Os dividendos das cotadas aumentam a um ritmo bem inferior aos lucros, atirando o "payout" para mínimos. No entanto, há 10 empresas que estão a negociar com uma taxa de dividendos acima de 5%.
A época de pagamento de dividendos está à porta e os acionistas das cotadas portuguesas voltam a receber uma remuneração atrativa: mais de metade das empresas do PSI vão entregar dividendos que representam um retorno bruto acima de 5% para os seus acionistas, de acordo com a cotação de fecho de sexta-feira.
As 16 empresas cotadas na praça portuguesa que já anunciaram os planos de distribuição de lucros vão entregar 2.569 milhões de euros aos acionistas através do pagamento de dividendos em dinheiro. Este montante, que contabiliza os dividendos já pagos desde a última época regular, representa um magro crescimento de 2% face ao valor do ano passado, que já era um recorde.
Apesar de a remuneração aos acionistas voltar a aumentar, o ritmo é muito inferior à progressão registada nos lucros. Estas 16 empresas consolidaram resultados líquidos acima de 4 mil milhões de euros em 2022, mais 41% do que no ano anterior, pelo que vão entregar aos acionistas 63,6% dos lucros registados.
Olhando apenas para o PSI, 12 cotadas vão remunerar os acionistas com 2.522 milhões de euros, o que representa 65% dos lucros obtidos. No ano passado o “payout” estava próximo dos 70%, sendo que o indicador deste ano é o mais baixo (pelo menos) desde 2017.
Nove empresas aumentam dividendo
A descida do “payout” e o aumento ténue da remuneração total reflete as dinâmicas em algumas cotadas de maior dimensão. O Banco Comercial Português decidiu não pagar dividendos e a EDP Renováveis optou por pagar um script dividend, dando a possibilidade aos acionistas de subscreverem novas ações, ou converterem os títulos em liquidez.
Além destas duas empresas do PSI que não pagam dividendo em cash, a Jerónimo Martins reduziu a remuneração em 30%, o que traduz um corte de quase 150 milhões de euros no bolo total. Fora do índice, destaque para a Sonaecom, que baixou a remuneração em 85% (menos 50 milhões de euros), entregando aos acionistas apenas 6,5% dos lucros.
Estes cortes são compensados por uma dinâmica geral de aumento dos dividendos. São nove as empresas que sobem a remuneração, contra apenas três cortes. Três empresas mantiveram a remuneração e existe apenas uma estreia: a Cofina vai pagar 3 cêntimos por ação após um interregno de seis anos.
Chuva de dividendos na Euronext Lisboa
Quando se escolhe empresas boas pagadoras de dividendos para investir numa lógica de longo prazo, é necessário avaliar vários fatores. Desde logo analisar o histórico e a política de remuneração aos acionistas (caso exista).
E depois ter em conta que as taxas de dividendos e os rácios de payout muito elevados podem não ser sustentáveis. Além disso, ambos os indicadores não devem ser avaliados de forma isolada.
Depois de detalhados os números globais dos dividendos que se preparam para chover na praça portuguesa, fique agora a conhecer em mais detalhe a política de dividendos das 16 cotadas do PSI – ordenadas pela taxa de dividendos das ações à cotação de fecho de sexta-feira.
Semapa com dividendo mais rentável
Após muitos anos com dividendos pouco atrativos, a Semapa surge este ano com a remuneração mais rentável da Bolsa nacional. No final de 2022 pagou um dividendo de 1,252 euros por ação e agora vai entregar mais 0,95 euros. A remuneração total traduz uma rendibilidade bruta de 15,8%, de longe a mais elevada entre todas as cotadas nacionais. A holding controlada pela família Queiroz Pereira e liderada por Ricardo Pires (ao centro na foto) vai entregar 179 milhões aos acionistas após um ano em que os lucros subiram 55%. O payout de 58% está longe de ser elevado e situa-se bem abaixo do registado por outras cotadas.
Venda de ativos deixa NOS próxima dos 10%
A NOS manteve o dividendo regular em 27,8 cêntimos por ação, mas decidiu juntar uma remuneração extraordinária de 15,2 cêntimos depois de ter vendido torres de telecomunicações à Cellnex por 155 milhões de euros no final do ano passado. A operadora liderada por Miguel Almeida vai pagar 221,5 milhões de euros aos acionistas (43 cêntimos por ação), o que representa uma rendibilidade de 9,9% e a quase totalidade dos lucros obtidos em 2022.
Subida dos lucros impulsiona dividendo da Navigator
A Navigator fecha o pódio dos dividendos mais rentáveis do PSI. A remuneração da empresa liderada por António Redondo aumenta em 33% para 201,8 milhões de euros, bem menos do que o aumento dos lucros (129% para 392,5 milhões de euros), o que representa um payout pouco acima de 50%. O dividendo por ação de 21,8 cêntimos traduz-se coloca as ações da papeleira e negociarem com uma taxa de dividendos de 8,5%.
Mota-Engil mais do que duplica dividendos
A construtora esteve alguns anos afastada da remuneração aos acionistas, mas agora está agora a adotar uma política diferente. Em outubro pagou um dividendo extraordinário de 1,725 cêntimos por ação, já referente ao exercício de 2022. Agora, já sob a liderança de um novo CEO, vai pagar mais 10,023 cêntimos por ação, o que eleva a taxa de dividendos para 6,6% e mais do que duplica a remuneração paga no ano passado. A Mota-Engil entrega 36 milhões de euros aos acionistas, 86% dos lucros de 2022.
REN paga o mínimo
Depois de ter alterado a sua política de remuneração aos acionistas em 2021, a REN optou por pagar o mínimo com que se comprometeu. Entrega 15,4 cêntimos por ação (remuneração intercalar de 6,4 cêntimos já foi paga), o que represente uma taxa de dividendos de 5,8% à cotação de fecho de sexta-feira, e um payout superior a 90%.
Sonae mantém ritmo de aumento de 5%
A Sonae tem aumentado o valor do dividendo a um ritmo anual de 5%, uma estratégia que manteve em 2023. A remuneração sobe para 5,37 cêntimos por ação, o que representa um retorno de 5,3% e menos de um terço dos lucros obtidos em 2022 pela empresa liderada por Cláudia Azevedo. O payout de 31,4% é o mais baixo no PSI, num ano em que os lucros foram impulsionados por mais-valias com vendas de ativos.
Altri mantém dividendo e entrega mais ações da Greenvolt
A Altri é uma das três cotadas que manteve o dividendo por ação, mas os acionistas da empresa vão receber mais ações da Greenvolt (11 por cada 100 ações detidas). Ao dividendo de 25 cêntimos por ação (que ainda pode ser ajustado) corresponde uma taxa de dividendos de 5,2%, com a empresa de pasta e papel a entregar um terço dos lucros aos acionistas.
Galp Energia fica perto dos 5%
Cumprindo a promessa inscrita na sua política de remuneração aos acionistas, a Galp Energia aumentou o dividendo em 4% para um total de 52 cêntimos por ação (metade já foi pago em setembro), o que representa uma taxa de dividendos de 4,8% à cotação de fecho de sexta-feira. Tendo em conta que os lucros quase duplicaram em 2022, payout da petrolífera liderada por Filipe Silva baixou de forma substancial para menos de 50%. A Galp vai entregar mais de 400 milhões de euros aos acionistas, o segundo valor mais elevado do PSI.
EDP paga quase 800 milhões com payout acima de 100%
A EDP é a única cotada do PSI que paga aos acionistas um valor superior aos lucros obtidos (payout de 117%). Apesar de o dividendo permanecer estável nos 19 cêntimos por ação, a remuneração total aumenta 6% para perto de 800 milhões de euros devido ao aumento de capital, o que representa mais de 30% do total que vai ser pago por todas as cotadas portuguesas. As ações da companhia liderada por Miguel Stilwell negoceiam atualmente com uma taxa de dividendos de 3,9%.
CTT sobe dividendo apesar de queda nos lucros
Longe vão os tempos em que os CTT se distinguiam pelo dividendo atrativo e com payouts acima de 100%. Apesar de ser a única cotada do PSI que baixou os lucros no ano passado (-5%), a empresa dos correios aumentou o dividendo em 4% para 12,5 cêntimos por ação, o que traduz um retorno de 3,4% e um payout pouco acima de 50%.
Corticeira Amorim com payout abaixo de 40%
Apesar de ter aumentado o dividendo em 2%, a Corticeira Amorim registou um aumento mais substancial nos lucros do ano passado (+32%), pelo que o payout ficou abaixo de 40%. Com um dividendo de 29 cêntimos por ação (9 cêntimos já foram pagos), as ações negoceiam atualmente com uma taxa de dividendos de 2,9%.
Corte de 30% atira Jerónimo Martins para o fundo do ranking
Depois de pagar uma remuneração extraordinária no ano passado, a Jerónimo Martins alinhou com a política de distribuição de entre 40% a 50% dos lucros. O dividendo baixa 30% para 55 cêntimos por ação, o significa um corte de quase 150 milhões de euros e a descida do payout para perto de 60%, contra 107% em 2022. Esta remuneração coloca as ações a transacionar com uma taxa de dividendos de 2,6%, o valor mais baixo entre as 12 cotadas do PSI que pagam dividendos.
Ramada e Cofina com retornos de dois dígitos. Novabase com payout mais alto
Entre as quatro cotadas fora do PSI que pagam dividendos, duas oferecem retornos acima de 10%. A Ramada paga 82 cêntimos por ação, o que se traduz numa taxa de dividendos de 11,6% e um payout de 105,1%. A Cofina regressa com 3 cêntimos por ação, o que representa um retorno de 10,5% e menos de 30% dos lucros. A Novabase vai entregar aos acionistas a última parcela do que tinha prometido (42 cêntimos por ação). Apesar da descida de 2% face a 2022, os 13,2 milhões de euros excedem os lucros de forma substancial. O payout de 148% é o mais alto da Bolsa portuguesa. Nota final para as ações da Sonaecom, que apresentam a taxa de dividendos mais baixa da praça financeira acional, numa altura em que está a ser avo de uma OPA do seu maior acionista.
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Dez cotadas nacionais pagam dividendo com retorno acima de 5%
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