Rutura na Altice: CEO Michel Combes está de saída
O gestor francês de 55 anos está de saída da liderança da dona da Meo. Sai em rutura com Patrick Drahi e Armando Pereira, apurou o ECO.
Michel Combes está de saída do cargo de presidente executivo do grupo Altice, numa semana em que as ações da dona da Meo perderam um terço do seu valor. O ECO apurou que o gestor sai em rutura com Patrick Drahi e Armando Pereira, os fundadores da companhia que detém a Meo em Portugal.
De acordo com a Bloomberg e com o jornal Financial Times [acesso pago], os acionistas também terão dúvidas quanto à capacidade de Michel Combes em reduzir a dívida da empresa, que rondará os 50 mil milhões de dólares. Será substituído por Dexter Goei, atual líder da Altice USA, que acumulará as duas funções, segundo a agência. Dennis Okhuijsen, até aqui o diretor financeiro do grupo, torna-se também líder da Altice Europa.
O deteriorar da relação entre Michel Combes e os donos do grupo franco-israelita já tinham sido notícia no final de setembro deste ano. O jornal francês La Tribune escreveu, citando duas fontes próximas da Altice, que devido aos sucessivos resultados pouco satisfatórios, Combes poderia ter os dias contados na empresa. Na altura, a Altice classificou estas informações como “pura fantasia”. O grupo apresentou receitas de 5,75 mil milhões de euros no terceiro trimestre, enquanto as estimativas apontam para um prejuízo na ordem dos 236 milhões de euros no mesmo período, segundo analistas sondados pela Bloomberg. Em Portugal, as receitas com a Meo também caíram mais de 3%, para 566,2 milhões.
Além disso, num comunicado aos mercados na sexta-feira passada, a Altice emitiu um profit warning, assumindo que os resultados do ano de 2017 deverão ficar no “limite mínimo” das suas previsões. Desde então, os títulos já desvalorizaram mais de 34%, de 16,16 para 10,66 euros.
Saída de Combes em linha com os “interesses dos fundadores”
Numa nota publicada no site da empresa, o grupo de Patrick Drahi confirma a saída de Michel Combes de todos os cargos que desempenhava na empresa, abandonando ainda o conselho de administração da SFR, operadora de telecomunicações em França, detida pela Altice. Face à renúncia, a companhia indica que deu início a um processo de “reorganização da gestão do grupo”.
“A nova gestão e estrutura de governance é desenhada para melhor implementar a estratégia da Altice, criar uma mais clara prestação de contas entre a gestão e melhorar o desempenho operacional e financeiro do negócio. Alinha-se totalmente com os interesses dos fundadores e gestores da empresa, ambos com significativa propriedade no grupo, e com a base pública de acionistas”, lê-se na mesma nota.
Mas as mudanças de gestão não se ficam por aqui. O português Armando Pereira, braço direito de Patrick Drahi e um dos fundadores da Altice, passa a diretor operacional da Altice Telecom, enquanto Alain Weill, líder do departamento de media da Altice, passa a liderar a operadora SFR. “Esta estrutura representa um regresso ao núcleo organizacional que criou o sucesso do grupo Altice. Irá providenciar uma liderança direta e clara das operações europeias para libertar o seu potencial e continuar a suportar a Altice USA”, refere o comunicado.
Patrick Drahi: Combes foi “uma parte importante da história da Altice”
Apesar das informações que dão conta da rutura entre Michel Combes e os fundadores da Altice, na nota publicada esta quinta-feira, Patrick Drahi refere que Michel Combes representou “uma parte importante da história da Altice” e agradece-lhe o seu “contributo, integridade, lealdade e amizade”. Michel Combes, por sua vez, agradece a Drahi e à equipa “a confiança depositada ao longo dos últimos anos”.
Em Portugal, o grupo Altice detém Meo desde 2015, empresa que comprou à brasileira Oi por 5,789 mil milhões de euros. Dexter Goei, que substitui Combes, esteve envolvido no processo. A empresa está focada em desenvolver uma estratégia de convergência entre telecomunicações, media e publicidade e, este verão, ofereceu 440 milhões de euros pela Media Capital, a dona da TVI. O negócio ainda está sujeito à aprovação dos reguladores e tem merecido forte oposição por parte dos players concorrentes dos dois setores.
Mas, como já referido, as contas do grupo estarão a provocar nervosismo nos acionistas — sobretudo a dívida avultada da empresa. A Bloomberg cita Javier Borrachero, analista da francesa Kepler Cheuvreux, que considerou esta segunda-feira que o negócio da Altice em França não estará a correr como o esperado, que a estratégia não estará a funcionar, que as receitas e o EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) estão a cair e que a SFR está a perder clientes.
Aliás, a queda nas receitas registada no último trimestre foi explicada pelo grupo com atrasos na reestruturação dos negócios em França, onde a empresa já detém telecomunicações e media. Combes, na sexta-feira, admitiu que, este ano, só será alcançado “cerca de um terço do objetivo de 400 milhões de euros” que a empresa esperava poupar no decorrer dos doze meses.
(Notícia atualizada às 23h50 com mais informação)
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