Espanha ameaça dominar banca portuguesa se ficar com Novobanco
Como ficaria o mercado nacional se o Novobanco fosse vendido ao Santander ou BPI? Acentuaria ascendência espanhola no crédito e depósitos, onde Caixa e BCP (ainda) têm protagonismo.
E se o Novobanco fosse vendido ao Santander ou ao CaixaBank, dono do BPI? Não só a Caixa Geral de Depósitos (CGD) arriscaria a posição de liderança incontestável que tem até hoje no mercado nacional. Também Espanha acentuaria a sua ascendência no crédito e depósitos no país vizinho.
Enquanto os reguladores olham com bons olhos para movimentos de consolidação, o Novobanco poderá seguir exatamente esse caminho, já com o processo de reestruturação para trás das costas. Citando fontes financeiras, o jornal Vozpópuli (acesso livre/conteúdo em espanhol) avançou que a Lone Star já deu início a contactos preliminares com potenciais compradores e que a operação poderia arrancar ainda este ano ou, mais tardar, início do próximo. Confrontada pelo ECO, fonte oficial da Lone Star não quis comentar inicialmente, mas depois veio desmentir publicamente a notícia no dia seguinte: “Ao contrário do referido, a Lone Star não iniciou quaisquer contactos para vender a sua posição no Novobanco nem pretende iniciar um processo de venda este ano”.
Com 75% do capital, é público que a Lone Star procura recuperar os 1.000 milhões investidos no Novobanco em 2017. Já Fundo de Resolução e Estado detêm os restantes 25% e também terão uma palavra a dizer quando chegar o momento de decidir o futuro do quinto maior banco português, com quotas de mercado de 10% no crédito e depósitos.
Não há dúvidas: se alguém ficar com a instituição que nasceu do BES dá um grande salto em Portugal.
Novobanco+Santander cria líder de 150 mil milhões
E se fosse o Santander? Se há banco habituado a absorver a concorrência nos últimos anos tem sido exatamente o Santander, atualmente liderado por Pedro Castro e Almeida. Aconteceu em 2015 quando ficou com o Banif e em 2017 quando absorveu o Popular.
Com o Novobanco, a história seria outra. O Santander passaria a líder destacado do mercado de crédito, ultrapassando a Caixa tanto no segmento da habitação como das empresas, com volumes de 33 mil milhões e 30 mil milhões respetivamente (contra 25 mil milhões e 20 mil milhões do banco público).
Paulo Macedo já disse que o tema da consolidação não é indiferente à Caixa, pois quer manter dimensão suficiente para ser um player com poder no mercado. “Não temos uma fixação se somos o primeiro banco, o segundo ou o terceiro, mas precisamos de dimensão para ser um banco público. Não se justifica um banco público sem poder de ação no mercado”, disse uma vez.
Apesar de perder a liderança no mercado de crédito, a Caixa conseguiria manter-se líder nos depósitos de clientes, com o Santander a aproximar-se do banco do Estado.
De qualquer forma, somando créditos e recursos, uma consolidação entre Santander e Novobanco daria lugar a um banco com 150 mil milhões de euros em ativos, mais 20 mil milhões do que tem atualmente a Caixa.
Santander no topo com Novobanco
Fonte: Bancos
BPI duplica de dimensão
E se fosse o BPI? O dono CaixaBank também está muito experimentado a movimentos de consolidação, mas essencialmente no mercado espanhol. Ainda em 2021 terminou a fusão com o Bankia.
Os responsáveis espanhóis têm afastado a ideia de uma fusão com o Novobanco, apostando apenas no crescimento orgânico no plano estratégico que o CEO João Pedro Oliveira e Costa terá de executar no BPI até 2024.
Embora uma consolidação entre o BPI e Novobanco (lembrando um cenário no início dos anos 2000, com uma fusão entre BPI e BES) não tirasse a Caixa do trono, o CaixaBank praticamente duplicaria de dimensão em Portugal, com o BPI a “morder os calcanhares” ao banco do Estado e a tornar-se no segundo maior banco em Portugal, com um volume de crédito e depósitos de 130 mil milhões de euros.
No crédito, de resto, o BPI assumiria a primeira posição no mercado, com uma carteira de 55 mil milhões de euros – mais nove mil milhões que o banco público, que se manteria na liderança, ainda assim, do segmento da habitação.
BPI seria líder no crédito com Novobanco
Fonte: Bancos
Espanha acentua ascendente na banca portuguesa
Em 2016 foi lançado um manifesto da parte de empresários e economistas contra o domínio espanhol na banca portuguesa. Mas, havendo um casamento do Novobanco com um grande espanhol, seja Santander ou BPI, a tendência de “espanholização” ganharia um novo fôlego ao ponto disputarem o mercado com os bancos nacionais taco a taco.
O domínio de nuestros hermanos seria mais evidente no mercado de crédito: 98 mil milhões de euros do Santander, BPI e Novobanco, contra os 87 mil milhões da Caixa e BCP.
Espanha no crédito, Portugal nos depósitos
Fonte: Bancos
Se nos empréstimos às empresas os pratos da balança estariam equilibrados (40 mil milhões para cada lado), no segmento do crédito à habitação os espanhóis ficariam à frente: 47,2 mil milhões contra 44 mil milhões.
No que diz respeito aos depósitos, o domínio continuaria nas mãos da banca nacional. Isto apesar de os bancos espanhóis passarem a gerir quase 100 mil milhões de euros de poupanças dos portugueses.
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