Conheça o gestor das finanças da Galp promovido a CEO. Da banca para a energia, até às prioridades de hoje
Filipe Crisóstomo Silva, lisboeta que estudou em Washington, passou pela banca, e já dedicou 12 anos da sua carreira às finanças da Galp, sobe agora a CEO da empresa. Conheça o seu percurso.
O atual CEO da Galp, Andy Brown, já tinha anunciado que deixaria a presidência executiva da petrolífera, depois de dois anos à frente da empresa. Faltava saber quem o substituiría, e esta quarta-feira a Galp fez saber que a escolha foi unânime entre os acionistas: será Filipe Silva, atualmente o “braço direito” de Brown como responsável financeiro (CFO) da Galp, que vai passar a estar à frente da petrolífera a partir de janeiro.
O novo rosto da Galp é, na verdade, já bem conhecido dentro da empresa, uma vez que já ocupa a posição de CFO na petrolífera desde julho de 2012 — portanto, há mais de dez anos. Desta forma, já integrou a equipa de três CEO da petrolífera: Manuel Ferreira de Oliveira, até 2015; Carlos Gomes da Silva, até 2021; e Andy Brown, até ao final deste ano.
Na nota biográfica disponível no site da Galp, lê-se que Filipe Silva é responsável por nove áreas do centro corporativo: Finanças & M&A [Fusões e Aquisições], Contabilidade e Fiscalidade, Planeamento & Performance [Desempenho], Relações com Investidores, IT & Digital, Transformation Office, Data Office, Procurement & Contratação, Gestão de Risco & Controlo Interno e, finalmente, Auditoria Interna.
Em paralelo com as funções na Galp, Filipe Silva assumiu ainda o cargo de vogal da direção do ISPG – Instituto de Petróleo e Gás, Associação para a Investigação e Formação Avançada e também o pelouro de vogal do Conselho de Administração da Fundação Galp.
“É um executivo com uma vasta experiência na empresa e nos mercados de energia, e estou certa de que esta sucessão é a que melhor permite à Galp continuar o seu percurso de crescimento e transformação, de acordo com as orientações estratégicas definidas. Desejo ao Filipe as maiores felicidades nas suas novas funções”, afirmou Paula Amorim, presidente da Galp, a propósito da substituição.
A questão da transformação da empresa à luz da transição energética é tomada como uma prioridade estratégica para a Galp, e foi entregue a Brown como missão que este deixará por cumprir, passando agora para as mãos de Filipe Silva.
Durante o percurso na Galp, Filipe Silva manteve-se discreto e são poucas as intervenções públicas de que há registo. No entanto, muito recentemente, a 3 de novembro, representou a Galp numa conferência da Bloomberg. Nessa ocasião, destacou os projetos relacionados com a transição energética que a empresa está a desenvolver.
“Queremos ser um grande ator no hidrogénio verde na Península Ibérica”, disse, justificando, contudo, com a necessidade de descarbonizar o “negócio central” da empresa, a refinação, já que, nesse processo, a Galp consome 75% do volume de hidrogénio usado em Portugal, que, para já, é hidrogénio com origem poluente. Ressalvou, ainda assim, que o plano é, além de suprir as próprias necessidades no que diz respeito ao hidrogénio, produzir o suficiente para alimentar outra indústria. “Temos a esperança que os negócios que precisem de hidrogénio verde venham para a Península Ibérica”, disse.
Quanto a autonomizar o negócio de energias limpas para o lançar em bolsa, o recém-apontado CEO defendeu que não é o momento, e que a forma de crescer será através de parcerias, desde que a Galp mantenha o controlo.
O gestor foi ainda, em meados deste ano, um dos nomeados na categoria de melhor CFO na relação com os investidores, da 34.ª edição dos Investor Relations and Governance Awards (IRGAwards), uma iniciativa da consultora Deloitte.
Na altura, em respostas por escrito enviadas ao ECO, partilhou aquela que considera a lição mais valiosa da sua experiência como gestor para enfrentar o momento atual: “Num mundo cada vez mais volátil e imprevisível, é essencial termos muito claro qual é o nosso rumo, ou seja, a estratégia de longo prazo. É igualmente imprescindível fazer uma gestão financeira muito rigorosa, mantendo a solidez do balanço. Ao longo do caminho, é necessário manter a flexibilidade para contornar os obstáculos que possam surgir, mas também para agarrar as oportunidades que nascem nos momentos de rotura”, disse.
Na mesma entrevista, salienta ainda que “toda a estratégia atual da Galp encontra-se centrada na forma de disponibilizar fontes e formas de energia limpa a toda a sociedade, assegurando em simultâneo as suas necessidades energéticas atuais de forma competitiva”.
A dívida da empresa é outro tema recorrente das (poucas) intervenções do ainda CFO da Galp. “Temos muito pouca dívida”, sublinhou na conferência no início de novembro da Bloomberg. A propósito da nomeação para os IRGA, esclareceu que a Galp tem o compromisso de manter o rácio da dívida face ao EBITDA [lucros antes de juros, impostos, depreciações e amortizações] abaixo de 1, “o que é um nível de endividamento relativamente conservador”, e a maioria da dívida está contratada a taxa fixa, pelo que considera que, nesta ótica, a empresa está “e boa forma” para atravessar a conjuntura. Não esconde, contudo, que a taxa de inflação tem impacto nos investimentos que a empresa faz.
Os analistas também parecem aplaudir a decisão da Galp de apontar Filipe Silva como CEO, com o banco de investimento RBC e a Jefferies a considerarem positiva a escolha, na medida em que transparece uma “política de continuidade” ao nível da gestão, já que Filipe Silva integrava a equipa executiva do CEO demissionário.
Antes da energia, a banca
Antes de se juntar à Galp, Filipe Silva passou por duas instituições financeiras. Foi responsável pela área de Banca de Investimento e pelo negócio de consultoria no Deutsche Bank em Portugal, entre 1999 e 2008. Nesse ano, assumiu o cargo de CEO desta mesma instituição em Portugal, onde permaneceu até 2012.
Antes, passou pelo Banco Finantia, igualmente por um período de 12 anos, sendo que durante dez anos esteve no banco como diretor de finanças corporativas.
O cargo no Banco Finantia foi ocupado diretamente depois de ter concluído a licenciatura em Gestão Económica e Financeira, na Universidade Católica da América, em Washington, em 1986, na qual tirou de seguida um mestrado em Gestão Financeira entre 1986 e 1988.
Filipe Silva nasceu em Lisboa em julho de 1964, tendo agora 58 anos de idade.
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