Juros em mínimos dão bónus recorde nas obrigações de retalho
Arranca esta quarta-feira o período de subscrição das populares OTRV. Estes títulos vão pagar a taxas mais baixas de sempre, mas o prémio sobe. Porquê? A culpa é dos juros baixos. E das comissões...
O bom momento de Portugal nos mercados de dívida está longe de ser um notícia 100% positiva para as famílias portuguesas que procuram poupar através dos produtos do Estado. Com os juros portugueses a bater mínimos históricos, também a taxa das novas Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV) caiu para o nível mais baixo de sempre. Esta circunstância levou o Governo a dar um bónus recorde nesta emissão. Um prémio que duplica para compensar os pequenos investidores face aos elevados encargos com as comissões dos bancos.
Arranca esta quarta-feira o período de subscrição das OTRV, títulos de dívida que podem ser comprados nos balcões dos bancos portugueses. Têm a maturidade de cinco anos e o juro oferecido de 1,1% é o mais baixo de todas as emissões já realizadas.
A baixa na remuneração das OTRV explica-se com a descida dos juros portugueses nos mercados de dívida, motivo pelo qual a oferta de produtos de poupança do Estado sofreram uma revisão em baixa nas taxas que oferecem — além das OTRV, as taxas dos certificados do Tesouro também baixaram no início do mês. Por exemplo, Portugal consegue neste momento financiar-se a cinco anos com uma taxa de juro que não excede os 0,7%.
Porém, para manter a atratividade destas obrigações, o IGCP vai pagar o prémio mais elevado até hoje. Este prémio calcula-se com a diferença entre as taxas das OTRV e aquelas que as obrigações do Tesouro observam no mercado: situa-se nos 0,4 pontos, mais do dobro da primeira emissão de sempre, realizada em maio do ano passado.
Prémio da OTRV duplica
Fonte: Bloomberg e IGCP
Para Filipe Silva, diretor da gestão de ativos do Banco Carregosa, o aumento do prémio não se justifica unicamente com a taxa de 1,1%. “Se olharmos para as alternativas, mesmo na dívida, as emissões equivalentes pagam menos. As OTRV emitidas em julho deste ano, que vencem em agosto de 2022, pagam 0,54%. A emissão atual, que atinge a maturidade apenas quatro meses mais tarde, em dezembro de 2022, paga quase o dobro“, explica.
"Se olharmos para as alternativas, mesmo na dívida, as emissões equivalentes pagam menos. As OTRV emitidas em julho deste ano, que vencem em agosto de 2022, pagam 0,54%. A emissão atual, que atinge a maturidade apenas quatro meses mais tarde, em dezembro de 2022, paga quase o dobro.”
“O problema está nos custos cobrados pelos bancos que, se forem significativos, podem anular os ganhos do cliente. É uma conta que cada cliente deve fazer”, sinaliza o Filipe Silva.
Ao contrário dos certificados, sejam de aforro ou do Tesouro, as OTRV comportam encargos com comissões bancárias (relacionadas sobretudo com custódia dos títulos) que absorvem a maior parte dos rendimentos que o pequeno investidor consegue extrair desta emissão.
Cada banco tem o seu preçário e as comissões variam consoante a instituição e terá de ter em atenção se compensa mais subscrever as OTRV num lado do que noutro. Além disso, importa sublinhar que há situações em que investir nestes títulos pode representar uma perda. Tomando como exemplo a última emissão, cuja taxa era de 1,6%, um investimento abaixo de 5.000 euros dificilmente resultou em ganhos palpáveis para os investidores que se estreiam neste tipo de aplicações.
"O problema está nos custos cobrados pelos bancos que, se forem significativos, podem anular os ganhos do cliente. É uma conta que cada cliente deve fazer.”
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