Roadshow da CGD: Interesse elevado mas preço também

Banco diz que recebeu "forte interesse" da parte de 120 investidores nos últimos três dias do roadshow em Lisboa, Paris e Londres. Ao ECO, uma fonte adiantou que mercado exige taxa superior a 10%.

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) já terminou o roadshow para a venda de 500 milhões de euros em obrigações junto de investidores privados internacionais, depois de apresentações em Lisboa, Londres e Paris. O objetivo é ‘abrir os livros’ ainda esta semana para uma colocação que, se fosse hoje, sairia acima dos 10%.

A operação de emissão de obrigações perpétuas Additional Tier 1 (AT1) é uma condição necessária para a concretização do aumento de capital do Estado em dinheiro fresco (2,5 mil milhões de euros), imposta pela Direção Geral da Concorrência europeia (DGComp). Porquê? É o teste de mercado para assegurar que a capitalização pública não configura uma ajuda de Estado, agora de 500 milhões de euros e, no prazo de 18 meses, de mais 430 milhões.

De acordo com uma fonte do ECO que acompanhou o roadshow, os investidores estão resistentes a uma operação abaixo dos 10%, embora as próximas horas sejam decisivas para apuramento do preço final, até em função da procura que vier a surgir. “Se fosse hoje, seria entre 10% e 11%”, acrescenta a mesma fonte.

Entretanto, no comunicado enviado esta tarde à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), o banco liderado por Paulo Macedo deu conta de “um forte interesse” dos 120 investidores institucionais com quem esteve reunido. Investidores estes que demonstraram “profundo conhecimento acerca da CGD e do setor financeiro português”.

A emissão da CGD está condicionada por vários fatores, uns externos e outros internos, adianta outra fonte de mercado. “Os investidores têm muito presente o que sucedeu aos obrigacionistas seniores do Novo Banco em dezembro de 2015 e o comunicado das últimas horas da Pimco e da BlackRock só piorou a situação”. Depois, há bancos espanhóis, como o Popular, a transacionar acima dos 10%. Além disto, “os investidores têm dúvidas sobre a capacidade de cumprimento do plano estratégico perante um acionista que é o Estado”. O ECO também sabe que jogaram neste processo as preocupações em Portugal com a redução de custos da Caixa: a resistência nacional ao encerramento de balcões estará a ser mal recebida pelos investidores. A mesma fonte garantiu que o banco não abrirá os livros enquanto não tiver “indicações de que há mercado”.

Ainda ontem, a DBRS emitiu uma nota a questionar as metas prometidas pela administração de Paulo Macedo. “Embora as iniciativas de redução de custos sejam necessárias para o banco regressar aos lucros sustentáveis, a DBRS acredita que mais iniciativas no lado das receitas serão também necessárias”, refere a agência canadiana, num comentário sobre o plano estratégico já anunciado. “A DBRS nota que o plano estratégico para 2017-2020 recentemente anunciado pela CGD apresenta desafios de execução. Alguns dos objetivos-chave do plano são ambiciosos, sobretudo em relação à significativa melhoria da qualidade dos ativos e o regresso do banco aos lucros em 2018”, enfatizam.

“A DBRS vê que a CGD deverá pagar um custo elevado com este instrumento AT 1, o que poderá pesar ainda mais no regresso da CGD aos lucros, particularmente considerando a fraca geração de resultados do banco e os prejuízos pelo sexto ano seguido”, frisa ainda a agência canadiana, que atribui ao banco público um rating BBB (low), com implicações negativas.

A CGD, note-se, vai colocar estes títulos perpétuos, com um trigger de 5,125%, através do Luxemburgo, para ser mais rápida, já que neste país o nível de exigência em termos de informação a prestar em operações deste tipo é muito menos apertado do que o exigidos pela CMVM.

(Atualizado com a correção de erro sobre o juro do cupão. Os 5,125% referem-se ao trigger das obrigações)

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