A presidente da Direito Mental, Rita Rendeiro, contou como surgiu a ideia de criar a associação dedicada à promoção da saúde mental. O feedback que têm recebido tem sido muito positivo.
Rita Rendeiro, presidente da Direito Mental, esteve à conversa com a Advocatus e contou como surgiu a ideia de criar a associação dedicada à promoção da saúde mental junto da comunidade jurídica portuguesa. Sublinhou que o feedback tem sido muito positivo e que têm encontrado grande adesão.
Sobre o setor, Rita Rendeiro acredita que, pelas suas características, é propenso a situações de alta pressão, conflito, isolamento, ansiedade e abuso de substâncias.
Onde e quando surgiu a ideia da associação Direito Mental (DM)?
A Direito Mental começou a ser sonhada em 2020 por um advogado, o Nuno, com muita vontade de fazer algo pela Saúde Mental dos advogados em Portugal, inspirado pela Law Care, uma charity inglesa a atuar neste campo. A ideia nasceu quando nos juntámos os quatro, Nuno, Rita, Martim e Raquel numa tarde, e partilhámos os nossos valores e visão para a saúde mental da comunidade jurídica portuguesa. Unia-nos uma visão comum de haver espaço para melhoria neste campo, e, nós, enquanto membros da comunidade jurídica portuguesa, sentíamos que esta associação era necessária e aguardada, com o objetivo de potenciar e incentivar melhores práticas de saúde mental em todos nós.
Qual é o principal objetivo do projeto?
Tendo sempre como pano de fundo a promoção da saúde mental da comunidade jurídica, os objetivos concretos da iniciativa podem dividir-se em três: sensibilização e literacia, normalizando a conversa e troca de ideias sobre a Saúde Mental; apoio à comunidade jurídica e às suas pessoas em concreto, suscetíveis de enfrentarem desafios relacionados com a saúde mental, através da empatia e escuta ativa; e recolha e divulgação de conhecimentos sobre saúde mental e promoção do seu estudo através de uma avaliação do estado da saúde mental atual da comunidade jurídica portuguesa, fomentando as boas práticas, formação e investigação das suas causas, efeitos e tratamentos.
Quem são as pessoas que atualmente compõem a equipa?
A equipa é originalmente composta por mim, o Martim, o Nuno e a Raquel, e mais recentemente conta com a ajuda preciosa de elementos muito empenhados no tema, normalmente com origem nos nossos associados fundadores, que nos têm auxiliado nestes primeiros passos. Com o avançar do projeto e a proliferação de iniciativas destinadas a implementar os objetivos anteriormente referidos, estimamos que a equipa venha a contar com mais elementos, com competências específicas para cada iniciativa – entre parceiros e associados.
Queremos continuar a desenvolver o projeto com a máxima abrangência possível, para chegar a cada vez mais pessoas e instituições.
Enquanto presidente da associação, qual vai ser o seu papel?
A Direito Mental é uma associação com o objetivo de servir uma comunidade – de juristas – em desafios relacionados com a saúde mental. O meu papel é servir a Associação, promover e disseminar as boas práticas que defendemos, e, em conjunto com toda a equipa, assegurar que ela chega a todos aqueles que dela possam precisar.
É possível advogados associaram-se ao projeto? Se sim, como?
Sim, advogados e outros profissionais da comunidade jurídica portuguesa, bem como estudantes, poderão ser associados, basta preencherem o formulário de adesão disponível em www.direitomental.pt.
Existe algum apoio técnico especializado que a associação disponibiliza aos trabalhadores para que estes recorram em caso de mau estar psicológico?
A DM, enquanto ONG não, prestará qualquer tipo de apoio especializado, assumindo-se antes como um enabler para permitir a promoção e disseminação de boas práticas de saúde mental. Não obstante, uma das suas áreas de intervenção é precisamente promover o apoio emocional, e é nesse sentido que atualmente trabalhamos, em conjunto com os nossos parceiros, para definir a melhor via para disponibilizar esse tipo de soluções. Atualmente, no nosso site, já se podem encontrar alguns recursos existentes para situações em que esse apoio especializado seja necessário, disponibilizados por entidades e instituições especializadas.
Qual tem sido o feedback que tem recebido até ao momento?
O feedback tem sido em geral muito positivo, temos encontrado grande adesão da parte de toda a comunidade jurídica portuguesa, o que muito nos entusiasma. Foi uma boa surpresa encontrar essa recetividade, e os contactos que recebemos de boas-vindas ao projeto, pedidos de colaboração e associação não param de crescer. Queremos continuar a desenvolver o projeto com a máxima abrangência possível, para chegar a cada vez mais pessoas e instituições.
Estimamos que a equipa venha a contar com mais elementos, com competências específicas para cada iniciativa – entre parceiros e associados.
A saúde mental dos profissionais ligados ao setor jurídico tem tido a atenção merecida, tanto pelos empregadores como pelos próprios profissionais?
Uma das áreas de intervenção da DM será a elaboração dum estudo em conjunto com a Prochild CoLab que nos dará uma “fotografia” do estado de saúde mental da comunidade jurídica portuguesa. A partir daí, estaremos melhor equipados para apontar caminhos e desenvolver estratégias específicas de atuação.
Julgamos que já têm sido desenvolvidos iniciativas em maior ou menor escala, normalmente não integradas, e acreditamos que essa atuação transversal representará uma melhoria significativa da atenção que é dada à saúde mental na profissão, com ganhos muito substanciais para os profissionais que a ela se dedicam.
Com a pandemia, considera que a saúde mental da comunidade jurídica piorou?
Depende muito do contexto de cada indivíduo na pandemia, temos relatos de experiências diferentes. Enquanto que para uns, a pandemia piorou situações pré-existentes de ansiedade, por exemplo, para outros, constituiu um alívio relativamente a situações de stress. O estudo levado a cabo pela International Bar Association (IBA), no rescaldo da pandemia, aponta para dados preocupantes em alguns indicadores chave de saúde mental dos advogados, e é difícil saber se isso se deveu à pandemia ou a situações pré-existentes, mas é entendimento comum que há uma necessidade atual de trabalhar em prol da melhoria das práticas que promovem a saúde mental no seio da comunidade.
O setor jurídico é propício a situações de mau estar mental?
O setor, pelas suas características, é propenso a situações de alta pressão, conflito, isolamento, ansiedade, abuso de substâncias – e isto são meros exemplos. A DM pretende atuar no campo da Saúde (Mental), evitando que se chegue a essas situações de fronteira ou limite. A informação que existe, incluindo o estudo realizado pela IBA, aponta no sentido de se tratar de uma profissão com riscos na área da saúde mental – o nosso objetivo é ajudar a criar ferramentas e linhas de ação para mitigar essa realidade, sem perder a consciência daquilo que na essência é a profissão.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
“A advocacia é propensa a situações de alta pressão, conflito, isolamento e ansiedade”, diz Rita Rendeiro
{{ noCommentsLabel }}