Quem é Kevin Hassett, a provável escolha de Trump para liderar a Fed?
Conselheiro económico e uma das pessoas de confiança do Presidente americano, Hassett poderá suceder a Powell na Fed. Mas escolha já está a levantar receios sobre a independência do banco central.
Quando Donald Trump anunciou no verão passado o despedimento de Erika McEntarfer do Departamento de Estatísticas do Trabalho norte-americano, acusando-a de apresentar “números falsos” sobre a evolução do emprego, Kevin Hassett apareceu na televisão a defender a decisão: “O Presidente quer a sua própria equipa lá para que os números sejam mais transparentes e fiáveis.”
Hassett, 63 anos, é um dos aliados mais próximos de Trump e não será uma surpresa se vier a ser o nome escolhido para liderar o banco central da maior economia do mundo.
“Se me escolher, terei todo o gosto em servir”, assumiu o diretor do Conselho Económico Nacional da Casa Branca numa entrevista recente à Fox News, depois de questionado sobre a possibilidade de suceder a Jerome Powell, cujo mandato termina em maio do próximo ano e sobre o qual Hassett partilha a mesma opinião (negativa) de… Trump.
“O Presidente tem vários grandes candidatos, e penso que qualquer um deles seria uma grande melhoria em relação à situação atual”, acrescentou o economista de carreira e cujo trabalho se focou sobretudo a temas relacionados com política fiscal.
Hassett chegou à Casa Branca ainda no primeiro mandato de Trump para ocupar o cargo presidente do Conselho de Assessores Económicos, um importante órgão de aconselhamento do Presidente americano, tendo tido um papel central na política de alívio de impostos sobre as empresas em 2017. Saiu do cargo dois anos mais tarde, mas regressou pouco depois, com a crise pandémica a confinar o mundo, para aconselhar o Presidente em temas económicos e num tempo de incerteza e emergência.
Antes, já tinha servido nas campanhas presidenciais de John McCain, George W. Bush e Mitt Romney, e trabalhado no think tank conservador American Enterprise Institute e na divisão de investigação e estatísticas da Fed, onde os seus antigos colegas se lembram da sua ambição.

Independência da Fed em risco?
Fazer parte do círculo íntimo de Trump e alinhar com ele nas dúvidas sobre as estatísticas oficiais e nos ataques a Powell podem deixar qualquer um mais perto da Fed.
Mas a proximidade com o Presidente também pode ser vista como uma ameaça à independência do banco central. E o nome de Hassett parece estar longe de convencer os investidores, embora as apostas vejam-no como claro favorito com probabilidade de 73% de ser eleito, de acordo com o site Polymarket.
“O mercado vê nele como sendo um idiota útil de Trump que vai erodir a credibilidade da Fed”, referia o diretor do fundo de investimento Ninety One, John Stopford, ao Financial Times na semana passada.
O jornal britânico avançou que os grandes investidores em dívida pública estão preocupados com a possível nomeação de Hassett para liderar o banco central e fizeram questão de demonstrar essas preocupações ao Tesouro americano, que quis auscultar o mercado sobre possíveis sucessores de Powell.
Receiam sobretudo que, sob o comando de Hassett, a Fed venha a imprimir uma política de cortes de taxas de juro muito agressiva para satisfazer os interesses de Trump e descurando o seu mandato, mesmo que a inflação se mantenha teimosamente acima da meta de 2% — o indicador preferido da Fed fixou-se nos 2,8% em setembro, aquém do esperado.
Uma situação de elevada inflação poderia desencadear um sell off no mercado de obrigações dos EUA, catapultando as yields dos títulos de um país que tenta controlar a dívida pública, alertaram os investidores.
Em alternativa, alguns responsáveis que gerem os maiores fundos de investimento do mundo sugeriram que o Presidente poderia considerar nomes mais independentes como o de Rick Rieder da BlackRock ou do governador da Fed Christopher Waller — este último apresenta uma probabilidade de 13% no Polymarket.
O que faz a Fed?
O banco central desempenha um papel crucial na prosperidade das famílias e empresas americanas, através da supervisão e regulação dos bancos, da promoção da estabilidade financeira e da definição da política monetária.
O comité de política monetária da Fed reúne-se oito vezes por ano para definir as taxas de juro. A última reunião deste ano tem lugar na próxima terça e quarta-feira, sendo expectável uma descida das taxas de 25 pontos base face ao atual intervalo fixado entre os 3,75% e 4%.
Cada decisão da Fed, que tem um duplo mandato de controlo dos preços e promoção do emprego, tem impacto em toda a economia, influenciando o custo a que famílias e empresas se financiam junto dos bancos.
Se for nomeado por Trump e confirmado pelo Senado, Kevin Hassett não terá liberdade total na Fed. O comité de política monetária da Fed tem 12 membros, incluindo quatro nomeados pelo anterior presidente, Joe Biden. As decisões são feitas com base na maioria dos votos.
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