Crise Económica, a História explica?

  • Jorge Neta
  • 14 Setembro 2022

O actual Governo anunciou recentemente um “pacote de medidas” anti-inflação, que visa procurar ajudar as famílias e, em breve, espera-se que se anuncie um novo pacote, desta vez para as empresas.

Todos temos acesso à informação que tem vindo a ser veiculada pelos diferentes órgãos de comunicação social relativamente à Crise Económica que se aproxima a largos passos e de forma inevitável.

Nesta senda, o actual Governo anunciou recentemente um “pacote de medidas” anti-inflação, que visa procurar ajudar as famílias e, em breve, espera-se que se anuncie um novo pacote, desta vez direccionado para as empresas.

Há quem defenda que estes pacotes de medidas – que também existiram durante o período do COVID-19 – apenas ajudam a aumentar dimensão e a deferir no tempo um problema que já vinha detrás e que poderia ser atenuado, por exemplo, com um alívio fiscal mais eficiente; por outro lado, há quem defenda que estas ajudas serão manifestamente insuficientes e deverão ser redobradas.

As palavras Crise, Inflação e Recessão tornaram-se, assim, novamente parte do nosso quotidiano – o tal Diabo que tantas vezes foi falado por alguns políticos – e é importante que, cada um de nós, se adapte a esta nova realidade.

Uma das medidas utilizadas para se combater a referida inflação é precisamente a subida das taxas de juro, e foi isso que fez o Banco Central Europeu no passado dia 8 de Setembro: pela primeira vez, desde 1999, optou-se por um aumento de juros de 75 pontos base, ou 0,75 pontos percentuais.

A verdade é que, acreditando nas palavras de Joachim Nage, Presidente do Banco Central da Alemanha (Bundesbank) – o qual indicou que “se a situação inflacionista permanecer como está, outros passos significativos terão de ser dados” – esta subida não deverá ficar por aqui.

Estamos assim perante um perigoso cocktail que deverá ser controlado e mitigado não só por quem nos governa, mas também por cada um de nós, nomeadamente na nossa economia familiar.

Uma das rubricas que mais tem preocupado os portugueses com esta nova fase é a do Crédito à Habitação, nomeadamente aqueles que têm indexada uma taxa variável ao seu contrato – segundo o Banco de Portugal, em Dezembro de 2021, 40,5% dos contratos de crédito com taxa variável estavam indexados à Euribor a 6 meses, a maior fatia, enquanto a Euribor a 12 meses correspondia a 28,1%, e a Euribor a 3 meses a 30%. – e, em particular, aqueles que foram contratados nos últimos 10 anos.

É inegável, pois, que nos últimos anos os portugueses vivenciaram uma realidade ímpar, com taxas negativas da Euribor, a qual potenciou o sobre-endividamento das famílias num mercado imobiliário que, concomitantemente, assistiu a uma valorização muito significativa (em especial nas grandes urbes).

Assim, e pese embora a História ajude a explicar um passado recente – recorde-se que, desde a sua criação, que as taxas Euribor atingiram, por duas vezes, picos superiores a 5% (segundo semestre de 2000 e verão de 2008) – será conveniente cada um de nós analise os contratos que tem vigor, calcule uma previsão do pior cenário possível (para isso deverá ler a sua Ficha de Informação Normalizada Europeia, onde constará a TAN – que é, resumidamente, a soma do seu spread com a Euribor aplicável) e verifique se existe alguma margem negocial para uma revisão contratual junto do seu Banco para que, desta forma, se procure desde já evitar um potencial futuro incumprimento.

Um mercado novamente inundado de NPL (non performing loans) a fazer lembrar outros tempos, é uma realidade que poucos desejam, mas que está sempre à espreita, pelo que convém não ignorar os sinais: muito recentemente, Michael Burry – investidor que ficou famoso por prever a crise imobiliária de 2008 – liquidou grande parte do seu portfolio, o que poderá indicar que o pior está mesmo para vir.

A História explicará se os portugueses e os seus Governantes aprenderam com os erros do passado, pois como já dizia Anthony Weldon em 1651 no livro “The Court And Character Of King James “A primeira vez que me enganares, a culpa será tua; já da segunda vez, a culpa será minha.”.

  • Jorge Neta
  • Associado coordenador da SPS

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