BRANDS' ECO A IA no chão de fábrica – um desafio ou oportunidade?
Vários especialistas da indústria portuguesa juntaram-se na conferência The Voices of Industry para discutirem de que forma a automação, a digitalização e a IA podem ajudar no chão de fábrica.
A Inteligência Artificial, a automação e a digitalização de processos têm estado cada vez mais presentes no dia-a-dia das empresas, não só nos escritórios, mas também no chão de fábrica. A adoção de tecnologia, adaptada às necessidades dos colaboradores, pode ser uma grande aliada para o bem-estar da equipa, o que se reflete numa maior eficiência do trabalho e em vantagens para as empresas.
Mas quais são essas vantagens? E como se podem usar estas ferramentas de forma prática para provocar mudanças positivas e não prejuízos? Na conferência The Voices of Industry, organizada pela NOS, a COTEC Portugal, o INESC TEC, o Kaizen Institute e a Porto Business School, vários thought leaders, empresas pioneiras e projetos desafiantes reuniram-se para responderem a estas e outras questões que despertam curiosidade a vários líderes da indústria.
Na abertura da sessão, Diogo Vieira da Silva, Head of Unit, Impact Centers no Innovation X Hub da Porto Business School, começou por dizer que a Porto Business School fez um questionário ao setor da indústria, através do qual puderam perceber que “apenas 18% das empresas considera os seus dados muito fiáveis”. “E um líder sem dados é como um capitão sem rota“, alertou.

A importância de ter os dados bem estruturados para que haja uma verdadeira eficácia da aplicação de ferramentas tecnológicas é, por isso, fundamental e também foi defendida por todos os empresários presentes na mesa redonda, na qual se debateu o presente e o futuro do chão de fábrica português. A conversa, moderada por Pedro Machado, Head of B2B New Business & Innovation NOS, contou com a presença de António Filipe, COO Symington Family Estate; José Pinho, Diretor IKEA Industry; João Barros, CEO Aquinos Group; e Gonçalo Neves, Diretor Kaizen Institute.
O impacto das novas tecnologias nos chãos de fábrica
Cada um dos oradores partilhou a sua opinião sobre a importância da adoção tecnológica e da automação industrial e alguns até partilharam os seus próprios exemplos. No caso da Symington, António Filipe declarou: “Eu costumo dizer que a Symington é antiga, mas não é velha. A tecnologia foi um life saver para nós porque se não a usássemos não teríamos futuro. Por exemplo, nós precisamos de 20 mil pessoas para as vindimas, mas não as temos. Então fomos buscar uma máquina que apanha entre 13 a 15 toneladas por dia. Se pensarmos que cada pessoa colhe 500 quilos, percebe-se aqui a oportunidade. A máquina pode ser guiada por GPS e podemos decidir em que zonas ela deve e não deve colher as uvas“.
Por sua vez, José Pinho, explicou que estes métodos e práticas têm sempre que ser colocados em prática tendo em conta a dimensão das pessoas, com sistematização do conhecimento. No caso da fábrica do IKEA, em Paços de Ferreira, conseguiram transformar uma área que era totalmente manual e criar um co-design da solução, “quer célula a célula, quer de forma integrada”. Mas, para isso, trabalharam juntamente com a equipa da engenharia, mas também com os operadores “que conheciam os segredos e os parâmetros críticos do processo”. “Com isto, os trabalhadores sentem-se mais satisfeitos porque se orgulham de terem feito parte do projeto, mas também porque têm o seu próprio trabalho melhorado”, disse.
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Mesa-Redonda da Conferência Industry Club, com António Filipe, COO Symington Family Estate; José Pinho, Diretor IKEA Industry; João Barros, CEO Aquinos Group; e Gonçalo Neves, Diretor Kaizen Institute -
António Filipe, COO Symington Family Estate -
José Pinho, Diretor IKEA Industry -
João Barros, CEO Aquinos Group -
Gonçalo Neves, Diretor Kaizen Institute -
Mesa-Redonda da Conferência Industry Club, com António Filipe, COO Symington Family Estate; José Pinho, Diretor IKEA Industry; João Barros, CEO Aquinos Group; e Gonçalo Neves, Diretor Kaizen Institute
Já no Aquinos Group, a transformação digital aconteceu, segundo João Barros, através da colocação de emoção no produto: “Apesar de sermos uma B2B, mais recentemente começamos a pensar num B2B2C. E pensamos em como é que conseguiríamos influenciar o cliente final usando a tecnologia, tentando perceber o comportamento dos nossos clientes. A intenção passou a ser colocar emoção no produto e fazer com que os clientes entrem e digam que querem o produto com determinada tecnologia. Para isso, estamos a tentar capitalizar ao máximo, torturando os dados até que eles gritem a verdade“.
Usar a tecnologia a favor do negócio implica, antes, usá-la a favor da operação. Por essa razão, Gonçalo Neves não hesitou em afirmar que, “o mais importante não é a utilização da tecnologia”. “O problema não acaba com a tecnologia, começa exatamente aí. Temos de saber o que queremos melhorar, que impacto isso tem nos objetivos estratégicos, que tecnologia temos disponível para melhorar e, a partir daí, usar essa tecnologia para fazer essa melhoria. Acho que devíamos ter todos a visão de usar a tecnologia para nos aproximarmos da operação e resolvermos problemas reais do dia-a-dia”, aconselhou.
Os casos de sucesso
Apesar de existirem vários tipos de tecnologia que podem ser usadas para promover melhorias nas operações, André Santana, Faculty | Research Lecturer in Data Analytics and AI, Keynote Speaker do evento, destacou a Inteligência Artificial, mas alertou para a falta de estrutura da informação: “Quando falamos de soluções de IA, é importante perceber que estas implicam técnicas que envolvem a automação computacional. Nem tudo é muito simples, os dados utilizados nesse processo são muito importantes, mas nem sempre vem de fontes bem estruturadas“.
Ainda assim, há empresas que quebram essa tendência e têm histórias de sucesso sobre a aplicação desta ferramenta no seu negócio. Tiago Mira, Gestor de Melhoria Contínua Sumol Compal, apresentou o caso de sucesso da Sumol Compal, na fábrica de Almeirim: “A Sumol Compal nasceu da fusão de duas marcas, que tinham indicadores diferentes. Então era difícil medir a eficiência das linhas e das pessoas. Em 2021, queríamos avançar para um sistema totalmente digital e automatizar estes dados e indicadores, e foi quando a NOS nos veio procurar com o desafio do 5G, através de um piloto nesta área. Com ele, teríamos o indicador de eficiência calculado e todas as perdas quanto à produção. Para isso, recolhemos dados que já existiam nos nossos equipamentos, replicamos esse sinal, ligamos a uma gateway, comunicamos via 5G para a cloud e, em tempo real, o operador pode justificar o motivo da paragem“, explicou.
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André Santana, Faculty | Research Lecturer in Data Analytics and AI -
Tiago Mira, Gestor de Melhoria Contínua Sumol Compal -
Tiago Correia, Industrial Manager; e Luís Gonçalves, Digital Transformation Director, da Amorim Cork -
Manuel Gomes, Lean Manufacturing Manager; e Marta Barbosa, Simultaneous Engineering Facilitator, da Bosch -
Ana Machado Silva, R&D+i Food & Sustainability Coordinator MC Sonae
Já no caso da Amorim Cork, Tiago Correia, Industrial Manager; e Luís Gonçalves, Digital Transformation Director, apresentaram o projeto CPA, que foi realizado em duas unidades distintas, de forma a criar um planeamento interligado entre elas. Com o projeto, os responsáveis destacaram algumas das lições que aprenderam com ele, nomeadamente a clareza na definição dos objetivos, “essencial para alinhar expectativas, garantir foco e facilitar decisões”; a participação ativa de colaboradores da produção, qualidade, manutenção, IT, gestão de projeto e engenharia de processo, que “foi um fator crítico de sucesso”; a flexibilidade na adaptação à mudança; a autonomia do utilizador final e o interface user-friendly, que “permitiu uma navegação intuitiva e uma visualização clara das informações”.
Também a Bosch apresentou o seu caso de sucesso iCIP, através de Manuel Gomes, Lean Manufacturing Manager; e Marta Barbosa, Simultaneous Engineering Facilitator. A solução, implementada em Braga, “garante que operadores de linha consigam participar no processo de melhoria contínua”. “O objetivo era promover o engagement de quem melhor conhece os problemas para os podermos resolver. Com o iCIP, cada vez que temos problemas cuja causa são razões operacionais, todos estes problemas são priorizados para serem estudados pelo iCIP através dos três C – Cause, Case, Countermeasures. É importante que estas sistemáticas existam e que haja um tempo disponível para isso”, afirmou Marta Barbosa.
O último caso de sucesso foi apresentado por Ana Machado Silva, R&D+i Food & Sustainability Coordinator MC Sonae, que partilhou a dificuldade que o grupo estava a sentir na disponibilidade de produtos frescos, muito devido aos impactos das alterações climáticas. Posto isto, o grupo juntou parceiros do setor das pescas, da aquacultura, da ciência e equipas internas e, juntos, desenvolveram um projeto para aferir a qualidade do peixe: “A nossa ideia era ter um equipamento que nos permitisse amplificar o processo de verificação de qualidade na receção de peixe fresco, que permitisse ter um loop que alimente as matrizes de risco para os processos de qualidade, e depois passar a informação baseada nos dados aos nossos parceiros do setor primário e nos permitisse que todo esse trabalho pudesse ser transformado em conhecimento. O que obtivemos foi um software de processamento de imagem inteligente baseado em visão computacional”.
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