Comissão Europeia faz mira às criptomoedas para poupar energia
A Comissão Europeia propôs um plano de ação que prevê a redução do consumo de energia pelo setor tecnológico e apela aos países para estarem "preparados" para travar a mineração de criptoativos.
A Comissão Europeia apresentou esta terça-feira um plano de ação para a “digitalização do sistema energético”. A proposta pretende dotar os consumidores de ferramentas para controlarem o seu próprio consumo e vem introduzir medidas para reduzir o uso de eletricidade no setor tecnológico e reforçar a cibersegurança das redes energéticas.
O plano abrange ainda o universo dos criptoativos, com o ramo executivo da União Europeia (UE) a apelar aos países para estarem “preparados” para travar a mineração de criptomoedas caso seja necessário libertar capacidade nos sistemas elétricos.
Bruxelas parte do princípio que, no longo prazo, a digitalização será um “pré-requisito para a integração de formas descentralizadas de energia renovável na rede”, de modo a baixar a dependência europeia de combustíveis fósseis importados e a exposição à volatilidade dos preços. Além disso, a implementação de sistemas inteligentes e equipamentos como bombas de calor, painéis solares, baterias domésticas e termóstatos, entre outros dispositivos, podem permitir “reduzir as faturas de energia e a pegada de carbono”.
Nesse sentido, a Comissão “vai continuar a fornecer apoio financeiro à investigação e inovação e acelerar a implementação de tecnologias digitais no setor da energia”.
Bitcoin debaixo de olho
Quanto à redução do consumo no setor tecnológico, uma das áreas de foco da Comissão é o universo dos criptoativos. Num documento a explicar o plano, a Comissão Europeia indica que as atividades relacionadas com criptomoedas são responsáveis por cerca de 0,4% de toda a energia consumida no planeta. Em concreto, o consumo energético das criptomoedas praticamente duplicou nos últimos dois anos e aumentou 900% nos últimos cinco.
“Tendo em conta a atual crise energética e os riscos do próximo inverno, a Comissão insta os Estados-membros a implementarem medidas direcionadas e ambiciosas para reduzir o consumo de eletricidade pelos agentes de criptoativos”, nota o organismo liderado por Ursula Von der Leyen. “No caso de haver necessidade de reduzir a carga nos sistemas elétricos, os Estados-membros têm de estar preparados para parar a mineração de criptoativos”, remata a mesma nota.
A título de exemplo, a mineração é a atividade que permite o processamento de transações em algumas criptomoedas, de que é o principal exemplo a bitcoin. O termo diz respeito aos milhões de computadores ligados em permanência, que possibilitam o funcionamento da rede descentralizada que está na base desse criptoativo. Em 2021, o ECO noticiou que a bitcoin, nessa altura, gastava 2,5 vezes mais eletricidade do que Portugal num ano.
A Comissão vai mais além no controlo mais apertado da mineração. “Numa perspetiva de longo-prazo, é crucial acabar com os benefícios fiscais para mineradores de criptoativos que existem em alguns Estados-membros”, remata a entidade.
Para contribuir para a gestão do problema, a Comissão Europeia assume o compromisso de “desenvolver um relatório até 2025 que inclua a descrição do impacto ambiental e climático das novas tecnologias no mercado dos criptoativos, assim como potenciais opções políticas que ajudem a mitigar os impactos adversos no clima das tecnologias usadas no mercado dos criptoativos”.
Por fim, para esta área, Bruxelas propõe uma cooperação internacional para o desenvolvimento de “etiquetas de eficiência energética para blockchains“, o nome dado à tecnologia que possibilitou o surgimento de criptoativos descentralizados.
No caso de haver necessidade de reduzir a carga nos sistemas elétricos, os Estados-membros têm de estar preparados para parar a mineração de criptoativos.
Das criptomoedas às TIC
Porém, o plano da Comissão Europeia não abrange apenas as criptomoedas. Versa ainda sobre todo o setor das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), que, nas contas de Bruxelas, representa 7% do consumo global de eletricidade, prevendo que este número cresça para 13% até ao final da presente década. É ainda culpado por 3% a 5% das emissões globais de gases com efeito de estufa, “o que a coloca a par com o setor da aviação”, escreve a nota.
“As necessidades energéticas crescentes do setor das TIC não devem tornar-se num obstáculo ao objetivo da UE de reduzir a procura de energia no atual contexto e atingir a neutralidade climática no longo prazo”, nota a Comissão Europeia. Estão, por isso, previstas várias medidas, focadas nos data centers e na cloud, nos computadores e nas redes de telecomunicações.
Como tal, está prevista a introdução de um novo esquema de classificação energética para os data centers e uma etiqueta energética para os computadores. Bruxelas quer aplicar também novas exigências de reporte de informação sobre emissões indiretas de gases com efeito de estufa derivadas da contratação de serviços de data center e computação na cloud.
Adicionalmente, “a Comissão vai também aumentar os esforços para desenvolver indicadores comuns para medir a pegada ambiental dos serviços de comunicações eletrónicas, como as redes de telecomunicações usadas pelos dispositivos TIC para enviar e receber informação”. Nesse âmbito, vai nascer um novo código europeu de conduta para a sustentabilidade das redes de telecomunicações.
Depois dos utilizadores e das tecnológicas, o terceiro e último pilar do plano de ação é a cibersegurança. A Comissão vai propor legislação para “reforçar” a proteção das redes de energia, abrangendo, desde logo, os fluxos de eletricidade transfronteiriços.
(Notícia atualizada pela última vez às 16h20)
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