Mais de metade dos jovens mudaria de emprego se obrigado a regressar a trabalho presencial
Grande parte afirma que será muito difícil ou impossível tomar grandes decisões como comprar casa ou constituir família caso a situação económica não melhore. Mais de um terço tem segundo emprego.
Cerca de metade dos jovens portugueses trabalha em modelo híbrido e desses, mais de metade, mudaria de emprego caso fosse obrigado ao trabalho 100% presencial, 39% deseja a semana de quatro dias e mais de um terço tem um segundo emprego, por razões económicas, aponta o “Gen Z and Millennial Survey 2023″, da Deloitte, junto a 22 mil jovens inquiridos em 44 países, incluindo 400 em Portugal.
“Este estudo é um retrato nítido sobre duas gerações que são o presente e o futuro, e que irão liderar tendências que já estão a transformar a sociedade e o mundo do trabalho. O estudo identifica as principais preocupações destas gerações, como sejam o custo de vida, o desemprego e as alterações climáticas, e clarifica as expectativas que têm relativamente à vida profissional, nomeadamente o equilíbrio entre as esferas pessoal e profissional, a saúde mental e o contributo das organizações para a sustentabilidade”, diz Diogo Santos, partner da Deloitte, citado em comunicado.
“Estas conclusões constituem importantes ingredientes para as empresas configurarem novas estratégias de atração e retenção de talento, adaptando-se assim às especificidades destas novas gerações que representarão a maioria da força de trabalho já em 2025”, refere ainda.
Família, amigos são o mais importante
Resultante de um inquérito junto a mais de 20 mil jovens, de 44 países, dos quais 400 em Portugal da geração Z (nascidos entre 1995-2010) e millennials (1980-1994), o estudo dá pistas sobre como as gerações mais jovens olham para o mercado de trabalho e quais as suas expectativas: maior flexibilidade e equilíbrio entre a vida profissional e pessoal são algumas das ambições da nova geração.
Apesar de valorizado, o trabalho não é o elemento mais importante para o sentido de identidade do jovem, com 77% da geração Z e 81% dos millennials portugueses a destacar a família e amigos. O trabalho surge na segunda posição (56% da geração Z e 62% dos millennials).
“Um terço dos inquiridos portugueses (33% de ambas as gerações) aponta a capacidade de manter um equilíbrio entre a vida profissional e pessoal como um dos aspetos que mais os impressionam nos seus pares, com a dedicação à família e amigos a surgir em segundo lugar na lista. Por oposição, a nível global, o valor é um pouco mais baixo: só 26% da geração Z e 28% dos millennials referem aquela como a qualidade que mais admiram”, aponta o estudo.
Cerca de metade dos jovens portugueses inquiridos – 49% da geração Z e 48% dos millennials – está numa modalidade de trabalho híbrido ou remoto e, em caso de regresso ao trabalho 100% presencial, uma larga maioria, consideraria procurar um novo emprego, uma vontade mais acentuada junto dos trabalhadores millennials (75%) do que na geração Z (69%).
Cerca de um quarto dos inquiridos (25% da geração Z e 26% dos millennials) considera mesmo que permitir o trabalho remoto para os colaboradores que assim o desejem seria “uma boa medida das organizações para fomentar a flexibilidade e equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho”.
A nível global é visível também esse desejo de flexibilidade, com 54% da geração Z e 59% dos millennials a considerar que o modelo híbrido é positivo para a sua saúde mental, permitindo-lhes mais tempo com amigos e família, tratar de responsabilidades fora do trabalho, ter hobbies e reduzir o custo em transportes.
Mas novos modelos de trabalho também suscitam ‘velhas’ preocupações: “18% da geração Z e 15% dos millennials sentem-se excluídos ou prejudicados pelas chefias a favor de colegas que passam mais tempo em regime presencial, e preocupa-os que o modelo híbrido ou remoto possa limitar a sua carreira, isto porque 14% acredita que pode tornar mais difícil estabelecer uma relação com colegas”, aponta o estudo.
Semana de quatro dias: mais de um terço a favor
A semana de quatro dias de trabalho – Portugal tem um piloto, promovido pelo Governo, a decorrer até final do ano, com 39 empresas – é vista com bons olhos pela geração mais nova. Mais de um terço (39%) da geração Z e 44% dos millennials portugueses são a favor da implementação desta medida para ajudar a promover um melhor equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, valor acima do registado a nível global, com 32% da geração Z e 31% dos millennials a opinar no mesmo sentido.
Um número crescente de profissionais relata igualmente dificuldade em ‘desligar’ depois da jornada laboral, com cerca de 23% da geração Z e 25% dos millennials a responder todos os dias a emails e mensagens profissionais fora do horário habitual de trabalho; e 22%, pelo menos, um ou dois dias por semana.
“A maioria diz fazê-lo para se manter a par dos últimos desenvolvimentos, ou por serem mensagens provenientes da chefia ou supervisores; mas um número elevado dos jovens inquiridos afirma sentir uma sensação de ansiedade e de dificuldade de se desligar do trabalho (19% da geração Z e 27% dos millennials)”, aponta o estudo.
Números que alinham com o sentimento global, embora, em Portugal, os jovens que afirmam que ‘nunca/ quase nunca’ respondem a emails ter uma percentagem mais elevada, com 33% da geração Z e 40% dos millennials a referir isso contra os 25% da geração Z e 28% dos millennials a nível global.
Os níveis de stress mantêm-se, no entanto, elevados. A nível global, cerca de 46% da geração Z e 39% dos millennials diz sentir-se stressado durante grande parte do tempo ou mesmo todo o tempo, e em Portugal os números são ainda mais elevados: 49% para a geração Z e 43% para os millennials.
A saúde mental (53% e 33%), o futuro financeiro a longo prazo (52 e 48%), a saúde e bem-estar da sua família (52% e 46%) e as finanças do dia a dia (48% e 40%) estão na origem desse sentimento entre os jovens, bem como a intensidade das suas obrigações profissionais (46% e 39%).
Cerca de metade vive de ‘ordenado em ordenado’
O aumento do custo de vida é uma preocupação nestas duas gerações tanto a nível nacional como global. Cerca de metade vive de ordenado em ordenado, situação que afeta 53% da geração Z e 51% dos millennials portugueses – lá fora os números são 51% e 27%, respetivamente.
Depois do custo de vida, saúde mental, a crise climática e o desemprego estão no topo das preocupações dos jovens profissionais, refletindo o clima de grande preocupação com o cenário económico.
Portugal tem uma das taxas de desemprego jovem mais elevadas da Europa – país fechou junho com 17,2% de taxa de desemprego, acima dos 14,1% na UE e de 13,8% na Zona Euro no mesmo período – e os contratos temporários são uma realidade para seis em cada dez (57%) empregados, bastante acima dos 14% que correspondem aos trabalhadores entre os 25-64 anos, revelam os dados da Pordata, relativos a 2022.
“Grande parte dos inquiridos afirma que será muito difícil ou impossível tomarem grandes decisões como comprar casa (72% da geração Z e 67% dos millennials) ou constituir família (60% da geração Z e 57% dos millennials) se a economia não melhorar nos próximos 12 meses”, aponta o estudo.
No tema constituição de uma família, a diferença percentual entre os resultados do inquérito em Portugal é notória: 10 pontos percentuais acima do que a nível global, com 50% da geração Z e 47% dos millennials a referir esse tema.
Para fazer face as estas preocupações económicas, 44% dos jovens da geração Z e 31% dos millennials têm um segundo emprego, sendo as ocupações mais comuns trabalhos esporádicos como entrega de refeições ou aplicações de partilha de boleias (23% e 11%), gaming profissional (23% e 8%), trabalho em retalho ou restauração (21% e 8%) e treino desportivo (16% e 10%).
Se para cerca de metade – 47% da geração Z e 46% dos millennials – a motivação é a procura de fonte de rendimento extra, para um número significativo essa opção visa desenvolver capacidades e relações importantes (26% da geração Z e 13% dos millennials portugueses) e transformar um hobbies numa atividade profissional (23% da geração Z e 18% dos millennials portugueses).
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