Na sombra do Brexit, líderes europeus avançam na defesa
Mesmo sob a sombra do Brexit, o Conselho Europeu está a ser marcado por otimismo e avanços rápidos em áreas em que o Reino Unido sempre foi mais reticente, como a união para a defesa.
O ambiente é de otimismo no Conselho Europeu destes dois dias que junta em Bruxelas os líderes europeus. Apesar da sombra do Brexit, os chefes de Estado e de Governo dos 27, aos quais se juntou a primeira-ministra Theresa May, encontraram-se ontem, quinta-feira, na capital belga para o primeiro de dois dias de conversações conjuntas sob um ambiente alegre. Houve um passo “histórico” para a criação de uma força militar conjunta e uma resolução sobre o clima.
“Este é o 80.º Conselho Europeu em que participo, seja como primeiro-ministro ou como presidente do Conselho Europeu”, disse ontem Donald Tusk, antigo primeiro-ministro da Polónia. “Mas nunca tive uma sensação tão forte de que as coisas estão a correr melhor”, garantiu.
Citado pelo Politico, o presidente do Conselho Europeu assinalou que “o otimismo deve ser muito cauteloso, mas temos boas razões para falar sobre ele. Entre elas, o crescimento económico em todos os países da União Europeia, a queda do desemprego com o maior número de pessoas empregadas alguma vez registado, o acordo financeiro com a Grécia, o crescimento do sentimento pró-Europeu nas últimas semanas, de acordo com as sondagens, as derrotas eleitorais de partidos anti-europeus e vitórias de líderes políticos que estão 100% com a União Europeia, desde a Bulgária e Áustria até à Holanda, claro, a França”.
May desilude na proposta sobre cidadãos europeus
Quais os principais temas na cimeira de líderes? O Brexit, claro, como a presença de Theresa May não deixa de sublinhar, é um deles. As tensões pareceram começar a aliviar-se, com a primeira-ministra a apresentar uma proposta claramente criada para apaziguar os ânimos europeus, ao oferecer uma solução para os cerca de três milhões de cidadãos europeus que residem no Reino Unido.
A solução foi elogiada por Angela Merkel, chanceler alemã, como “um bom primeiro passo”. No entanto, Donald Tusk não gostou da ideia, que disse ser “abaixo das expectativas” e que arriscaria “piorar a situação dos cidadãos”. Também Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, chamou à ideia “insuficiente”.
Ainda no âmbito do Brexit, os líderes europeus conseguiram, à margem da cimeira, acordar um modelo para escolher quais os países que irão acolher as agências europeias com sede em Londres, a Agência Europeia do Medicamento e a Autoridade Bancária Europeia. O método, inicialmente criticado pelos países mais periféricos, funciona um pouco como o da Eurovisão — através da atribuição de pontos por cada Estado-membro em diferentes voltas.
Um “passo histórico” na Defesa
Além disto, os Estados-membros aproveitaram para dar passos em frente em áreas onde o Reino Unido sempre foi considerado uma força opositora. Um plano de Defesa comum, que foi criado pelos quatro países centrais Alemanha, França, Espanha e Itália, dá início a uma espécie de Europa a várias velocidades, já que os países poderão decidir juntar-se ao programa caso queiram, sem que a relutância de uns impeça outros. De acordo com uma fonte do Politico, o plano recebeu a concordância de todos “em cinco minutos”.
O projeto é a continuação da resolução tomada na Comissão Europeia de criar um fundo de 1,5 mil milhões de euros anuais para financiar a defesa conjunta da União Europeia.
Para Angela Merkel, que falou aos jornalistas, “é um exemplo de uma área em que avançámos muito depressa nos últimos meses, e conseguimos progresso significativo”. Para Donald Tusk é um “passo histórico”, e os Estados-membros começarão agora a definir quais os compromissos e critérios em que concordam, para começarem a cooperar nesta área. Os líderes também encontraram acordos noutras áreas, incluindo uma decisão de prolongar as sanções contra a Rússia durante mais seis meses.
Um renovar dos votos do Acordo de Paris
Numa resolução conjunta, o Conselho Europeu também aproveitou para falar de clima. O compromisso é de “aplicar totalmente e rapidamente o Acordo de Paris, de forma a contribuir para o cumprimento dos objetivos climáticos e continuar a liderar o combate contra as alterações climáticas”.
A decisão é significativa numa altura em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, decidiu retirar o país, um dos mais poluentes do mundo, do Acordo de Paris, passando a ser um de três países que não participam. Os outros dois são a Síria e o Nicarágua, que não assinou o Acordo em protesto por considerar que este não era exigente o suficiente.
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