesto e Novobanco com créditos garantidos)
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