Portugal está bem? Sim, mas enfrenta estes seis riscos, aponta FMI

Apesar do crescimento "robusto", a economia portuguesa não está isenta de riscos. O FMI aponta seis. A deterioração das condições do mercado e a propagação do protecionismo são os mais prováveis.

Há nuvens potencialmente carregadas no horizonte da economia portuguesa. Ainda que tenha crescido de forma “robusta” no último ano, Portugal está exposto a seis ameaças significativas, alerta o Fundo Monetário Internacional, esta quinta-feira. O agravamento das condições nos mercados e a propagação de políticas protecionistas um pouco por todo o mundo são identificadas pelo organismo liderado por Christine Lagarde como as principais ameaças.

“[Apesar de se notar] que, a curto prazo, as perspetivas de crescimento mantém-se positivas, os riscos externos implicados na desaceleração do crescimento dos parceiros comerciais e dos mercados financeiros aumentaram“, lê-se no relatório da consulta de 2018, ao abrigo do Artigo IV, para Portugal.

No documento, o FMI aconselha Portugal a reforçar a sua “resiliência” aos eventuais choques e a reduzir “a sua vulnerabilidade”. Deixa ainda recomendações particulares para fazer frente a cada uma dos perigos identificados.

Investidores vão perder confiança?

A probabilidade dos investidores perderem confiança na economia portuguesa é baixa, mas a acontecer teria um impacto significativo, avisa o FMI.

No documento, a entidade sublinha que o afrouxamento do esforço de consolidação orçamental, bem como a reversão de algumas reformas poderiam dar azo a esse afastamento dos investidores, o que resultaria no aumento dos juros da dívida soberana, na redução do investimento estrangeiro e, consequentemente, na subida dos custos de financiamento público e privado.

O que fazer para evitar tal cenário? O organismo de Lagarde recomenda que se aposte em políticas que apoiem o crescimento e promovam o ajustamento orçamental duradouro de modo a catalisar a confiança dos investidores. Aconselha ainda que se evite reverter reformas.

Incerteza externa pode fazer tremer Portugal

São três as ameaças que o FMI considera estarem a pairar sobre a economia portuguesa com probabilidade “média” de se tornarem realidade: o crescimento global ficar abaixo das expectativas, a incerteza geopolítica e as políticas macroeconómicas insustentáveis.

No que diz respeito ao primeiro ponto, a degradação da sustentabilidade das dívidas e os problemas verificados na adoção de reformas estruturais, bem como no ajustamento orçamental e no setor financeiro poderão fazer a Zona Euro crescer menos do que o esperado, reforça o relatório.

Se tal se concretizar, Portugal poderá então ter de enfrentar uma quebra no seu crescimento e investimento. Além disso, tendo em conta que 60% das exportações lusas têm como destino países da moeda única, a balança comercial portuguesa facilmente ficaria desequilibrada, garante a entidade.

Nesse quadro, o FMI recomenda a Portugal que aposte na sua competitividade e que coloque em ordem os seus setores financeiro e empresarial, de modo a promover o investimento e crescimento.

Já no que diz respeito às incertezas geopolíticas, são os riscos de fragmentação no Médio Oriente, África, Ásia e Europa as principais preocupações. A acontecer estas disrupções, o euroceticismo ganharia certamente terreno, o que “levaria à reversão da integração” comunitária. Como evitar a concretizar desse cenário? “[É preciso] acelerar as reformas estruturais para apoiar o investimento e o crescimento”, indica o relatório.

Em terceiro lugar, o FMI refere que em “alguns países sistematicamente importantes” têm sido adotadas medidas, por pressão política, que estimulam o crescimento de forma rápida, mas pouco saudável. Em alguns casos, alerta o organismo, estas medidas poderão mesmo ter um custo na confiança dos investidores, o que poderá, por sua vez, afetar o crescimento global.

Em Portugal, essa ameaça pode concretizar-se na subida abrupta dos juros da dívida soberana, o que impactaria de forma nefasta o crescimento e o sistema financeiro lusos. Para mitigar esse contágio, o FMI aconselha que Portugal normalize a sua banca e reforce as almofadas financeiras de que dispõe.

Políticas protecionistas são monstro mais assustador

À parte de todos estes riscos, o agravamento das condições dos mercados financeiros e a propagação de medidas protecionistas são as ameaças mais graves apontadas pelo FMI. Isto porque, além de terem um impacto “alto”, a probabilidade de acontecerem é, do mesmo modo, elevada.

Por um lado, refere-se que a subida acima das expectativas das taxas de juro norte-americanas poderá promover a degradação dos mercados globais, o que causaria o agravamento dos custos de refinanciamento.

A materialização desse cenário afetaria sobretudo as empresas altamente alavancadas, mas pode ser evitada pelo fortalecimento do sistema bancário, o que acalmaria os investidores.

Por outro lado, o FMI aponta “a ascensão do protecionismo e o recuo do multilateralismo” como um dos perigos mais significativos a enfrentar por Portugal.

No quadro do agravamento das tensões comerciais entre várias potências mundiais (nomeadamente os Estados Unidos, a China e a União Europeia), a entidade de Lagarde entende que o risco do isolacionismo escalar é muito elevado.

“Um ambiente económico mais fraco traria efeitos negativos a economias pequenas como a de Portugal, tanto a curto prazo como a médio prazo”, lê-se no relatório. Nesse sentido, o FMI recomenda a adoção de “políticas macrofinanceiras e estruturais mais fortes” para apoiar o investimento, os ânimos, o crescimento, enfim, a resiliência portuguesa.

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