Tempo inteiro, Lisboa, 892€ e sem alojamento. Afinal, que tipo de trabalho é que Portugal tem para os ucranianos?
Há mais de 22 mil vagas para os refugiados vindos da Ucrânia. A maioria é a tempo inteiro e fica em Lisboa, Porto e Braga. O salário médio é 891,92 euros, mas há funções que chegam aos 4.000 euros.
Logo nos primeiros dias da invasão russa à Ucrânia, o Governo português abriu uma plataforma para que as empresas pudessem disponibilizar ofertas de emprego aos cidadãos ucranianos que estão a chegar a Portugal para se refugiar do conflito. Ao todo, o Instituto do Emprego e Formação Profissionais (IEFP) conta com mais de 22 mil ofertas de trabalho nas mais variadas áreas de atividade, sendo que a grande maioria é a tempo inteiro e em Lisboa, seguindo-se o Porto e Braga. O salário médio mensal é 891,92 euros, mas há funções que chegam aos 4.000 euros por mês, segundo os dados disponibilizados pelo IEFP e analisados pela Pessoas.
Na semana passada, segundo apurou o ECO junto de uma fonte da Segurança Social, já tinham sido celebrados 359 contratos de trabalho com refugiados vindos da Ucrânia, um número que vai continuar a crescer, já que são mais de 28 mil os ucranianos que chegaram a Portugal e fizeram um pedido de proteção temporária ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.
Para já, a plataforma do Governo conta com 22.651 vagas (dados consultados a 14 de abril). Além de agregar as ofertas, o IEFP diz que também fará “o mapeamento das competências dos trabalhadores ucranianos acolhidos, dos locais de acolhimento/residência e das ofertas de emprego disponíveis, e entrará em contacto para apresentar os candidatos, caso exista ajustamento ao perfil pretendido” pelas empresas.
Mas, afinal, que tipo de emprego é que os refugiados ucranianos encontram quando chegam a Portugal? Qual o regime laboral ou as condições de alojamento? E que salários se estão a pagar? Quais as funções e as regiões com mais ofertas? Com base nas tabelas do IEFP, a Pessoas fez um retrato do emprego que Portugal está a oferecer aos ucranianos.
Regime de tempo inteiro, sem alojamento incluído
Entre as 22.651 vagas disponibilizadas na plataforma do IEFP, apenas 326 dizem respeito a vínculo de regime de tempo parcial. As restantes ofertas são em regime de tempo inteiro.
Outro dado que é possível de analisar na tabela disponibilizada pelo IEFP é a possibilidade de a vaga ter alojamento incluído. No entanto, entre as ofertas, a maioria não conta com este benefício.
Em Belmonte, distrito de Castelo Branco, as seis vagas (cinco para programador de software e uma para analista de sistema) contam com alojamento, e o mesmo acontece com as três ofertas publicadas em Terras de Bouro, no distrito de Braga (para empregado de mesa, cozinheiro e empregado de bar).
Também em Albufeira e em Grândola uma parte significativa das ofertas de emprego dispõe de estadia.
Para facilitar a tarefa de procura de alojamento foi criada uma plataforma que pretende ligar pessoas a precisar de ajuda e organizações que podem realmente ajudar. Chama-se “We Help Ukraine” e está acessível através do link “www.wehelpukraine.org“. É uma espécie de Airbnb para encontrar — e disponibilizar — residência, mas também é possível procurar ofertas de trabalho e até medicamentos.
Lisboa tem mais de três mil vagas
Apesar de existirem vagas um pouco por todo o país, há concelhos onde a oferta é maior. É o caso do de Lisboa, que conta com 3.415 vagas, mais do dobro do que em qualquer outro concelho do país. A média salarial mensal destas oportunidades é de 1.152,18 euros.
Lisboa foi precisamente o distrito onde a pesquisa de casa para arrendar a partir da Ucrânia mais aumentou durante os dois primeiros meses deste ano, segundo um estudo elaborado pelo portal imobiliário Idealista. Mais de metade das pesquisas (52%) foi realizada com Lisboa em mente. Segue-se o Porto (15%), Faro (13%), Madeira (6%), Setúbal (5%), Leiria (2%) e Coimbra (2%). Com apenas 1% das pesquisas realizadas encontram-se o distrito de Aveiro e a ilha de São Miguel, nos Açores.
Mas ainda no pódio dos concelhos com maior número de ofertas de trabalho está o Porto, com 1.221 oportunidades e uma média mensal de remuneração que se situa nos 972,18 euros, e — também no norte do país — Braga, que dispõe de 591 vagas e regista uma média salarial de 946,62 euros.
É de destacar também a quantidade de ofertas localizadas em Sintra (538 vagas), Albufeira (486 vagas), Cascais (407 vagas) e Oeiras (363).
Na ponta oposta, com apenas uma vaga, estão os concelhos de Alvaiázere (Leiria), Alvito (Beja), Chamusca (Santarém), Ferreira do Alentejo (Beja), Figueira de Castelo Rodrigo (Guarda), Gavião (Portalegre), Sátão (Viseu) e Vila Viçosa (Évora). Destes, apenas a vaga em Sátão, para trabalhador de limpeza manual, oferece mais do que o salário mínimo nacional (SMN), situando-se a oferta nos 1.000 euros, com alojamento para o profissional contratado.
Salário médio nacional de 891,92 euros
No que toca aos salários oferecidos, a média mensal situa-se nos 891,92 euros, 186,92 euros acima do atual SMN, fixado nos 705 euros. O valor mais alto é 4.000 euros. Em causa está uma vaga em Lisboa para recrutar um especialista em publicidade e marketing, e que ainda oferece alojamento.
Com a mesma remuneração mensal — mas sem opção de residência — existem duas outras vagas registadas no portal do IEFP. Uma delas é para contratar um especialista de redes informáticas, em Lisboa, e outra para recrutar um programador de software, em Matosinhos. Seguem-se quatro vagas com um salário de 3.700 euros por mês, todas na área tecnológica.
Ainda entre as ofertas com as remunerações mais elevadas, é de destacar cinco vagas para programador de software — com um salário de 3.571,42 euros — e que podem ser desempenhadas em trabalho remoto. E só há mais sete vagas, para a mesma função, com este benefício de total flexibilidade geográfica. Todas oferecem um salário superior a 950 euros.
O valor mais baixo pago é de 300 euros, para trabalhador de limpeza em escritórios, hotéis e outros estabelecimentos em regime de tempo parcial — em Bragança e também em Mafra — e para uma vaga no mesmo regime para ajudante familiar no Porto.
É de salientar ainda que, entre as oportunidades para regime de part time, há cerca de 50 — para as mais diversas áreas e concelhos do país — que oferecem um salário mensal de 700 euros, apenas cinco euros inferior ao mínimo assegurado para remunerar um trabalhador que cumpra as oito horas diárias.
Precisamente neste patamar, nos 705 euros, começam os salários das vagas que se referem a funções para serem desempenhadas a tempo inteiro. E há mais de 3.000 oportunidades que oferecem exatamente a remuneração mínima mensal estipulada pelo Governo português.
Vagas para setor tech têm os salários mais altos
No que toca às funções procuradas pelas empresas, a lista do IEFP oferece uma enorme variedade. Existem várias vagas na área da restauração e do turismo, nomeadamente na zona sul do país, mas também no setor agrícola ou para trabalhos mais técnicos e especializados como serralheiros de moldes ou pintores à pistola e envernizadores.
Contudo, a indústria tecnológica também oferece um grande número de vagas e, regra geral, é aí que estão os salários mais elevados, a par das engenharias, medicina e ofertas para chef de cozinha.
Refugiados têm acesso a contrato emprego-inserção
Além de poderem concorrer a esta ofertas de emprego, os refugiados, nomeadamente os ucranianos, que se inscrevam IEFP como desempregados também podem beneficiar do contrato emprego-inserção. Este contrato permite que desempregados façam trabalho socialmente necessário, recebendo mais dinheiro além do subsídio de desemprego, enquanto procuram por um contrato de trabalho.
Atualmente o apoio contrato emprego-inserção destina-se a desempregados beneficiários de subsídio de desemprego ou de subsídio social de desemprego. Ao aderirem a esta medida, passam a beneficiar de uma bolsa mensal complementar no valor de 20% do IAS (438,81 euros em 2022), despesas de transporte, subsídio de alimentação e seguro de trabalho. Durante pelo menos quatro dias de cada mês, podem dedicar-se à procura ativa por trabalho.
Uma alteração à portaria que regulamenta este apoio publicada na semana passada em Diário da República determina que passam a estar abrangidos também os beneficiários de proteção temporária ou refugiados, nomeadamente os ucranianos.
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