Dívida nacional foi a estrela na Zona Euro. Continuará a brilhar?
Obrigações portuguesas tiveram um dos melhores desempenhos na Zona Euro, com economia a puxar o lustro aos títulos nacionais. Até quando vai durar o bom momento?
A dívida portuguesa brilhou em 2017, com o bom momento da economia a puxar o lustro às obrigações nacionais no mercado secundário. Portugal foi mesmo uma das estrelas da Zona Euro. Mas os analistas consideram que juros nacionais podem ter já atingido o ponto mínimo. 2018 será um ano de subida das taxas portuguesas com o Banco Central Europeu (BCE) a determinar o rumo dos acontecimentos.
As obrigações do Tesouro a dez anos entraram em 2017 a negociar com uma taxa implícita de aproximadamente 4%. Vão agora fechar o ano nos 1,838%. São menos 200 pontos em apenas um ano. Um desempenho que só é batido pela Grécia, de acordo com os dados da Bloomberg.
Portugal tem segunda maior queda nos juros
Fonte: Bloomberg
Muito se passou no país para uma queda do juro acentuada em apenas 12 meses. Foi tão acentuada que permitiu até que Portugal passasse a comportar o mesmo risco que Itália, um acontecimento que não foi bem recebido em Roma…
“Ambas as economias apresentam o mesmo nível de dívida face ao Produto Interno Bruto (PIB), em torno de 130%. Mas a economia portuguesa parece apresentar um maior dinamismo, está a crescer um pouco mais do que a economia italiana. Outra coisa que têm em comum: o sistema bancário nos dois países tem problemas com os elevados montantes de crédito malparado”, sublinhou o economista-chefe da Schroders, Keith Wade, em entrevista ao ECO. “Há muitas semelhanças entre Portugal e Itália e não me surpreende que apresentem o mesmo nível de risco”, reforçou o especialista.
Um dos principais fatores para esta convergência teve a ver com o desempenho da economia nacional. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu a bom ritmo ao longo do ano, o que permitiu ao Governo alcançar melhorias substanciais na frente orçamental e da dívida pública, dois dos indicadores que mais pesam na avaliação de risco dos investidores e das agências de rating.
"Ambas as economias apresentam o mesmo nível de dívida face ao Produto Interno Bruto (PIB), em torno de 130%. Mas a economia portuguesa parece apresentar um maior dinamismo, está a crescer um pouco mais do que a economia italiana. Outra coisa que têm em comum: o sistema bancário nos dois países tem problemas com os elevados montantes de crédito malparado.”
Aliás, em relação às agências de notação financeira, os desenvolvimentos em 2017 também foram decisivos para uma contração tão evidente das taxas da dívida. Primeiro foi a Standard & Poor’s a retirar o país do nível “lixo”, decisão anunciada em setembro. Já em dezembro foi a vez da Fitch a seguir o mesmo caminho. E até surpreendeu com uma melhoria do rating português em dois níveis.
Tudo isto aconteceu num ano marcado pela presença de um grande comprador nos mercados. Falamos do BCE, que já detém mais de 30 mil milhões de euros em títulos de dívida do Governo nacional. Foi uma rede de segurança para países que saíram recentemente de programas de resgate. O início de 2018 traz mudanças: Draghi reduziu para metade as compras mensais a partir de janeiro, dos 60 mil milhões para os 30 mil milhões, com o plano a terminar em setembro.
É aqui que residem as maiores dúvidas em relação à evolução dos juros da dívida nacional no próximo ano. Até quando vamos ter os juros portugueses em mínimos? “Respondo-lhe a esta questão com o contexto europeu”, disse Keith Wade. “Os juros europeus deverão voltar a crescer no próximo ano, sobretudo por causa do fim do quantitative easing do BCE. Devemos esperar uma subida dos juros das obrigações alemãs e isso vai impulsionar os juros em todo o lado. Talvez tenhamos já atingido o nível mais baixo“, considerou o responsável de uma das maiores gestoras de ativos do mundo.
"Os juros europeus deverão voltar a crescer no próximo ano, sobretudo por causa do fim do quantitative easing do BCE. Devemos esperar uma subida dos juros das obrigações alemães e isso vai impulsionar os juros em todo o lado. Talvez tenhamos já atingido o nível mais baixo.”
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