10 momentos que marcaram de Fernando Ulrich à frente do BPI

  • Rita Atalaia
  • 26 Abril 2017

Depois de 13 anos, o presidente do BPI está de saída. Para o seu lugar entra hoje Pablo Forero, diretor-geral do CaixaBank. Seguem-se os dez momentos de Fernando Ulrich à frente do banco português.

Desde “se os sem-abrigo aguentam, porque é que nós não aguentamos?”, até “o dia em que batermos na parede não está muito longe”, muitas foram as frases polémicas ditas por Fernando Ulrich desde que está à frente do BPI. São, ao todo, 13 anos de liderança que acabam agora com a entrada do diretor-geral do CaixaBank, que se vai sentar no lugar do presidente-executivo. Pablo Forero Calderón, só Pablo Forero na esfera profissional, está no banco catalão desde 2009. Agora, e na sequência da oferta pública de aquisição (OPA) lançada pelo CaixaBank ao BPI, assumirá o cargo mais alto numa instituição bancária. Conheça dez dos momentos mais marcantes de Ulrich à frente do banco português.

10 momentos de Fernando Ulrich no BPI

  • “O país aguenta mais austeridade?… ai aguenta, aguenta!”

Foi em 2012 que o presidente executivo do BPI afirmou que o país teria de aguentar mais austeridade. Fernando Ulrich referiu, na conferência III Fórum Fiscalidade Orçamento de Estado 2013, que estava chocado como havia “tanta gente tão empenhada, normalmente com ignorância com o que está dizer ou das consequências das recomendações que faz, a querer nos empurrar para a situação da Grécia”.

Pouco tempo depois, Ulrich voltou a fazer outra declaração polémica. “Se andar aí na rua e infelizmente encontramos pessoas que são sem-abrigo, isso não lhe pode acontecer a si ou a mim, porquê? Isso também nos pode acontecer”, dizia então o presidente executivo do BPI. “Se as pessoas que vemos ali na rua, naquela situação a sofrer tanto aguentam, porque é que nós não aguentamos?”, questionou.

Declarações que levaram o deputado do PS João Galamba a exigir um pedido de desculpa do presidente… que nunca chegou. Fernando Ulrich disse apenas que tinha feito “afirmações absolutamente banais”.

  • “O dia em que batermos na parede não está muito longe. Talvez por semanas”

A frase foi dita por Fernando Ulrich em 2010. O presidente do BPI afirmou que bater na parede significava, por exemplo, a intervenção do FMI. “Lamento mas o país tem que saber”, disse o gestor. “Tirem já o C do PEC, o c é para esquecer”, pedia Ulrich, acrescentando que “o principal problema de Portugal não é apenas de tesouraria, mas sim o facto de não nos conseguirmos financiar”. E rematou: “Ou se discute a sério a economia portuguesa e o seu sistema financeiro, ou teremos graves problemas de futuro”.

  • Contribuintes é que pagaram a banca? “É mentira”

Afinal quem é que pagou os problemas da banca? Fernando Ulrich negou que tenham sido os contribuintes. O presidente do BPI disse estar preocupado com as notícias na comunicação social — nomeadamente declarações de comentadores — que estariam a passar mensagem de que os contribuintes é que têm pago os problemas na banca. “É mentira”, disse Ulrich.

Os números “mostram que quem fez um grande esforço e teve perdas gigantescas foram os acionistas dos bancos” e revelam que “os vários governos protegeram muito bem os contribuintes”, realçou.

  • “Projeto [do banco mau] não interessa ao BPI”

O Governo de António Costa tem estado a estudar um veículo para limpar o malparado dos bancos portugueses. Mas esta solução “não interessa ao BPI”, salientou Fernando Ulrich. “Não conheço o projeto para o banco mau. Tenho dificuldade em pronunciar-me (…) Isso é para ativos que não estão corretamente provisionados”, avaliou o presidente do banco português.

  • “Tinha mais graça enfrentar o Dr. Salgado quando achavam que era dono disto tudo”

A queda do Banco Espírito Santo (BES) levou o antigo presidente Ricardo Salgado a ser condenado pelo Banco de Portugal a pagar uma multa de quatro milhões de euros. Isto além de ficar inibido de exercer qualquer cargo ou atividade no setor financeiros nos próximos dez anos. Mas Fernando Ulrich não quis falar sobre isto. O presidente do BPI disse apenas que “tinha mais graça ter alguns confrontos com o Dr. Ricardo Salgado quando vocês [jornalistas] achavam que ele era dono disto tudo”.

Na altura, referiu também que “estar a fazer comentários sobre uma pessoa que foi líder do BES e numa altura que, com certeza, é um período difícil, não me acrescenta nada. Gosto de enfrentar as pessoas quando estão na mó de cima”.

  • “Eu preferia a solução do Partido Comunista que era a nacionalização [do BES]”

O presidente do BPI defende que o BES deveria ter sido nacionalizado quando foi resgatado. Esta seria, segundo Ulrich, a via mais segura para a banca nacional por não implicar riscos de prejuízos. “Agora vou ser muito egoísta e puxar só a brasa aos interesses que eu defendo”, disse. “Eu preferia a solução do Partido Comunista que era a nacionalização do banco [BES], essa tinha sido melhor para nós”, rematou.

Na altura, o gestor referiu que a possibilidade de o futuro comprador do Novo Banco ficar sob risco de ter de enfrentar vários processos em tribunal decorrentes do resgate do BES poderia afastar potenciais interessados. Quase três anos, o banco de transição foi vendido ao fundo norte-americano Lone Star.

  • “Há pessoas que são sérias e pessoas que não são sérias”

No ano passado, o presidente do BPI deixou claro: “não me venham com a conversa do sistema”. Ulrich disse que “quem fala do sistema andava a tentar esconder-se atrás de uma média que, hoje sabemos, escondia coisas horrorosas. Eu não sou parte do sistema, o BPI não é parte do sistema e nós também temos as nossas responsabilidades mas também fazemos as coisas bem feitas”, frisou. Por isso, defendeu: “Há bancos bons e bancos maus, pessoas que são sérias e pessoas que não são sérias”.

  • “Aposto praticamente 100% que [António Domingues] vai ser convidado para presidente da Caixa Geral de Depósitos”

Fernando Ulrich soube exatamente quando é que António Domingues foi desafiado a liderar a Caixa Geral de Depósitos. “Um dia, a secretária ou gabinete do Sr. ministro das Finanças ligou para falar com ele [António Domingues]. Era ao fim do dia e não estava. E a secretária dele também não. Ligaram para a minha [Fernando Ulrich] e pediram para falar com ele”.

No dia seguinte, contou o presidente executivo do BPI, “conversei com ele e ele foi conversar com o ministro nessa tarde. Quando conversámos eu disse: ‘aposto praticamente a 100% que vai ser convidado para presidente da CGD'”.

  • “Enviei uma carta ao sr. governador do Banco de Portugal, na qual reponho a verdade dos factos”

O presidente do conselho de administração do BPI, Fernando Ulrich, enviou uma carta ao governador do Banco de Portugal para repor “a verdade dos factos” sobre os alertas que fez, em 2013, em relação ao Grupo Espírito Santo. Numa entrevista ao jornal Público, Carlos Costa desvalorizou o papel de Fernando Ulrich nas chamadas de atenção para o problema do GES. Reconhece que o presidente do BPI lhe entregou um documento, tal como tinha sido revelado pela reportagem da SIC, mas garante que “nesse momento, o Grupo GES já tinha sido identificado como uma das grandes entidades devedoras do sistema.”

  • “Confio no Dr. António Costa” e no seu “sentido de responsabilidade”

Foi há dois anos que Fernando Ulrich expressou o seu apoio a António Costa, caso viesse a ocupar o cargo de primeiro-ministro, como veio a acontecer. “Se, porventura, o Dr. António Costa for indigitado para ser o próximo primeiro-ministro (não faço a menor ideia do que vai acontecer), eu, pessoalmente, confio no Dr. António Costa e no PS e [confio] que terão o sentido de responsabilidade necessário para manter o país num caminho de rigor”, defendeu. Isto depois de o presidente do BPI ter dito publicamente que votou em Pedro Passos Coelho e no PSD.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

10 momentos que marcaram de Fernando Ulrich à frente do BPI

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião