Greve nos portos desconvocada após reunião com João Galamba
Novo ministro das Infraestruturas pediu três meses para avançar com plano de desenvolvimento dos portos e o sindicato decidiu “dar um voto de confiança” ao sucessor de Pedro Nuno Santos.
Depois da reunião com o novo ministro das Infraestruturas, o Sindicato Nacional dos Trabalhadores das Administrações Portuárias decidiu desconvocar a greve iniciada a 22 de dezembro e que abrangia as várias infraestruturas do continente, Madeira e Açores, confirmou ao ECO o líder sindical, Serafim Gomes.
“Desconvocámos a greve. Decidimos dar um voto de confianças às intenções que o senhor ministro nos apresentou de valorizar os portos. Achámos que era uma atitude responsável, até porque [João Galamba] está há pouco no cargo. Pediu-nos tempo, até três meses, para avançar com as ideias que tem para os portos”, resumiu.
Após cinco dias em dezembro, estava prevista a paralisação todas as segundas e sextas-feiras até ao final do mês de janeiro, levando as fábricas portuguesas a temer atrasos nas encomendas e subidas nos custos de produção. Esta greve estava concentrada sobretudo nos trabalhadores marítimos, que movimentam as lanchas de pilotos e os rebocadores, mas bloqueava todas as operações portuárias.
Decidimos dar um voto de confianças às intenções que o senhor ministro nos apresentou de valorizar os portos. Achámos que era uma atitude responsável, até porque [João Galamba] está há pouco no cargo.
Na lista de reivindicações do SNTAP, que por “uma questão de independência não está, nunca esteve e nunca estará” filiado na CGTP ou na UGT, destacava-se, além da resolução de problemas distintos nos diversos portos, uma atualização da tabela salarial de 8% para os trabalhadores das administrações portuárias.
Questionado sobre se, na reunião desta segunda-feira, Galamba deixou alguma promessa em termos de valorização salarial, Serafim Gomes respondeu que “o compromisso é que vai avançar com um processo mais geral de desenvolvimento dos portos e, nesse contexto, rever as matérias das condições dos trabalhadores”. “Se houver desenvolvimento dos portos, é melhor para os trabalhadores”, acrescentou.
Contactado pelo ECO, o Ministério das Infraestruturas não quis prestar declarações sobre este anúncio de desconvocação da greve. Na terça-feira à tarde, João Galamba, que ficará a tutelar diretamente os portos, tem agendadas reuniões com as restantes “estruturas sindicais representativas dos trabalhadores das administrações portuárias, com vista à auscultação do setor marítimo-portuário”.
Na sexta-feira, a Associação dos Transitários de Portugal (APAT) estimou que esta greve estava a ter um impacto superior a 100 milhões de euros por dia para a economia nacional, com a organização liderada por Paulo Paiva (Geocargo) a apelar igualmente a um “entendimento o mais rapidamente possível” e a notar que, “além dos prejuízos causados diretamente às empresas e às pessoas, causa igualmente prejuízos à imagem de Portugal e dos portos portugueses”.
Leixões evitou desvio de navios para Espanha
No Porto de Leixões, classificado como um dos mais afetados por esta greve, em média, 15 navios ficaram ao largo em cada dia de paralisação. Para garantir a regularização das operações nos dias seguintes, a administração portuária (APDL) foi obrigada a recorrer a trabalho extraordinário para fazer as manobras desses navios que tinham ficado à espera, o que representou “custos acrescidos na massa salarial”.
Em declarações ao ECO, a presidente do conselho de administração da APDL, Cláudia Soutinho – ficou no cargo depois da saída de Nuno Araújo para diretor-geral da Aethel Mining, concessionária das minas de Torre de Moncorvo –, assegurou que “em Leixões não foi desviado nenhum navio” para outros portos, nomeadamente para Espanha. Esse era um dos maiores receios, caso a greve não tivesse sido desconvocada, “até porque a cadeia logística ajusta-se rapidamente e podia-se perder [de forma permanente] carga para outros portos”.
Entre as grandes exportadoras contactadas nos últimos dias pelo ECO, o cenário não chegou a gerar demasiada preocupação, embora pudesse complicar-se se a paralisação se arrastasse no tempo. Era o caso da Continental Mabor, por exemplo, com o presidente, Pedro Carreira, a justificar a preocupação “principalmente porque uma grande parte das matérias-primas [da fábrica de Vila Nova de Famalicão] tem a sua origem em países não europeus.
Também a Bosch Portugal indicou que o impacto da greve nos portos fez-se sentir “apenas na exportação/importação a partir do Porto de Sines, com um maior congestionamento e alguns atrasos”. No entanto, salientou fonte oficial, “não foi necessário recorrer a alternativas”. A filial gigante alemã utiliza também o Porto de Leixões para exportação dos seus produtos, mas no caso da infraestrutura nortenha não teve registo de “impactos significativos”.
Já a Galp, através de fonte oficial, disse ao ECO que “ativou diversas medidas para assegurar o aprovisionamento normal de produtos energéticos aos seus clientes”, pelo que não esperava que ocorresse qualquer perturbação de mercado.
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