Juros portugueses ao fundo. Taxa a dez anos já está abaixo dos 3%
Em apenas dois meses, a taxa das obrigações a dez anos baixou dos 4% para 3%. Descompressão em torno da dívida portuguesa atira juros para mínimos de mais de oito meses.
Descompressão total nos juros da dívida portuguesa. A taxa das obrigações a dez anos caiu para um patamar abaixo 3% na sessão desta quinta-feira, algo que já não acontecia desde setembro do ano passado. Os juros nacionais estão em queda acentuada há semanas. Em apenas dois meses, a correção foi de mais de 100 pontos face à taxa de 4,003% que atingiu no final de março.
Passavam pouco das 15 horas quando a yield implícita nas obrigações do Tesouro a dez nos, a referência do mercado, atingiu os 2,998%, negociando ao nível mais baixo desde o dia 7 de setembro do ano passado. Isto significa que os investidores estão a exigir menos dinheiro para comprar dívida portuguesa no mercado secundário, ajudando a baixar a fatura da próxima vez que Portugal realizar um novo leilão de dívida.
Os juros portugueses estão em queda acentuada desde que em meados de março houve uma alteração das linhas que servem de referência para as diferentes maturidades da dívida portuguesa. No prazo a dez anos, o juro chegou a superar os 4,3%, o nível mais elevado desde o tempo da troika. Mas, desde então, a correção em baixa tem sido tão evidente que levaram os analistas do Commerzbank a considerar que as obrigações portuguesas estão na moda.
Os juros descem em toda a linha. Na maturidade a cinco anos, a taxa exigida pelos investidores seguem nos 1,4%, o valor mais baixo desde janeiro de 2016. Entretanto, também o risco de Portugal — medido pelo diferencial entre a taxa a dez anos portuguesa e a taxa a 10 anos alemã — mantém-se em queda acentuada, seguindo no patamar mais baixo desde março de 2016.
Juros baixam aquém dos 3%
Há vários fatores que ajudam a explicar este movimento de descompressão em torno do mercado de dívida português. Desde logo, as boas notícias na frente económica. A economia acelerou no primeiro trimestre do ano e deverá manter um bom ritmo de crescimento no segundo trimestre, isto depois de Portugal ter encerrado 2016 com um défice de 2%. Este enquadramento económico mais favorável ajudou a Comissão Europeia a recomendar a saída do país do Procedimento por Défice Excessivo, contribuindo para a melhoria da imagem internacional.
“As dinâmicas surpreendentemente positivas nos fundamentais (isto é, forte crescimento económico e défice mais baixo em 2016) e o percurso mais moderado do Governo do que inicialmente temíamos (não há mais reversões nas reformas) são os fatores dominantes”, frisou Michael Leister, do Commerzbank.
Mas há quem relativize o brilharete doméstico e enfatize o cenário internacional como principal fator que tem favorecido esta queda dos juros. “Em termos globais, o mercado tem estado em grande descompressão em termos de risco. Isto determina tudo o resto. Em Lisboa, assume-se muitas vezes os desenvolvimentos domésticos como críticos. Não são. A menos que sejam muito significativos. E os desenvolvimentos do quotidiano como o orçamento não são movers“, salientou Ciaran O’Hagan, diretor do Société Générale.
Faltam os ratings
Este mínimo nos juros surge no dia em que é anunciado um novo máximo na dívida pública. De acordo com o Banco de Portugal, o endividamento das administrações públicas superou os 247 mil milhões de euros em abril, depois de novo aumento de 3,9 mil milhões de dívida por causa das emissões de títulos e das OTRV.
É justamente a questão relacionada com a sustentabilidade da dívida pública que mais tem colocado um travão na melhoria do rating atribuído pelas principais agências de notação de crédito do mundo, Moody’s, Standard & Poor’s e Fitch. Estas agências classificam a dívida portuguesa num patamar considerado “lixo”, o que impede que os juros baixem ainda mais.
Embora os principais responsáveis políticos tenham manifestado otimismo em relação a uma subida da notação já em setembro, o facto de as agências manterem uma outlook estável não deixa grande margem para que Portugal saia do “lixo” este ano.
Dívida pública continua a subir
(Notícia atualizada às 15h40)
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