Yupido: “Isto não é uma empresa fantasma. Nós existimos”
Responsável da Yupido, a tecnológica que diz valer 29 mil milhões de euros, revelou ao ECO que a empresa quer registar 42 patentes. A empresa está disponível para falar com a Polícia Judiciária.
A Yupido não faz por menos. São nove pessoas em cargos executivos, três conselheiras, um presidente e uma vice-presidente da mesa da Assembleia Geral. Em conjunto, fazem a empresa com o maior capital social em Portugal: 28,8 mil milhões de euros, valor que fez manchetes nos jornais da semana passada e que despertou a atenção do Ministério Público (MP) e da Polícia Judiciária (PJ).
Depois de várias tentativas, o ECO conseguiu, finalmente, chegar à fala com Francisco Mendes, o porta-voz da empresa, que acabou por prestar alguns esclarecimentos adicionais relativamente ao que a comunicação social já apurou. Mas antes, importa esclarecer que, como o ECO avançou em exclusivo, a avaliação multimilionária da Yupido não corresponde a dinheiro em cash: assenta antes num ativo intangível que o ECO veio a descobrir ser uma “plataforma digital inovadora” de media com “algoritmos avançados de computação”, segundo a empresa.
“Já passámos a fase de protótipo. Já temos praticamente a plataforma a funcionar, pelo menos uma das plataformas. Temos outra que também está a funcionar”, revelou Francisco Mendes, da Yupido. Questionado se essas plataformas são as duas marcas que a Yupido registou no INPI (a Quaquado e a Kuaboca), o porta-voz adiantou: “Não, são outras duas marcas que ainda não foram registadas. Essas são os produtos que vamos lançar em breve. Mas estas marcas que estão agora registadas servem também para uma estrutura de distribuição e uma estrutura de conjugação de comunicação”.
Durante a conversa, Francisco Mendes hesita. Justifica-se com os contratos de confidencialidade que todos os membros da Yupido terão assinado. Tratam-se, alegadamente, de tecnologias nunca antes vistas e existem patentes que ainda não foram licenciadas. “Não podemos mesmo falar sobre o assunto”, disse. Mas explicou que a Yupido está a “trabalhar neste momento no desenvolvimento de várias patentes” e que já estarão na fase de licenciamento. “Não são muitas, são cerca de 42 patentes em que nós estamos a trabalhar”, revelou.
Não posso descrever algoritmos na comunicação social, porque isso põe em risco o nosso trabalho.
Uma onda de mediatismo indesejada
As notícias sobre o capital social da Yupido terão apanhado todos de surpresa. Não estavam à espera que os 28,8 mil milhões de euros viessem a representar um problema, até porque, garantem, está tudo legal — e existe um relatório de um experiente revisor oficial de contas, com 50 anos de carreira, que garante que a plataforma da Yupido tem mesmo esse valor.
“Neste momento, temos a família de algumas pessoas perturbada com esta situação, temos uma série de questões que não era altura para responder, porque não estamos, nesta fase, preparados para apresentar o nosso projeto. E é extremamente difícil dar respostas que efetivamente esclareçam, de forma efetiva, as questões das pessoas”, confessou Francisco Mendes.
Depois, desabafou: “É triste perceber que isso está a acontecer, é triste também perceber que, a cada comunicação que se faz, há uma distorção constante da palavra e há sempre uma conotação negativa associada ao projeto onde nunca incomodámos ninguém, nunca fizemos mal a ninguém. Já apareceram coisas grotescas, como [acusarem-nos de] branqueamento de capital.”
Nunca incomodámos ninguém, nunca fizemos mal a ninguém. Já apareceram coisas grotescas, como [acusarem-nos de] branqueamento de capital.
Yupido disponível para esclarecer tudo à PJ
Posto isto, e face às notícias que dão conta de que a Polícia Judiciária (PJ) está “a analisar” o caso, a Yupido tomou a iniciativa de contactar as autoridades, disponibilizando-se a prestar esclarecimentos.
“Já comunicámos à PJ, enviámos um email e vamos enviar também uma carta registada, a disponibilizarmo-nos para esclarecer qualquer assunto que a PJ possa ter. Para nós, também é fundamental esclarecer que não temos rigorosamente nada com que nos preocupar, porque foi tudo feito dentro da regularidade e não cometemos nenhum crime”, apontou Francisco Mendes.
E voltou a criticar a onda de atenção mediática que rebentou sobre a Yupido. “Tem aberto os jornais da noite com informações da PJ que está a investigar uma empresa fantasma. Isto não é uma empresa fantasma. Nunca foi. Nós existimos, somos pessoas, trabalhamos diariamente de forma árdua e não queremos ver o nosso trabalho assim. As nossas coisas, nesta fase, são assim porque não queremos estar a comunicar informação relativa aos nossos projetos. Isso virá na altura correta. Indicar uma coisa nesta fase é perigoso para nós porque nesta fase, outros concorrentes vão ver o que estamos a fazer”, disse o porta-voz da Yupido.
"Já comunicámos à PJ (…) a disponibilizarmo-nos para esclarecer qualquer assunto que a PJ possa ter. (…) É fundamental esclarecer que não temos rigorosamente nada com que nos preocupar, porque foi tudo feito dentro da regularidade e não cometemos nenhum crime.”
Tecnologia da Yupido é mais do que televisão
Questionado uma vez mais sobre o que é a tecnologia secreta da Yupido, que vale 28,8 mil milhões de euros segundo o revisor oficial de contas António Alves da Silva, Francisco Mendes disse: “Passa não só por televisão. É bastante mais alargado do que propriamente a televisão. Mas passa pela transmissão de imagem, passa por uma série de plataformas de comunicação e de transferência e de distribuição de conteúdos e não só.”
Quanto aos “algoritmos avançados de computação”, que segundo o revisor oficial de contas servem propósitos de diminuir os consumos de espaço dos conteúdos e a transferência de dados, bem como garantir a proteção dos arquivos e dos direitos de utilização, Francisco Mendes confirmou: “Passa efetivamente por uma redução substancial do custo das infraestruturas, como é óbvio. Mas a tecnologia em si eu não queria abordá-la dessa forma”. E recusou avançar mais detalhes: “Não posso descrever algoritmos na comunicação social, porque isso põe em risco o nosso trabalho”.
Isto não é uma empresa fantasma. Nunca foi. Nós existimos, somos pessoas, trabalhamos diariamente de forma árdua e não queremos ver o nosso trabalho assim.
Vaga de badwill não afeta o potencial
Apesar de lamentar toda a desconfiança que se gerou em torno da Yupido, o porta-voz não perde a confiança no potencial que tem a plataforma da empresa. “Tenho a certeza de que o trabalho de todos nós é muito bom e que tem efetivamente um potencial muito grande. Não tenho dúvida de que, apesar destas notícias, as pessoas vão querer utilizar os nossos serviços e não acredito que quando lançarmos o serviço, a imagem do serviço possa ser abalada por estas notícias. Não acredito de todo”, referiu.
E acrescentou: “Efetivamente, queremos mudar o panorama tecnológico, temos intenção que esse panorama tecnológico comece a ser mudado em Portugal. Não vamos lançar [a empresa] só em Portugal, mas queremos que as operações decorram a partir de Portugal. Essa é a nossa verdadeira intenção. Queremos que mais empresas se juntem a nós, que venham para Portugal e acreditem que é possível. Já trabalhei em muitos sítios, já trabalhei em várias partes do planeta e Portugal é efetivamente um paraíso. E é importante aproveitar esse paraíso.”
Agora, e para já, é tempo de esperar. “As pessoas que estão no projeto, essas sim, estão abaladas. E estão efetivamente cansadas e angustiadas nos últimos dias. É muito esforço, muito tempo, muito tempo em condições complicadas, para serem tratadas desta maneira. Não estamos satisfeitos com a situação. Não é uma situação boa. Mas vamos esperar, temos de esperar. Compreendemos a situação, compreendemos a indignação das pessoas, é perfeitamente natural. E queremos satisfazer as dúvidas das pessoas e cumprir, de forma objetiva, com o nosso compromisso que fizemos na nossa carta de intenções”, concluiu.
"Não estamos satisfeitos com a situação. Não é uma situação boa. Mas vamos esperar, temos de esperar. Compreendemos a situação, compreendemos a indignação das pessoas, é perfeitamente natural.”
Os holofotes incidiram na Yupido na semana passada, quando o ECO revelou existir uma empresa com capital social que vale duas vezes a Galp ou nove vezes o BCP em valor de mercado. Essa empresa é a Yupido, que, como a investigação do ECO veio a revelar, realizou um aumento de capital em 2016, passando de um capital social de cerca de 240 milhões de euros (montante que a Yupido terá em cash num depósito à ordem) para 28,8 mil milhões — o resultado da incorporação de um “ativo intangível” que se veio a descobrir tratar-se de uma nova tecnologia para o setor dos media.
Infografia: Os nomes os números que fazem a Yupido
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Yupido: “Isto não é uma empresa fantasma. Nós existimos”
{{ noCommentsLabel }}