Marcelo Lebre: “Nada é impossível. O impossível é apenas uma definição de baixa probabilidade”
O avô é a sua grande referência e foi através dele que percebeu que não se queria conformar com o comum. Marcelo Lebre é hoje presidente do unicórnio Remote e conta como chegou até aqui.
- Marcelo Lebre, cofundador e presidente da Remote, partilha no podcast "E Se Corre Bem?" a sua trajetória profissional, destacando os desafios enfrentados na engenharia e a influência do avô na sua curiosidade e ambição.
- Após uma experiência inicial desmotivante na universidade, Lebre encontrou um novo propósito ao se envolver em investigação, mas sentiu a necessidade de um desafio maior, levando-o a cofundar a Remote, uma plataforma de gestão de recursos humanos.
- A Remote, que cresceu exponencialmente até se tornar um unicórnio, reflete a missão de Lebre de conectar pessoas a empresas, e ele continua focado em expandir a eficiência na gestão de recursos humanos e pagamentos a nível global.
Marcelo Lebre, cofundador e presidente do unicórnio Remote, é o 52º convidado do podcast “E Se Corre Bem?”. Nesta conversa, conta como foi construindo o seu percurso profissional, os desafios que sentiu no curso de engenharia, em Aveiro, e partilha de que forma os estímulos que recebeu na sua infância, principalmente através do seu avô, contribuíram para que começasse a sentir curiosidade para conhecer mais e não se contentar com o que era comum.
“A zona onde eu nasci era relativamente pequena. A minha avó tinha sete irmãos, portanto toda a gente se conhecia. Era um ambiente pequeno e extremamente rural. Então eu precisava de estímulos e obtinha-os através do meu avô, que tinha uma grande paixão por aprender e por tudo o que era literatura legal, tecnologia e eletricidade. Era o ´engenhocas´ da aldeia“, começou por dizer.
Estas paixões do avô, curiosamente, foram herdadas por Marcelo Lebre, que, apesar de ter seguido engenharia, acabou por também desenvolver um grande interesse pelo Código Civil: “O meu avô via filmes relacionados com isto e foi aí que eu percebi que existem regras base da sociedade, lideradas pelo juiz, pelos advogados e por um tribunal, mas que na verdade não são assim tão preto no branco. Há nuances e isso, para mim, era desafiante. Dava por mim a ler este tipo de livros e a achar piada porque via o desafio de provar à lei que determinada pessoa era verdadeiramente boa como um cubo de Rubik. Ou seja, pegar em algo difícil e conseguir algo que mais ninguém consegue”.
“Ainda hoje tenho muito a predileção pelo difícil, pelo impossível. Porque, na verdade, nada é impossível. O impossível é apenas uma definição de baixa probabilidade“, continuou. E prova disso foi o grande desejo que teve de se tornar astronauta, quando ainda era uma criança. “Disse ao meu avô que queria ser astronauta e ele riu-se na sua forma carinhosa e empática, mas disse-me que eu não podia. E quando o questionei, ele disse-me que não era possível porque Portugal não tinha um programa aeroespacial. Eu fiquei aborrecido porque pensei que tinha todas as condições e comparei-me com aquelas crianças que eu via na televisão, em países como os EUA, onde tudo era possível. Por que é que eles haviam de poder e eu não?“, indagou.
Esta sensação de inconformidade, que nasceu bem cedo na vida de Marcelo Lebre, foi o que o motivou a dar passos que estivessem alinhados com o que ele se sentia capaz de fazer e não com o que os outros ditavam sobre a sua vida. “Já que não podia ir para o espaço, disse a mim próprio que ia pilotar um avião da força aérea”, mas a verdade é que este sonho não se concretizou por um detalhe: “Quando me apercebi, as datas de inscrição já tinham passado”. E foi aí que o rumo da sua vida mudou.
“Como eu não sou pessoa de esperar, não queria ficar mais um ano assim, não ia gastar tempo. Então, como eu também sempre fui muito ligado aos computadores e à tecnologia, pensei que o que me faria mais sentido era seguir engenharia. Na altura, a Universidade de Aveiro estava muito em voga nesta área e acabei por concorrer“, contou. No entanto, confessou que sentiu “muito pouca motivação” nos primeiros anos de universidade e que chegou ao seu limite quando ouviu professores dizerem que não estavam ali para ensinar programação a ninguém. “Eu achei de uma injustiça, de uma falta de profissionalismo, de empatia, de interesse… Naquele momento, levantei-me e questionei o professor: ´Desculpe, é a segunda pessoa seguida que nos diz que não está aqui para ensinar a programar, mas então quem é que nos vai ensinar a programar?´. Pensei que aquilo para mim chegava, arrumei as minhas coisas e saí pela porta fora“.
Continuou a assistir a algumas aulas, mas sempre pensando que apenas ia fazer algumas cadeiras que depois lhe permitissem pedir transferência para outro curso. “Só consegui vaga para uma cadeira ao final do dia. Era um professor novo e lembro-me de ele me explicar o que estava a fazer no gabinete de investigação dele. Aquilo fez com que as peças se começassem a encaixar e com que eu pensasse que afinal havia uma praticabilidade para tudo aquilo“, disse. Graças a esse entendimento manteve-se no curso e terminou-o com a apresentação do projeto final, no qual teve 19 valores.
Depois de terminar o curso, esteve três anos a fazer investigação, mas a dada altura sentiu que precisava de mais. “Adorei os três anos em que estive em investigação porque foram extremamente formativos enquanto pessoa. Tinha um grupo de trabalho espetacular, trabalhava numa área em que acreditava bastante, mas eu não conseguia ver progressão em Portugal. Estava na rede de sensores, Internet Of Things, ou seja, coisas futurísticas, mas em Portugal não há mercado para isto. Como não via grande evolução a longo prazo, pensei que precisava de um desafio. Não queria trabalhar para aquecer“.
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Marcelo Lebre, cofundador e presidente da Remote, no 52º episódio do podcast do ECO "E se corre bem?" Luís Francisco Ribeiro/ECO -
"Ainda hoje tenho muito a predileção pelo difícil, pelo impossível. Porque, na verdade, nada é impossível. O impossível é apenas uma definição de baixa probabilidade" Luís Francisco Ribeiro/ECO -
"O clique da Remote começou pouco depois de eu conhecer o Job, para aí em 2012, enquanto falávamos daquelas pessoas que trabalham, mas não gostam nada daquilo que fazem. Nós sabíamos que queríamos arranjar o melhor emprego para as pessoas e fazer esta ponte" Luís Francisco Ribeiro/ECO -
"Lembro-me de o meu sócio me dizer que chegamos ao estatuto de um unicórnio e eu pensar: ´eu sei lá o que é isso´" Luís Francisco Ribeiro/ECO
Foi então que surgiu a proposta para ir para Novabase, a qual aceitou e o fez mudar-se para Lisboa. “Foi um choque brutal. Eu sou uma pessoa extremamente ansiosa e tinha quatro a cinco ataques de pânico por dia. A dada altura, esta cidade era terrível para mim por ter imensa gente, pela confusão de pessoas, por ninguém queria saber de ninguém…“, confessou, admitindo, no entanto, que se manteve na empresa por a considerar “uma referência nacional e extremamente formativa para quem saía das universidades”.
Curiosamente, um dia antes de começar na Novabase conheceu aquele que hoje é o seu sócio. Com a mudança para Lisboa, a sua esposa sugeriu encontrarem-se com uma amiga da faculdade, que também tinha chegado há pouco tempo à capital, e o seu namorado. “Foi aí que conheci o Job, que estava a fazer o doutoramento na Champalimaud. Ele era de neurociências, mas gostava muito de tecnologia, e uma semana mais tarde mandou-me um email a dizer que tinha uma ideia e que gostava de falar. Começou assim”, revelou.
Mas, apesar de esse encontro ter sido o início da caminhada para a Remote, a verdade é que a concretização do projeto ainda demorou a acontecer. Antes disso, Marcelo Lebre ainda passou pela Unbable, onde ficou algum tempo até sentir que já tinha as condições necessárias para realizar uma ideia sua: “O clique da Remote começou pouco depois de eu conhecer o Job, para aí em 2012, enquanto falávamos daquelas pessoas que trabalham, mas não gostam nada daquilo que fazem. Nós sabíamos que queríamos arranjar o melhor emprego para as pessoas e fazer esta ponte. Candidatamo-nos a um programa de aceleração, mas fomos rejeitados. E não tínhamos coragem de deixar o certo pelo incerto”.
“Até chegarmos à Remote fizemos imensas aplicações e projetos. Nós sabíamos que tínhamos construído algo, mas para correr bem é preciso vender. E, na altura, eu não tinha estrutura financeira para me sustentar para estar meses sem receber nada. Estava na Unbable, mas, ao fim de dois anos, comecei a sentir que me faltava qualquer coisa. Não que eu não tivesse espaço, mas eu sentia que, por mais que eu desse ali, não era algo meu. Foi aí que eu e o Job nos perguntamos: ´Por que não agora?´. A verdade é que nunca vai haver uma altura ideal. Já andávamos naquilo há sete anos e nunca havia uma altura ideal. Então e se for agora?”, questionou.
Foi assim que nasceu a Remote, uma plataforma de gestão de recursos humanos e de processamentos de salários, de pagamentos a nível mundial. Ainda demoraram um ano a conseguir os primeiros clientes, mas esse tempo de preparação acabou por trazer frutos inesperados, já que, ao fim de dois anos, percebem que passaram 1 milhão de euros em faturação. A partir daqui, o crescimento foi exponencial até se tornar um unicórnio. Contudo, Marcelo Lebre não se deslumbra e explica porquê: “Imagina que está muito nevoeiro e a única coisa que vês são os teus pés. Vais andando e a dada altura chegas ao sítio que queres chegar, mas não tens essa perceção porque estás a olhar para baixo, ou seja, estás no dia-a-dia a fazer as coisas acontecerem”.
A preocupação do empreendedor é, portanto, “fazer acontecer” aquilo que caracteriza como a sua missão. “Quando soube que chegamos ao bilião, pensei que precisava de mais capital para continuar a construir. Por isso, para mim nunca foi equação chegarmos a lado nenhum. Lembro-me de o meu sócio me dizer que chegamos ao estatuto de um unicórnio e eu pensar: ´eu sei lá o que é isso´. Eu só quero continuar a construir. O início da nossa empresa aconteceu para ligar as pessoas às empresas, mas isso expandiu-se. Portanto, hoje quero permitir que as empresas consigam gerir-se de forma extremamente eficiente do ponto de vista de recursos humanos e de pagamento de salários, não ter limitações de onde pagam e como pagam, e terem informação para tomar decisões“, concluiu.
Este podcast está disponível no Spotify e na Apple Podcasts. Uma iniciativa do ECO, na qual Diogo Agostinho, COO do ECO, procura trazer histórias que inspirem pessoas a arriscar, a terem a coragem de tomar decisões e acreditarem nas suas capacidades. Com o apoio da Nissan e dos Vinhos de Setúbal.
Assista ao vídeo aqui:
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