Commerzbank: “Portugal ainda não está livre de perigo”
Há surpresas positivas em Portugal, mas não está tudo bem, dizem os analistas do Commerzbank. O país ainda não está livre do perigo que levou ao resgate internacional e ao regresso da troika em 2011.
É este o diagnóstico que o Commerzbank traça em relação a Portugal: o país melhorou mas “ainda não está livre de perigo”.
Notam os analistas do banco alemão que “a economia portuguesa registou um forte crescimento, o défice de 2016 ficou abaixo do objetivo e as taxas de juro das obrigações a dez anos caíram bem abaixo dos 4% novamente, apesar do menor ritmo de compras do BCE”. “Mas ainda é cedo para dizer que está tudo bem”, sublinham numa nota publicada esta sexta-feira. Quais os problemas do paciente português?
Para o Commerzbank, será cada vez mais desafiante para Portugal manter este desempenho surpreendentemente positivo. Por exemplo, em relação ao défice, que o Governo de António Costa pretende baixar para 1,5% em 2017. “É questionável se o Governo conseguirá reduzir o défice como planeado“, considera o banco. E explica: “Como no longo prazo o investimento não pode (e não deve) permanecer no nível baixo de 2016 — o Governo anunciou um aumento substancial para este ano novamente — não se pode falar de uma consolidação sustentada das finanças públicas no ano passado. Perante um novo aumento do investimento e sem redução dos encargos com juros, será difícil empurrar o rácio do défice para 1,5% este ano e 1,0% em 2018, que são as metas anunciadas pelo Executivo”.
"A economia portuguesa registou um forte crescimento, o défice de 2016 ficou abaixo do objetivo e as taxas de juro das obrigações a dez anos caíram bem abaixo dos 4% novamente, apesar do menor ritmo de compras do BCE. Mas ainda é cedo para dizer que está tudo bem.”
Também em relação à performance dos juros das obrigações dificilmente Portugal conseguirá novo brilharete. A taxa a dez anos está agora nos 3,4%, depois de em março ter superado os 4,3%. Para o Commerzbank não deixa de ser um desempenho notável num contexto em que o Banco Central Europeu (BCE) continua a reduzir as compras de dívida portuguesa. Mas vê pouco provável que uma baixa dos juros volte a acontecer, sobretudo porque as principais agências de rating deverão manter Portugal no lixo até 2018, pelo menos.
Portugal continua vulnerável
Na análise ao atual estado do país, os analistas do Commerzbank salientam ainda que Portugal enfrenta ainda “alguns problemas estruturais”, notando que “algumas medidas tomadas pelo Governo podem exacerbar esses mesmos problemas, novamente”.
Dá como exemplo “o aumento desproporcionado do salário mínimo” que não beneficia nem os trabalhadores menos qualificados — que passam a ter a vida mais dificultada no acesso ao mercado de trabalho — nem os empresários — que veem os custos salariais das empresas subir de forma considerável.
Os riscos também vêm de fora. “Portugal está a beneficiar — assim como toda a zona euro — de uma economia mundial mais forte, enquanto o seu elevado nível de endividamento privado e público apenas é sustentável graças à política monetária ultra expansionista do BCE”. Porém, “se um (ou ambos) destes fatores sair da equação, os problemas significativos do país deverão tornar-se mais evidentes outra vez“, argumenta o banco.
Neste cenário, sugere o banco alemão, o país pode ficar novamente privado do acesso ao mercado, tal como aconteceu quando foi obrigado a pedir ajuda internacional em 2011.
"Portugal está a beneficiar –assim como toda a zona euro — de uma economia mundial mais forte, enquanto o seu elevado nível de endividamento privado e público apenas é sustentável graças à política monetária ultra expansionista do BCE.”
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