Shapers dos irmãos Teixeira da Mota tem mais de 65 milhões para fintechs e já pensa em novo fundo

Mais de 60 fundadores e operadores de fintech internacionais investiram no fundo dos irmãos Teixeira da Mota. A Shapers já fechou 8 investimentos, os cheques variam de 500 mil a 4 milhões de euros.

A Shapers tem 75 milhões de dólares (mais de 65 milhões de euros) para investir em fintechs europeias, prepara-se para fechar o seu nono investimento com uma startup alemã e, “provavelmente daqui a um ano”, pensa em arrancar com um segundo fundo. Mais de 60 fundadores e operadores de fintech são investidores no fundo lançado pelos irmãos Teixeira da Mota.

“Sempre fomos apaixonados por disrupção e empreendedorismo e tínhamos vontade de ajudar de alguma maneira os empreendedores a fazer o mundo evoluir. Dada a nossa experiência, identificámos uma oportunidade única de criar um fundo de referência de capital de risco focado em fintech na Europa. Nos Estados Unidos existem vários fundos de fintech extraordinários, como a Ribbit, e acreditamos que existe espaço para criar um na Europa”, conta Thomas Teixeira da Mota, fundador, juntamente com o irmão Philippe Teixeira da Mota, da Shapers.

“A motivação foi fazermos uma startup, só que a startup é um fundo”

Nascidos em França, mas criados em Portugal, os irmãos Teixeira da Mota seguiram carreiras na área financeira. Após uma passagem pela JP Morgan em Londres e São Francisco, Philippe juntou-se à venture capital Hedosophia, onde, durante quase uma década, coliderou a equipa de investimento.

“Teve a sorte de investir ou estar no board de empresas como a Wise, Qonto, N26, Bitpanda… mas a uma determinada altura sentiu falta de criar uma coisa própria, mais pequena, com mais flexibilidade e mais próxima dos fundadores em vez de continuar a expandir uma estrutura já grande”, conta Thomas Teixeira da Mota, ele próprio com um percurso profissional na Bain & Company, em projetos no setor financeiro no Brasil e, depois, em investimentos de private equity em Espanha.

A motivação [para o lançamento da Shapers] foi podermos fazer uma startup, só que neste caso a startup é um fundo, focado em trabalhar diariamente com os melhores empreendedores. Sentimos que tínhamos a experiência, a rede de contactos e o momento ideal para o fazer, e partilhamos a visão de construir uma plataforma de investimento duradoura, altamente especializada e founder-first.

Em 2022, após regressarem a Portugal, sentiram que era esse o momento para lançar o seu próprio venture capital. “Sendo irmãos (20 meses de diferença) com uma relação muito próxima, já tínhamos criado outros projetos empresariais [em 2014 cofundaram a marca de calçado Citadin Shoes] e tínhamos investidos juntos no passado, pelo que criar a Shapers juntos foi quase um passo natural”, diz Thomas Teixeira da Mota.

“A motivação foi podermos fazer uma startup, só que neste caso a startup é um fundo, focado em trabalhar diariamente com os melhores empreendedores. Sentimos que tínhamos a experiência, a rede de contactos e o momento ideal para o fazer, e partilhamos a visão de construir uma plataforma de investimento duradoura, altamente especializada e founder-first”, explica.

Nono investimento prestes a ser fechado

O primeiro fundo da Shapers teve o primeiro fecho no final de 2023 — “o que nos permitiu começar a investir” — e o final no início de 2025, atingindo um pouco mais de 75 milhões de dólares (mais de 65 milhões de euros). “Reunimos mais de 60 fundadores e fundadores e operadores de fintech como investidores no fundo. Ou seja, uma parte do nosso capital veio de empreendedores e executivos de topo do próprio setor — founders de empresas de referência como a Qonto, Wise, N26, Bitpanda, Kantox, Affirm, entre outras, que decidiram investir no nosso fundo”, explica Thomas Teixeira da Mota, quando questionado sobre quais os investidores que participaram no fundo.

“Este conjunto de LP operadores dá-nos uma rede única de conhecimento e contactos no ecossistema fintech. E são uma arma importante no que toca a sourcing e due diligence de deals e também a ajudar as empresas do nosso portefólio”, reforça.

Além deste conjunto de fundadores — a que chamam “Shapers Club” — juntam-se igualmente como investidores “grandes bancos globais e vários GP (sócios) de fundos de VC que respeitamos muito, incluindo partners de fundos conhecidos como a Creandum, Hedosophia, DST, LocalGlobe, Motive Partners, Valar Ventures, etc.”, mas também “alguns investidores institucionais tradicionais (family offices, fundações e fundos de fundos) que complementam a base de capital”.

“O nosso levantamento de capital foi muito orientado para investidores estratégicos do setor tech/fintech. Achamos que isso nos dá uma vantagem — os nossos LP não trazem só dinheiro, mas também experiência operacional e abrem portas para as startups do nosso portefólio (seja como potenciais clientes, parceiros ou conselheiros)”, justifica.

Uma estratégia que, garante Thomas Teixeira da Mota, tem vindo a dar resultados. “Quatro dos nossos primeiros nove investimentos vieram diretamente de referrals desta nossa rede de LP. Esta comunidade de fintech leaders em volta do fundo é um pilar central do modelo Shapers”, diz.

Estamos neste momento a fechar o nono investimento, numa empresa na Alemanha, mas é ainda confidencial. Estamos também em fase avançada de análise em mais alguns dossiês. Não temos nenhuma obrigação ou objetivo específico de número de investimentos por ano. Ou seja, só investiremos no décimo projeto (ou além) quando realmente encontrarmos uma equipa e produto excecionais que justifiquem. Portanto, até ao final do ano poderemos anunciar mais um ou dois investimentos.

Com uma equipa principal de três pessoas a tempo inteiro — e com seis operating partners que dedicam parte do seu tempo às startups em portefólio —, a Shapers já fechou oito investimentos, como na SaturnOS, a Finary, a Klearly, a Diligent ou a Deblock.

O mais recente foi em outubro, na startup britânica Saturn, que desenvolve uma plataforma para advisors financeiros baseada em inteligência artificial. “Participámos na ronda Série A, liderada pelo fundo Singular, e coinvestida pela Shapers, Y Combinator e a Zeno Ventures. Esta aposta encaixa bem na nossa tese (fintech focada em democratizar o wealth management)”, diz.

“Estamos neste momento a fechar o nono investimento, numa empresa na Alemanha, mas é ainda confidencial. Estamos também em fase avançada de análise em mais alguns dossiês“, diz. “Não temos nenhuma obrigação ou objetivo específico de número de investimentos por ano. Ou seja, só investiremos no décimo projeto (ou além) quando realmente encontrarmos uma equipa e produto excecionais que justifiquem. Portanto, até ao final do ano poderemos anunciar mais um ou dois investimentos“, aponta quando questionado sobre as metas de investimento para 2025.

Mercado-alvo do fundo: Europa

Gestão de património (wealth management); pagamentos; RegTech (tecnologia para compliance regulatório); Cripto e stablecoins — “embora seja uma área emergente e volátil, acreditamos que as stablecoins e ativos digitais têm um papel importante no futuro das finanças, pelo que estamos atentos a oportunidades aí” — são as áreas foco da Shapers que olha para a Europa como o mercado-alvo de investimento.

“Investimos em startups por toda a Europa e não apenas na Península Ibérica. Até agora, os nossos mercados mais ativos em termos de investimentos têm sido o Reino Unido e França, que concentram várias das nossas primeiras apostas, mas também já investimos em empresas na Alemanha, Bélgica e Holanda”, descreve o cofundador. “Estas geografias refletem onde temos visto fundadores fintech de topo e oportunidades alinhadas com a nossa tese. Dito isto, não temos preferências rígidas por país — seguimos o talento e as melhores startups onde quer que elas surjam na Europa”, sintetiza.

Atualmente não estamos ativamente a angariar mais capital para este fundo (Fund I); estamos totalmente concentrados em executar a estratégia de investimento e gerir o gerir o portefólio. Naturalmente, no futuro a ideia é lançar um segundo fundo e aí sim abriremos novas captações de capital, provavelmente daqui a um ano.

“A estratégia passa por ser um fundo Europeu, especializado em fintech, e geralmente coinvestimos com fundos locais ou dos EUA para aproveitar conhecimento de terreno quando investimos fora de Portugal”, justifica.

Até agora não houve investimentos em startups nacionais. “Gostaríamos de investir em Portugal ou Espanha se encontrarmos o fit certo — inclusive, admiramos muito empresas portuguesas de fintech como a Feedzai e a Coverflex”, diz.

Tickets de 500 mil a 4 milhões de euros

Investem, sobretudo, em fase inicial das empresas. “O nosso sweet spot são as rondas Seed e Série A, podendo ir até Série B. Ou seja, tipicamente entramos quando a startup já tem um MVP [produto mínimo viável, em português] e os primeiros clientes e precisa de capital para escalar a nível europeu”, refere.

Os cheques variam de cerca de 500 mil euros até 4 milhões por empresa, dependendo da fase e das necessidades da startup. “Como um fundo de 75 milhões de dólares, somos relativamente pequenos face a alguns players europeus, por isso somos muito colaborativos — gostamos de coinvestir ao lado de outros fundos e angels, liderando rondas quando faz sentido, mas também entrando como coinvestidores em rondas maiores”, diz. Adicionalmente, reservam capital para reinvestir em “rondas seguintes das nossas melhores empresas” acompanhando o seu crescimento.

Neste momento, o capital levantado pelo fundo está a ser executado. “Portanto, atualmente não estamos ativamente a angariar mais capital para este fundo (Fund I); estamos totalmente concentrados em executar a estratégia de investimento e gerir o gerir o portefólio”, diz. Mas já equacionam o lançamento de um novo fundo. “Naturalmente, no futuro a ideia é lançar um segundo fundo e aí sim abriremos novas captações de capital, provavelmente daqui a um ano”, diz.

Há mais talento qualificado a empreender [na Europa], mais capital (público e privado) disponível do que há 5-10 anos, e uma compreensão crescente por parte de governos da importância de apoiar o empreendedorismo tecnológico. Especialmente em fintech, onde a Europa já criou líderes globais (no banking-as-a-service, digital banking, pagamentos, etc.), acreditamos que a próxima década ainda trará muitos unicórnios.

Olham com otimismo para o atual momento na Europa. “Na última década houve uma evolução enorme: a Europa passou de um cenário incipiente para hoje já ter um ecossistema tecnológico avaliado em cerca de 2,7 biliões de dólares em termos de valor agregado das empresas, com várias scaleups de nível mundial e uma fatia cada vez maior do investimento global a vir para empresas europeias. Isso tornou claro que existem oportunidades gigantes na Europa, apesar de historicamente o continente ter menos capital de risco do que os EUA”, considera.

“Há mais talento qualificado a empreender, mais capital (público e privado) disponível do que há 5-10 anos, e uma compreensão crescente por parte de governos da importância de apoiar o empreendedorismo tecnológico. Especialmente em fintech, onde a Europa já criou líderes globais (no banking-as-a-service, digital banking, pagamentos, etc.), acreditamos que a próxima década ainda trará muitos unicórnios.”

Mas, ressalva, “a Europa ainda fica muitas vezes atrás dos EUA no que toca a inovação e a cada vez mais exigente regulação de Bruxelas trava o crescimento de empresas“.

Quanto a Portugal, apesar de denotar um “crescimento acelerado” em número de fundos, startups, qualidade de projetos e capital investido — “por exemplo, em 2024 o FEI comprometeu 90 milhões de euros em três bons fundos portugueses (Armilar, Faber e 33N)” —, ao longo da última década, “houve alguns programas de investimento com incentivos pouco alinhados com o que é necessário para fazer o ecossistema florescer e houve muito capital mal investido, apesar de isto não ser notório no curto prazo, acaba por prejudicar bastante o ecossistema”, alerta.

Portugal tem muito talento e capacidade de criar empresas globais mas para isto é fundamental que existam as condições e os incentivos certos para empreendedores, investidores e trabalhadores”, conclui.

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