Rating fora do lixo? A DBRS é mais branda com Portugal face aos outros países
Estudo sugere que Portugal beneficia de tratamento especial da DBRS. É um critério qualitativo pouco claro que ajuda a manter o rating português acima de lixo.
Se as três principais agências de rating mundiais classificam a dívida portuguesa como “lixo”, como é que a DBRS dá uma melhor nota de investimento a Portugal? Felizmente para o nós, a agência canadiana é mais branda em relação a Portugal do que com outros países, diz um estudo.
Ratings da dívida pública são importantes na medida em que determinam o nível de risco de um país. Quanto mais baixo o rating atribuído por uma agência, maior será o prémio que os investidores cobram para comprar obrigações de qualquer Governo, com maior prejuízo para os contribuintes. No caso de Portugal é ainda mais decisivo. Sem a avaliação da DBRS, as obrigações nacionais estariam automaticamente desqualificadas do programa de compra de dívida do Banco Central Europeu (BCE), que tem funcionado como uma rede de segurança para nós.
Ao contrário da agência canadiana, as três maiores agências mundiais — Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch — mantêm Portugal num nível considerado “lixo”. Mas como explicar estas diferenças nas avaliações das agências de rating se os números do crescimento económico, da elevada dívida pública, do malparado da banca e os desafios do Governo são os mesmos para todas?
Um estudo sobre a metodologia de análise e decisões de rating da DBRS demonstrou que a agência canadiana é mais benévola em relação a Portugal do que as outras agências de notação financeira. Mais: Portugal recebe mesmo um tratamento mais favorável dos analistas daquela agência do que os outros países.
“Tanto as conclusões qualitativas como empíricas atestam a DBRS com um comportamento de classificação comparativamente branda com Portugal – em comparação com outras agências de rating, bem como nas decisões de classificação da DBRS em relação a outros países”, concluíram Annika Luísa Hofmann, Miguel Ferreira e João Lampreia. São eles os autores do estudo que foi publicado no Gabinete de Estratégia e Estudos (GEE) do Ministério da Economia.
"Tanto as conclusões qualitativas como empíricas atestam a DBRS com um comportamento de classificação comparativamente branda com Portugal – em comparação com outras agências de rating, bem como nas decisões de classificação da DBRS em relação a outros países.”
Subjetividade pouco transparente beneficia Portugal
No paper, os autores analisam o método de avaliação da classificação dos ratings soberanos da DBRS. Em relação a Portugal, concluiu o estudo, os maiores riscos identificados pela agência canadiana tem a ver com a Gestão Orçamental e Política e Dívida e Liquidez. E é da categoria Ambiente Político que “emana um momentum positivo”.
“O compromisso político com a consolidação orçamental é identificado [pela agência] como uma justificação qualitativa impressionante na avaliação de investimento de Portugal”, apontam os autores, que alertam, porém, para a falta de transparência da metodologia do rating da DBRS em relação a este critério subjetivo que favorece Portugal de forma decisiva.
“A DBRS fornece uma avaliação qualitativa sobre o Ambiente Político nos seus relatórios de rating, mas a justificação e transparência desta categoria não é, contudo, satisfatória. (…) O aspeto de classificação atualmente mais decisivo, portanto, está subjacente a uma avaliação totalmente subjetiva, possibilitando potenciais alterações de classificação cruciais em grande parte incompreensível para terceiros”, consideram os autores.
Deste modo, concluem: “Em média, o rating objetivo de Portugal é inflacionado subjetivamente numa nota”. Ou seja, não fosse a avaliação subjetiva dos analistas canadianos e Portugal também era classificado como investimento especulativo pela DBRS.
"Em média, o rating objetivo de Portugal é inflacionado subjetivamente numa nota.”
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