FMI alerta para impacto do fim dos estímulos do BCE nos bancos mais fracos da Zona Euro
Bancos mais dependentes do dinheiro barato do BCE vão sofrer mais com o fim dos estímulos, admite FMI, que diz que Mario Draghi deve ser cuidadoso na retirada dos estímulos monetários.
Bancos com maior dependência do dinheiro barato do Banco Central Europeu (BCE) vão sentir sérias dificuldades para se financiarem no mercado assim que o banco central retirar de cena todos os estímulos monetários que foi introduzindo no sistema nos últimos anos para salvar a Zona Euro.
É o Fundo Monetário Internacional (FMI) quem deixa o alerta para o impacto do fim das medidas excecionais de liquidez (incluindo os programas de compra de dívida e as operações de cedência de liquidez denominadas TLTRO) promovidas pelo BCE no setor financeiro da região da moeda única.
“É importante haver um planeamento cuidadoso quanto à retirada das medidas de estímulo dado que isto vai ter múltiplos efeitos na liquidez do mercado de títulos assim como nos bancos com capacidade mais limitada para se financiar no mercado de financiamento“, diz o Fundo no relatório divulgado esta quinta-feira e onde faz uma avaliação do setor financeiro do bloco do euro.
“Os bancos com maior dependência do financiamento do BCE poderão enfrentar problemas em substituir a dívida barata do banco central por financiamento no mercado mais caro”, avisam os especialistas daquele instituição.
"Os bancos com maior dependência do financiamento do BCE poderão enfrentar problemas em substituir a dívida barata do banco central por financiamento no mercado mais caro.”
Os bancos portugueses estiveram especialmente dependentes da instituição liderada por Mario Draghi nos últimos anos. Essa dependência chegou a superar os 60 mil milhões de euros no pico da crise da dívida, quando Portugal e as empresas e bancos nacionais sentiram sérias dificuldades no acesso ao mercado. Mas esse financiamento junto do banco central chega aos dias de hoje a rondar os 20 mil milhões de euros, isto depois de a Caixa Geral de Depósitos ter devolvido no início do mês os últimos 2.000 milhões de euros que tinha pedido à instituição, marcando a relativa normalização do acesso aos mercados por parte de Portugal.
O FMI diz que por causa das TLTRO, as operações de refinanciamento de prazo alargado direcionada introduzidas pelo BCE em 2014 com o objetivo de financiar a banca em condições atrativas para estimular o crédito à economia, os bancos deixaram de ter necessidade de se financiar nos mercados, como acontecia até então. O problema é que o dinheiro barato do BCE não vai durar para sempre.
“O maior efeito [do fim das TLTRO] será no custo de financiamento dos bancos, especialmente dos mais fracos”, consideram os especialistas. “É incerto se os bancos deverão ser capazes de substituir este financiamento barato por financiamento no mercado a custos razoáveis”, dizem ainda.
"O maior efeito do fim das TLTRO será no custo de financiamento dos bancos, especialmente dos mais fracos.”
Por outro lado, o Fundo alerta para o fim dos programas de compras de títulos (PSPP, CBPP, CSPP, entre outros) e como isso vai ter impacto negativo na composição do balanço dos bancos. Os títulos que outrora estavam nas mãos do BCE (dívida pública e privada, obrigações hipotecárias, entre outros títulos) vão passar para as instituições financeiras, reduzindo-lhes a sua posição de liquidez.
Os técnicos do FMI lembram, porém, que não foram tidos em conta alguns fatores, como a rapidez da normalização da política monetária. “Na prática, isto deverá demorar vários anos, conferindo aos bancos tempo para se ajustarem”, admitem.
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